YouTubers da resistência

Matéria publicada na Revista dos Bancários nº77. Acesse aqui.
Com o objetivo de conscientizar uma legião de seguidores, com canais alinhados ideologicamente à esquerda, jovens estão criando espaços de comunicação para o combate ao obscurantismo promovido pelo governo Bolsonaro. Com espaço próprio na rede social favorita dos brasileiros, o YouTube, os influenciadores promovem o livre debate com internautas de qualquer parte do mundo. Mas, os chamados “youtubers da resistência” enfrentam a pressão virtual financiada pela direita, que tenta calar de forma articulada as vozes que surgem contra os constantes ataques políticos e sociais que afetam os trabalhadores, mulheres, negros e a população LGBTQI+ no Brasil.
Especialistas apontam que o não aproveitamento dos recursos disponíveis na Internet pela esquerda brasileira refletiram no resultado das últimas eleições, na qual a direita elegeu Jair Bolsonaro presidente do Brasil, utilizando as redes sociais de forma intensa, inclusive com uso de robôs. Com base nas fakenews, que não foram suficientemente rebatidas nas redes pela militância da esquerda, os brasileiros elegeram um presidente despreparado, com atitudes ideologicamente contrárias aos princípios da maioria da população, e que conseguiu milhões de apoiadores através da manipulação. 
Diante do cenário político brasileiro e do agravamento da conjuntura do País, comunicadores independentes buscaram ferramentas para fazer o contraponto ao governo Bolsonaro. No embate contra a mídia hegemônica, concentrada nas mãos de cinco famílias, as plataformas digitais, cada vez mais populares no País, tornaram-se fortes aliadas.
De acordo com o estudo YouTube Insights, a rede social teve, nos últimos quatro anos, um crescimento de consumo de 135%, enquanto a televisão cresceu apenas 13%, no mesmo período. Mais de dois bilhões de usuários conectados ao YouTube acessam a plataforma todos os meses. Diariamente, as pessoas assistem mais de um bilhão de horas de vídeo e geram bilhões de visualizações.
Para presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzi Rodrigues, a apropriação de ferramentas de comunicação em ascensão é muito importante no processo de disputa ideológica. “Infelizmente, aprendemos tardiamente a importância das ferramentas digitais para a disputa de mentes e corações. O governo Bolsonaro venceu as eleições com base na mentira disseminada nas redes sociais e não fomos capazes de apresentar a verdade. Agora, precisamos utilizar estes mecanismos para chegar ao maior número de pessoas possíveis e divulgar a produção desses jovens youtubers da resistência”, ressalta Suzi.
No universo digital, a esquerda brasileira pode contar com uma nova geração de influenciadores que estão dispostos a promover o debate de opinião. O historiador e youtuber, professor Jones Manoel, é um desses nomes que buscam novas alternativas para garantir informação de qualidade. No canal Jones Manoel, ele tem 43,9 mil inscritos .
“As redes são fundamentais e a esquerda precisa ocupá-las de maneira mais organizada, planejada, com investimentos e estrutura. São espaços de comunicação para difundir as nossas ideias, o que acreditamos, nossa visão de mundo e nossos autores e autoras de referência. Precisamos usar esses mecanismos para chamar as pessoas a se organizarem. Instigar nelas a vantagem de construir seu sindicato, o movimento popular, partido político de esquerda que se sinta mais à vontade”, afirma Jones.
Do canal Tese Onze, também no YouTube, a socióloga e youtuber Sabrina Fernandes produz conteúdo para 230 mil inscritos. A comunicadora considera seu trabalho como majoritariamente de propaganda, no sentido leninista, trazendo as ferramentas para que as pessoas consigam interpretar a realidade a partir dessas informações colocadas ao alcance da maioria. Debatendo conteúdos simples, do dia a dia do Brasil, mas também temas mais complexos, o diálogo feito por Sabrina busca formar politicamente o seu público, a partir da apropriação dos temas discutidos.
“Com o meu trabalho apresentado no Canal, procuro que as pessoas se tornem sujeitos políticos a partir desse processo, que elas se apropriem desse debate, mas também ajam em cima do que estão consumindo. A partir daí, procuro enfatizar a questão da organização, da militância, da gente colocar a mão na massa, porque também não podemos cair no erro frequente de acreditar que basta realizar apenas a disputa da narrativa nas redes sociais”, comenta Sabrina.
Outros nomes fazem parte desta rede de combate à desinformação, que segue em processo de crescimento na Internet. A drag queen, Rita Von Hunty, é um dos nomes fortes no YouTube. Rita, persona de Guilherme Terreri Lima Pereira, de 28 anos, é professor, formado em artes cênicas e letras. No canal Tempero Drag discute temas sobre política, filosofia e sociologia, atraindo 293 mil inscritos

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi