Bancários e banqueiros
se reuniram na última quinta-feira, dia 17, em São Paulo, para
discutir as novas tecnologias e o impacto no emprego e no atendimento
bancário. O seminário foi organizado pelo Comando Nacional dos
Bancários e pela Febraban, conforme acordo firmado na Campanha
Nacional do ano passado.
Os bancários de Pernambuco foram
representados no seminário pela secretária de Finanças do
Sindicato, Suzineide Rodrigues. Para ela, o seminário deixou claro
que as novas tecnologias reduzem os postos de trabalho dos bancários,
embora proporcionem mais qualidade e agilidade nos serviços
prestados pelos bancos.
“Nos anos 80, a categoria bancária
no Brasil era composta por cerca de 1 milhão de trabalhadores. Hoje,
somos menos de 500 mil. Ou seja, as novas tecnologias acabaram com
metade dos bancários, mas ajudaram os bancos a aumentarem, cada vez
mais, os seus lucros. Além disso, os clientes acabam realizando uma
série de serviços que antes eram feitos pelos bancários e ainda
pagam altas tarifas por isso”, explica Suzineide.
Ana Tércia
Sanches, que representou as entidades sindicais nos debates, defendeu
que as novas tecnologias devem beneficiar também os trabalhadores,
os clientes e toda a sociedade – e não apenas os bancos. “Devem
contribuir para reduzir o ritmo e a quantidade de trabalho,
preservando a saúde dos trabalhadores, ao contrário da forma como
são usadas hoje para intensificar a produtividade e o lucro, às
custas do aumento de adoecimentos na categoria bancária”,
destacou.
O representante da Febraban Gustavo José Costa Roxo
da Fonseca, sócio da McKinsey&Company, fez um histórico sobre
as mudanças tecnológicas no setor financeiro nas últimas décadas,
especialmente a implantação dos meios eletrônicos de pagamento,
que permitiram que as transações financeiras no Brasil saltassem de
23 bilhões em 2009 para 50 bilhões no ano passado, um crescimento
de 270% em cinco anos.
Bancários e clientes perdem –
“Mas os benefícios das inovações tecnológicas
bancárias são apropriados de forma igual entre clientes,
trabalhadores e bancos? Essa é a questão central”, questionou
Ana Tércia, que é mestre em Ciências Sociais pela PUC SP,
especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp e
doutoranda em Sociologia pela USP.
Com as novas tecnologias os
bancos, segundo a pesquisadora, multiplicaram a produtividade,
reduziram custos e ampliaram seus lucros. Os clientes passaram a
realizar as operações antes feitas pelos bancários; assumiram
custos com internet, hardware, software, energia, impressão;
continuam pagando tarifas e custos do crédito elevados; são
expostos a novos riscos operacionais (fraudes eletrônicas, vírus
etc.); e estão perdendo o direito de fazer a opção por atendimento
presencial nas agências.
“Para os bancários, as
inovações tecnológicas intensificaram ritmo de trabalho, que
passou a ser determinado pela tecnologia, são utilizadas para impor
maior controle e pressão no ambiente de trabalho, o que vem
provocando um aumento dos problemas de saúde, inclusive psíquicos.
Dados do Ministério do Trabalho mostram que pela primeira vez os
transtornos mentais superaram os casos de LER/Dort na categoria”,
disse Ana Tércia.
Reduzir os impactos negativos – A
pesquisadora concluiu a palestra apresentando uma série de propostas
para minimizar os impactos sociais das novas tecnologias para
clientes e trabalhadores, entre as quais destacou:
>
Diálogo com os representantes dos trabalhadores para garantir que os
processos de automação não provoquem desemprego.
>
Quando a tecnologia extinguir alguma função, os trabalhadores devem
ser reaproveitados em outras áreas e receberem treinamento
específico.
> Respeito à jornada de trabalho, horário
de almoço e períodos de descanso.
> Criar programas de
prevenção às doenças ocupacionais.
> Novos cargos e
funções devem ser executados por bancários para manter qualidade
de atendimento, sigilo de dados dos clientes e respeito aos
trabalhadores.
> Manter atendimento presencial com
qualidade para a parcela da população que fizer essa opção.
>
Reduzir valor das tarifas e juros.