Na Roma do filme A grande beleza, há um ilusionista que faz uma girafa desaparecer, uma freira de 104 anos que é tratada como uma santa, uma anã que é editora-chefe de uma respeitada revista e uma criança que é explorada pelo pai para fazer arte contemporânea. A cidade é retratada com exagero babilônico pelo cineasta italiano Paolo Sorrentino (Aqui é meu lugar).

A grande beleza, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e finalista do Oscar, é marcado por imagens épicas filmadas com câmeras esvoaçantes que atravessam as construções milenares e revelam um carnaval de personagens cartunescos ao som de canto lírico e de música eletrônica para ser dançada como uma Macarena. Tudo é mostrado sob o ponto de vista do hedonista Jep Gambardella (Toni Servillo), um escritor e jornalista que circula na alta sociedade sempre cercado de artistas frustrados.

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A vida felliniana de Jep é tão vazia quanto divertida, tão rica em arte quanto preenchida por momentos descartáveis. É um eterno Don Juan que vive em festas e não consegue ter um cotidiano comum, apesar de conseguir admirar um casal que dorme cedo depois de passar suas roupas. Está sempre rodeado de amigos e demonstra tranquilidade o tempo inteiro, mas tudo pode ser disfarce para a solidão e o incômodo existencial.

Parte do público pode achar o ritmo arrastado na segunda metade, mas isso pode acrescentar conteúdo, pois o filme faz uma tragicômica e crítica homenagem às contradições da cultura contemporânea, ao mesmo tempo excessiva e cansativa.

Apesar de ser uma obra bem maluca para os padrões do Oscar, A grande beleza é o favorito na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. O dinamarquês A caça é mais sério, mas seu concorrente resgata uma aura mágica que o cinema italiano havia perdido e apela bastante para as paisagens de Roma. Além de ter contribuição artística e conteúdo crítico, é um produto “para gringo ver” que combina bem com as expectativas do Oscar.