Um novo estudo do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), lançado no início deste mês, demonstra a situação de mortes por armas de fogo (AF) nas últimas décadas no Brasil. O novo Mapa da Violência 2013 “Mortes matadas por armas de fogo” revela que de 1980 até 2010, 799.226 pessoas morreram vítimas do armamento, sendo que 450.255 eram jovens de 15 a 29 anos de idade.
O relatório utilizou as bases de dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde para coletar os dados referentes às mortes por armas de fogo no período analisado. Entre as formas em que ocorrem estas mortes, os homicídios são a primeira causa, com um crescimento de quase 503% dos casos.
Segundo o relatório, o crescimento da mortalidade por AF entre os jovens foi intenso nessas décadas. “Se no conjunto da população os números cresceram 346,5% ao longo do período, entre os jovens esse crescimento foi de 414,0%. Também os homicídios jovens cresceram de forma mais acelerada: na população como um todo foi de 502,8%, mas entre os jovens o aumento foi de 591,5%”, revela o estudo. “Uma em cada três mortes juvenis é produto de disparo de arma de fogo. De longe, a maior causa de mortalidade entre os jovens”, analisa o presidente do Cebela, Jorge Werthin.
Apesar do crescimento populacional no país, o relatório afirma que “o saldo líquido do crescimento da mortalidade por armas de fogo, descontando o aumento populacional, ainda impressiona”. O Mapa destaca que de 1990 até 2003 houve um aumento regular de mortes em torno de 7% ao ano, mas em 2003 houve um pico de mortes por armas de fogo com 39,3 mil vítimas, e a partir daí os números giram em torno de 39 mil mortes anuais.
Na década de 2000 à 2010 observa-se um crescimento de 195,2% da mortalidade na Região Norte, cifra liderada pelo estado do Pará, que “quase quintuplicou o número de mortes por armas de fogo neste período”, em seguida, aparecem os estados do Amapá e Amazonas apresentando um crescimento acima de 150%.
No Nordeste o crescimento da mortalidade foi 92,2% com destaque para o Maranhão, cujo número de vítimas cresceu 344,6% da década. Alagoas, Bahia, Ceará e Paraíba revelaram um crescimento superior a 200%, mais que triplicando seu número de vítimas por armas de fogo. O único estado do Nordeste a evidenciar queda nos números foi Pernambuco: saldo negativo de 27,8%.
No Centro-Oeste os índices de mortalidade permaneceram “praticamente estagnados”. Já na região Sul foi observado um crescimento moderado de 53,6%, devido ao aumento de mortes no Paraná. O Sudeste foi a única região a evidenciar quedas na década. A redução de cerca de 40% das mortes por armas de fogo na região foram puxadas por São Paulo, cujos números em 2010 representavam cerca de 1/3 do que registrava em 2000.
De acordo com a pesquisa do Cebela e da Flacso, os índices de mortes por AF no Brasil são os maiores do planeta, superando países mais populosos como China e Índia, “ou também os números de conflitos armados no mundo das últimas sete décadas, como a Guerra do Golfo, os conflitos nos Territórios Palestinos”.
Na América Latina, o Brasil está entre os cinco primeiros países mais violentos, ficando atrás apenas de El Salvador, Venezuela, Guatemala e Colômbia, que ocupam as quatro primeiras colocações.
O Mapa da Violência “Mortes matadas por armas de fogo” aponta a facilidade de acesso a armas de fogo, a cultura da violência e a impunidade como os causadores desses índices de mortalidade.
“Primordialmente, deveremos criar oportunidades e alternativas para a juventude, setor da sociedade mais afetado pela mortalidade por armas de fogo. Criando as bases para a construção de uma nova cultura de paz e de tolerância entre os homens, com profundo respeito às diferenças e ao direito efetivo de todos os indivíduos de ter acesso aos benefícios sociais mínimos para uma vida digna: saúde, trabalho e educação. Se conseguirmos implementar conjunta e articuladamente ambas as fases desse desarmamento: o físico e o cultural, não duvidamos de que o futuro próximo será bem melhor”.
Para ver o Mapa na íntegra, acesse www.cebela.org.br ou www.flacso.org.br