Em março de 1964 havia uma real conspiração para derrubar o presidente, armas foram enviadas pelos EUA para sua embaixada no Recife, a quarta frota ancorada na nossa costa, a caserna em movimentos. Enquanto o comício na Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, convocado pelo presidente João Goulart, contava com a participação massiva de mais 200 mil pessoas, trabalhadores na sua maioria. O eixo político do comício foram as reformas de base, (reforma bancária, fiscal, eleitoral, educacional, urbana e agrária) além da assinatura do decreto de expropriação de terras ao lado das rodovias e ferrovias, taxação das remessas de lucros para o exterior e a encampação da refinaria de Capuava à Petrobrás. Foi uma opção estadista, nacionalista, à esquerda, a base prográmatica para tirar o Brasil de uma crise que se alongava desde governo JK, aguçada com a negativa dos EUA em renegociar a divida oriunda dos 50 anos em cinco.
Em meio à crise, Jango optou por fazer uma aliança com os trabalhadores urbanos e rurais, com movimento popular e estudantil. O anúncio das reformas de base eram necessárias para elevar o Brasil ao patamar de nação desenvolvida e também ajudavam a conclusão do mandato de Jango com a marca do desenvolvimento econômico, político e cultural. Jango tinha apoio, segundo pesquisa na época, da maioria do povo para se reeleger presidente nas eleições do ano seguinte, ou seja, em 1965.
O clima era de muita tensão. Os EUA tinham conspirado o tempo todo para derrubar o presidente João Goulart. A elite covarde e mesquinha nunca quis um país onde os trabalhadores e o povo tivessem direitos trabalhistas e sociais. Além de salários dignos, casa, cidade democrática, terra e comida, educação e saúde de qualidade. No 1º de abril de 1964 um golpe militar derruba o presidente, acusando-o de comunista, que o Brasil virou uma republica de sindicalistas. Os tanques de guerra amanheceram com o fatídico 1 º de abril de 64 na frente dos sindicatos cujas direções lutaram apoiaram as reformas de base.
Os desdobramentos dos 21 anos da sangrenta ditadura militar foram dramáticos para o Brasil. Fim da democracia, dos direitos civis, de liberdade de organização e expressão. Repressão, tortura, assassinatos. Fim das eleições democráticas e o Congresso Nacional é fechado, entre outras atrocidades. Depois uma abertura lenta, segura e gradual culminando com colégio eleitoral, que gerou Sarney, que gerou Collor, que gerou FHC e os anos do neoliberalismo, da total subserviência aos EUA.
Março de 2105 – O povo, os trabalhadores, voltam às ruas em março de 2015. A CUT , o MST, a UNE e os movimentos populares fizeram grandes marchas e atos ao longo do mês de março de 2015 para defender os direitos da classe trabalhadora, a democracia e a Petrobrás. No entanto, estamos nas ruas com uma pauta recuada e defensiva. Vencemos as eleições presidenciais de 2014, mas voltamos às ruas reivindicando a manutenção dos direitos da classe trabalhadora, a rigor, reagindo a medidas negativas anunciadas logo no inicio do segundo mandato da presidenta Dilma. Sem contar que sob efeito devastador da campanha anti-esquerda, anti-PT, após denúncias sistemáticas, porém verdadeiras, de corrupção. Tivemos que defender não menos que a democracia, contra todas as matrizes de saída à direita contra a corrupção que a elite oferece à sociedade e também aos trabalhadores. Afinal todos estão disputando essa consciência da classe.
Saímos às ruas sem ter certeza sequer de que ganhamos ou ganharemos a consciência da classe. Porque a estratégia do governo e do PT é de alianças com o capital. Vencemos as eleições de 2014 com maioria do povo, com um programa desenvolvimentista, afirmando que o segundo governo Dilma ia ser superior ao primeiro. Com um programa e uma pauta de reformas estruturais de base, que taxe o grande capital, as fortunas e heranças, reforma fiscal, reduzir as taxas de juros; convocar o plebiscito oficial sobre a reforma política. A iniciativa para fazer de fato uma reforma agrária, um reforma urbana que faça renascer cidades democráticas, sustentáveis e justas, uma lei que democratize os meios de comunicação.
Neste março de 2015 estamos na iminência não de um golpe militar, como ocorreu em 64, mas em médio prazo, de um golpe branco tipo que derrubou o presidente Fernando Lugo no Paraguai e Manuel Zelaya em Honduras. Aqui se fala no impeachement, ou impedimento da presidenta.
Ou o governo Dilma e o PT muda a estratégia de conciliação de classe, para este tempos de guerra, com um chamamento ao povo, aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade irem às ruas defender o legado dos 13 anos do PT, defender a aplicação do programa democrático e popular, vitorioso nas eleições de 2002, há exatamente 13 anos e três meses. Ou a conjuntura de crise política, social e econômica que se aguça a cada dia recrudescerá. E, a classe trabalhadora, o povo, que é a base de sustentação do projeto democrático e popular não se sentiram devidamente amparadas para defendê-lo.
O presidente João Goulart foi derrubado em março de 1964 por fazer aliança com a classe trabalhadora e apresentar um programa de esquerda com as reformas de base. Com a crise se agravando desde março de 2015 a presidenta Dilma corre o risco de ser destituída do governo sem sequer ter apresentado nenhuma proposta de reforma estrutural. Estamos há 13 anos no governo federal, tempo suficiente que sonhava João Goulart para fazer reformas de base e construir um novo Brasil.
* Expedito Solaney é secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT-Brasil e diretor do Sindicato dos Bancários de Pernambuco