Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, é fundamental discutir o desenvolvimento da região, analisar as especificidades de cada município, consultar os interessados, os que conhecem o assunto e os representantes dos trabalhadores, antes de decidir que ações podem ser feitas para pressionar as autoridades federais, estaduais e municipais a criar políticas públicas que garantam geração de emprego de qualidade, renda digna para os trabalhadores e programas de distribuição de renda para os mais pobres.
Segundo o dirigente, o governo precisa fazer o que a Central está fazendo em todo o país, ou seja, ouvir os interessados diretos e seus representantes, no caso dos trabalhadores os dirigentes sindicais, para que as medidas tenham efetividade e beneficiem os trabalhadores e a sociedade brasileira como um todo. Vagner lembrou de medidas como a isenção fiscal, redução de IPI de carros, por exemplo, que mantém o mercado interno aquecido, mas não obriga os empresários a fazer mais investimentos, contratar mais trabalhadores, enfim, o governo não exige nenhuma contrapartida.
“Nesses encontros de planejamento, queremos fazer um diagnóstico da situação e construir propostas, soluções concretas. Queremos juntar forças para construir o desenvolvimento regional. Aqui no Nordeste, por exemplo, todos sabem que não vamos conseguir acabar com a seca – e o presidente Lula sempre diz isso. Porém, é preciso dar condição para que o trabalhador sobreviva com dignidade”, afirmou Vagner.
Neste sentido, os dirigentes CUTistas debateram, ouviram análises e apresentações como a do sociólogo Givanilson Silva, estudioso do semiárido brasileiro, que falou sobre os efeitos devastadores da seca e fez uma análise sobre o futuro da economia na região. Os dados apresentados e a análise feita são fundamentais para reflexão e embasamento de dirigentes e militantes. A partir daí é que serão definidas as ações da CUT voltadas para a continuidade do desenvolvimento de todo o Nordeste, com justiça social.
O secretário-geral nacional da CUT, Sergio Nobre, ressaltou a importância de aprofundar o conhecimento sobre a realidade regional, para que a partir de um diagnóstico preciso seja possível planejar ações.
Segundo os dados apresentados pelo sociólogo, cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com a seca no Nordeste, o que levou mais de 1.200 cidades a decretarem situação de emergência. “No período de fevereiro a abril de 2012, choveu 300 a 500 mm a menos do que em 2012. É a primeira vez, em 60 anos, que isso acontece no Nordeste”, informou Givanilson Silva.
Givanilson explicou que semiárido não é sinônimo de seca, e que a distinção é necessária ao debate. “O semiárido é um bioma cuja característica é a dificuldade de chuva, que incide de 3 a 4 meses apenas. Por isso, não é possível combater a seca porque ela está lá, é uma característica da região. O que é preciso é criar mecanismos para conviver com a seca no semiárido. Como é possível discutir desenvolvimento, tanto na área urbana como na rural, se não temos água? Há áreas no Nordeste que ficam sem chover mais de nove meses. Há áreas no Piauí e na Bahia que não chove há dois anos”, destacou.
Sobre os impactos dos efeitos da seca na economia, Givanilson apresentou alguns números preocupantes. Do total do rebanho nacional (bovino, caprino e ovino), grande parte concentra-se no Nordeste, sendo 13,9% de bovinos, 90,98% de caprinos e 57,24% de ovinos. A seca já fez com que metade dessa criação fosse perdida.
Na agricultura, as perdas estão estimadas entre 30 a 40 bilhões de reais, sendo que na Bahia e no Rio Grande do Norte somam-se 13 bilhões. As culturas do milho e do feijão, as mais expressivas, registraram reduções superiores a 80%. Na Paraíba, a perda na safra foi de 94,6%, seguida por Rio Grande do Norte com 88,9%, Ceará com 87,2% e Pernambuco com perda de 80,4%.
Na região Nordeste, 84,4% das safras são produzidas pela agricultura familiar contra 15,6% do agronegócio. “Estes dados demonstram algo muito preocupante sobre os investimentos do governo no Plano Safra. A agricultura familiar recebe 54 milhões enquanto o agronegócio recebe 89 milhões. Ora, se mais de 80% da produção é da agricultura familiar, como pode o incentivo ser tão menor? Além disso, os agricultores familiares representam 74,4% do trabalho no campo e são os mais prejudicados com os efeitos da seca”, afirmou o sociólogo.
Givanilson Silva finaliza destacando que é preciso impedir o retrocesso no desenvolvimento que vem sendo construído nesses últimos dez anos. “Tivemos avanços significativos com as políticas públicas de erradicação da miséria e outras tão importantes, mas temos que retomar o ‘fio da meada’ do desenvolvimento e, nesse momento, isso é possível com a criação de mecanismos para a convivência com a seca”.