Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) participaram hoje (17) de uma coletiva de imprensa no Sindicato dos Jornalistas e de uma reunião com representantes da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo. No sindicato, entre os pontos discutidos, o movimento convocou, diante de 90 jornalistas, uma reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT) para a próxima quarta-feira (18). Já com o governo estadual, o MPL afirmou que não irá divulgar o trajeto das próximas manifestações, entre elas, a que ocorre hoje, às 17 horas, no Largo da Batata, em Pinheiros (SP).
Em relação ao prefeito, o movimento disse que a reunião convocada por ele para essa terça-feira (18), juntamente com centenas de membros do Conselho da Cidade, não irá resolver o problema. De acordo com o MPL, este não será um espaço para negociar a redução do aumento da tarifa, por não se tratar de uma reunião deliberativa.
Entretanto, tanto o prefeito quanto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deixaram claro que não irão aceitar a demanda do movimento de reduzir as tarifas do transporte público, que subiu de R$ 3,00 para R$3,20 no início do mês.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o integrante do MPL Caio Martins explica como está a relação do movimento com os governos municipal e estadual. “De modo geral, eles receberam mal os protestos”, disse. Caio ainda ressalta que a pauta central do movimento continua sendo a redução das tarifas e a melhoria do transporte público como um todo.
“A indignação com a repressão policial é uma indignação com a repressão contra a luta das tarifas. No centro de tudo isso estão os 0,20 centavos, que não deixam de ser a pauta única da unidade e a mobilização como um todo”, destaca.
Brasil de Fato – Qual a sua avaliação dos protestos até o momento?
Caio Martins – É um protesto muito diferente dos que já fizemos aqui em São Paulo. Parece novidade, mas chegou agora o que já vinha acontecendo em outras cidades do Brasil, que é essa revolta popular gerada por uma luta contra o aumento da passagem.
É uma manifestação que para a gente é inédita, com esse clima de revolta popular contra o aumento. É uma mobilização muito forte na rua. O Passe Livre é o menor dono disso, e ele não tem controle sobre o que está acontecendo. Na verdade, o que acontece hoje é uma manifestação massiva, ampla e popular.
Em todos os anos que ocorre o aumento das tarifas, o MPL organiza protestos em todo o Brasil. E sua opinião, neste ano o que levou a luta a expandir dessa forma, com cada vez mais pessoas aderindo às manifestações?
De certa forma, a gente sempre planeja isso. Esse ano deu certo. Acho que existe uma disposição maior das pessoas para a luta, no sentido de que, nos últimos dez anos, houve uma revolta ao redor do Brasil e em São Paulo não tinha acontecido desse jeito ainda. Entrou no imaginário das pessoas. Houve um forte aumento dos movimentos de rua. Primeiro, é uma mudança no imaginário. Segundo, é a situação do transporte. Falar da situação do transporte significa falar da situação da cidade. O transporte é um elemento marcante, fundamental. Enfim, o prefeito não aumentou acima da inflação, mas devemos ter consciência de que todo o aumento é injusto. Não tanto só a questão da inflação, mas a ideia de aumentar a tarifa é um absurdo.
O que mudou no tratamento recebido em relação à administração anterior, de Gilberto Kassab (PSD), e agora com o Haddad?
Eu achava que ia ser diferente. Mas em vários sentidos está sendo bem parecido. A prefeitura falou que procurou a gente antes, mas a disposição da prefeitura para negociar tem sido muito pequena. De modo geral, eles receberam mal os protestos. No primeiro momento parecia diferente. O Haddad falou com a presidência da República sobre baixar os impostos para baixar a tarifa, mas ele mudou de postura. Ele tem uma postura agora quase intransigente de que não vai baixar a tarifa, e eu acredito que ele poderia ter tido mais diálogo do que está tendo.
Outra característica é que não tem apenas uma bandeira de um partido específico nestes protestos. Você acha que isso também influenciou as pessoas a acreditarem que não se trata de um movimento político-partidário, e por isso elas estão mais confiantes?
De fato, não é um movimento que cabe dentro de nenhum grupo, nem do MPL. As pessoas é que assimilam o controle da luta.
Além dos 20 centavos, quais são as outras motivações que vêm mobilizando as pessoas?
O que pesa é que falar do transporte é falar da cidade inteira: o transporte de maneira geral, a organização da cidade e a indignação com a repressão policial. No entanto, não deixa de serem os 20 centavos que estão no centro de tudo isso. A indignação com a repressão policial é uma indignação com a repressão contra a luta das tarifas. No centro de tudo isso estão os 20 centavos, que não deixam de ser a pauta única da mobilização como um todo. A pauta central permanece sendo os 20 centavos.
Supondo que a tarifa seja reduzida, você acredita que os protestos vão parar?
Pelo menos os protestos contra o aumento vão parar. Porém, durante a última semana a gente viu uma galera que quer lutar. Isso para a gente é algo relativamente novo.
Tanto representantes do PSDB quanto do PT, nos dois primeiros dias de protesto, chegaram a afirmar que se trata de um bando de vândalos, e que não aceitariam esses tipos de manifestações. Depois do 3º e do 4º protesto resolveram dialogar com o movimento. O que aconteceu, na opinião do MPL, para eles mudarem de postura?
Um diálogo entre aspas. O que se revelou mesmo é o fato de eles estarem querendo isolar [a demanda], e isso rebelou uma mobilização com um grande apoio popular, com vários setores da sociedade e que só tem ganhado apoio. O momento está diferente. Não sei como o Kassab se daria com um movimento como esse. O Haddad ta lidando com uma coisa que na verdade é nova.
Mas você acha que ele poderia ter tomado uma atitude antes para ter evitado males maiores?
No mínimo ele poderia revogar o aumento, mas está tendo um desgaste que não precisaria. Ele já falou o quanto custa [o financiamento], mas independente de quanto seja, é muito pouco para a prefeitura. Ela tem um orçamento de 43 bilhões. É 1% do orçamento quase. Um pouco mais. Ele tem dinheiro para isso, não precisaria sofrer esse desgaste. Ele poderia revogar o aumento.
O Governo do Estado descartou a Tropa de Choque hoje na manifestação. Isso traz mais tranquilidade para o movimento e para as pessoas, visto que a Tropa de Choque reprimiu com violência os manifestantes nos últimos atos?
A gente espera que não haja infiltrados também, porque você tira a polícia e põe a polícia à paisana para quebrar as coisas.