Raimundo Carrero deságua sua ansiedade no Facebook, ao qual está quase sempre conectado. Em janeiro, divulgou a capa. Em fevereiro, uns trechos. Em março, os primeiros comentários de leitores. Em abril, enfim, a data de lançamento de Tangolomango – Ritual das paixões deste mundo, nesta segunta-feira, na Livraria Jaqueira. E diz até que o intervalo entre o término da obra e o lançamento gera um hiato de produção. Algo bem difícil de acreditar, pois o escritor pernambucano tem três projetos em andamento: a ousada biografia sobre a vida de Jesus Cristo, o mais imediato, já com abertura e aproximadamente 50 páginas; a autobiografia Às vésperas do Sol,com relatos do acidente vascular cerebral sofrido em outubro de 2010; e o romance Lamalagata – O caminho da águia no ar, protagonizado por Paloma, amiga de Camila, personagem central de A minha alma é irmã de Deus. Lamalagata é uma invenção do autor, e significa “a gata má”.

Em Tangolomango, o vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura comA minha alma é irmã de Deus explora mais uma vez um estilo narrativo em terceira pessoa, mas com a cadência da personagem central. As páginas transcorrem com os passinhos miúdos e ligeiros da personagem, entre ideias entrecortadas e diálogos intercalados com os pensamentos de tia Guilhermina. A personagem central é uma senhorinha pequena, magrinha, mas sensual. Os leitores mais fiéis já a conhecem desde Maçã agreste (1989), no qual Carrero apresenta pela primeira vez a família de Ernesto e Dolores, abordada em sete livros de lá para cá.

A personalidade de tia Guilhermina é dividida entre a ingenuidade e a rua, entre paixões rápidas e o amor sincero e proibido pelo sobrinho Matheus, que banhou nua quando criança e para quem canta e toca piano com dedos sensuais. O sobrinho retribui o afeto e provoca a tia, mas “o sangue não trai”, como ela mesma diz. “Ela se envolve com homens, mas ela é muito recatada. Ela se condena e se culpa pela relação com o menino. Relação não, que nunca chegou a acontecer, pela paixão pelo menino”, tenta explicar o autor, sobre a personagem por quem se diz apaixonado.

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