O Fórum Social Mundial
de Porto de Alegre, realizado de terça-feira (19) a sábado (23),
trouxe reflexões importantes sobre diversos temas de relevância
nacional e mundial, mas a questão da consolidação da democracia no
mundo transpassa todas as demais discussões.
A secretária
de Formação do Sindicato e diretora da Fenae (Federação Nacional
das Associações do Pessoal da Caixa), Anabele Silva, e o diretor do
Sindicato e da CUT , Expedito Solaney, participaram do Fórum.
“O
Fórum é muito amplo, um espaço de formação para diversas áreas.
Mas a questão da democracia traz uma unidade às discussões, pois
sem democracia não conseguiremos avanços na defesa dos direitos
humanos, na luta contra a desigualdade social ou mesmo na defesa da
saúde e da educação”, avalia Anabele.
A diretora conta
que a ameaça de retrocessos nas políticas sociais nos governos da
América Latina foi tema de debate no Fórum. “No primeiro Fórum
Social Mundial, em 2001, vivíamos a construção de governos
progressistas na América Latina. Agora, neste 15º Fórum, a direita
está ganhando espaço e, se não fortalecermos a luta para manter os
avanços sociais, de fato, haverá retrocessos”, comenta
Anabele.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos,
ainda segundo a diretora, deu um “puxão de orelha” nos
movimentos de esquerda, no Fórum: “a esquerda não consegue se
unir e engajar a juventude nos seus debates, enquanto a direita tem
mais facilidade de construir um projeto coletivo”.
Outros
temas de debate foram a criminalização da política – dos
movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos – e a
necessidade de reforma tributária aliada à reforma social. “O
economista Marcio Pochmann ressaltou que a saída para a crise
econômica no Brasil é uma antiga pauta nossa que não avança:
tributar os mais ricos. Proporcionalmente, as empresas pagam muito
pouco imposto, no Brasil. A tributação precisa ser mais
equitativa”, completa Anabele.
Comissão da Verdade –
O também
diretor do Sindicato
Expedito Solaney apresentou
no Fórum o relatório da Comissão Memória, Verdade e
Justiça da CUT, que realizou um trabalho paralelo à Comissão
Nacional da Verdade.
“Durante o regime autoritário
brasileiro, mais de 2 mil sindicatos sofreram repressão militar.
Levantamos os nomes de trabalhadores que foram presos e assassinados
pelo governo militar e que não constam no relatório da Comissão
Nacional da Verdade”, explica Solaney que coordenou a Comissão da
CUT.
Na avaliação do diretor do Sindicato, a constituição
da Comissão Nacional da Verdade foi um passo muito importante, mas o
“relatório final se tornou um excelente documento escrito e
arquivado”. “A sociedade brasileira continua precisando discutir
mais esse tema, os responsáveis pelos crimes não foram punidos, as
vítimas não foram indenizadas e avenidas continuam com nomes de
ditadores”, comenta Solaney.
O dirigente sindical também
participou da mesa que debateu o projeto de lei do Senado 499,
conhecido como lei antiterrorismo. “Trata-se da proposição de
retorno de práticas de repressão e controle do regime autoritário.
A abertura democrática no Brasil foi, de fato, lenta e gradual.
Tanto que passamos 30 anos para constituir a Comissão Nacional da
Verdade. É inadmissível a proposição de retorno ao
autoritarismo”, ressalta Solaney.