Reação dos EUA ao declínio deve aumentar pressão. Integração regional e multipolar é a melhor resposta

Os Estados Unidos compareceram ao debate “Avanços, Impasses e Desafios da Integração”, realizado no início da tarde desta terça-feira, dia 16, dentro da Conferência Nacional “2003-2013: Uma Nova Política Externa”.
 
Compareceram no sentido figurado. Embora não tenham sido o único tema nem tampouco o objetivo original do encontro, os EUA trazidos pelas perguntas do auditório e pelas intervenções dos palestrantes.

A conclusão mais evidente sobre é que o país do Hemisfério Norte vive um declínio “relativo” ou, ao menos, sofre com um “deslocamento geopolítico”, em função da crise econômica que os atingiu fortemente e devido ao surgimento de novos atores – blocos, como os que são construídos nesse momento pelos países da América do Sul, por exemplo, ou países, sendo a China o exemplo mais sonoro.

 
O que se pode esperar dos EUA, nesse cenário? “Eles estão desesperadamente reverter o declínio, e para isso contam com seu brutal arsenal militar. Isso os torna a maior ameaça ao equilíbrio mundial”, nas palavras de um dos debatedores da mesa, Valter Pomar, secretário executivo do Foro de São Paulo (grupo de partidos progressistas do continente que desde 1990 mantém intercâmbio de propostas e experiências) e integrante do Diretório Nacional do PT.
 
Para a professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Maria Regina Soares de Lima, “a pressão vai aumentar”. Sintomas dessa reação estadunidense, cita ela, são os instrumentos de bisbilhotagem recentemente revelados e que não servem apenas à política de segurança nacional, mas igualmente às disputas comerciais internacionais. Os grampos e a espionagem generalizados, lembra a professora, dão aos grupos privados daquele país e ao próprio governo informações privilegiadas para uma espécie de sabotagem dos negócios comerciais alheios.
 
Outro debatedor da mesa, o assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia, que frisou não apreciar exercícios de “futurologia”, lembrou que a disputa dos Estados Unidos por superar o momento de crise econômica se dá especialmente no plano interno, com uma disputa entre um modelo que pretende imprimir maior presença do Estado e o outro mais tradicional. “E não me parece que eles estejam muito dispostos a resolver esse problema”, disse. “Historicamente, toda a vez que os Estados Unidos alteraram significativamente sua relação com os demais países, respondiam a algum conflito externo, como quando saíram do Vietnã. Portanto, é difícil fazer previsões”.

Maria Regina, Marco Aurélio, Valter Pomar e Renato Martins

Maria Regina, Marco Aurélio, Valter Pomar e Renato Martins
 
Os três concordam que uma estratégia para o Brasil se posicionar diante desse quadro e das prováveis consequências é aprofundar os esforços de integração regional, no caso da América Latina, e multipolar, como o governo brasileiro tem procurado fazer nos últimos 10 anos.
 
O mediador, Renato Martins, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), recdordou episódios dessa integração, como o processo de consolidação da Unasul, entidade capaz, recentemente, de opor-se diplomaticamente e com peso político a episódios como o golpe no Paraguai ou ao fechamento do espaço aéreo europeu ao presidente boliviano Evo Morales.
 
“Estamos chegando a um mundo multipolar. A questão é: queremos comparacer com nossos vizinhos ou sozinhos?”, provocou Marco Aurélio. “Devemos fazer os Estados Unidos restringirem sua influência para cima do Rio Grande”, afirmou Pomar, em referência ao rio tornado mítico pelos filmes de faroeste e que demarca a fronteira dos EUA a partir do México.
 
De qualquer maneira, Marco Aurélio garcia continua apostando na força da negociação para avançar na política externa. Lembrou o barão do Rio Branco: “Ele deixou uma herança indelével na nossa diplomacia. Ele comandou a definição de nossas fronteiras, sem nenhum confronto. Fez essa obra sem deixar pra trás nenhum passivo com nossos vizinhos”.
 
Por outro lado, ao comentar o porquê de tantas críticas à política externa adotada a partir do primeiro mandato de Lula, por parte da imprensa e dos analistas conservadores, lembrou outro diplomata brasileiro, Santiago Dantas (que dá nome ao auditório da UFABC onde se deu o debate): “Ele foi duramente criticado, e ao mer ver por causa de uma posição que ele proclamava: a de que a política externa deve estar vinculada a uma política interna que procurasse alçar os trabalhadores ao seu merecido lugar”. Citando outro diplomata, Afonso Arinos, completou: “Sempre sofreu críticas por parte daqueles que não queriam que as mudanças no plano interno chegassem à Casa de Rio Branco”.

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