“A
literatura é minha bandeira, minha arma e minha luta”. As palavras
são da bancária Suzana Morais, poeta e declamadora, que brindou a
plateia do auditório do Sindicato, na noite do dia 13 de março, com
vários poemas e um agradável bate-papo. A atividade foi parte da
programação do Mês da Mulher e o tema em discussão, “A presença
da Mulher na Cultura”, acabou tomando outro rumo: “como a cultura
pode operar mudanças na vida das pessoas, homens e mulheres”.
Suzana
citou o exemplo da penitenciária do Bom Pastor. Junto com o grupo
“Vozes Femininas”, ela participou de um recital no presídio
feminino. Saiu de lá tocada, comovida e, principalmente, convicta
quanto ao papel que a literatura e a arte exercem na vida das
pessoas. “Para lidar com a solidão e as perdas, elas escreviam
muito. Há verdadeiras pérolas literárias no Bom Pastor”, lembra
Suzana.
É
também pela literatura que Suzana protesta, reclama, se encontra e
reafirma sua identidade feminina. Na noite desta quarta, 13, ela
mostrou isso na prática: declamou poemas engajados, sobre o que
lembra a história de lutas do dia 8 de março. E também poemas que
são uma resposta bem humorada aos machistas de plantão.
Com
um poema infantil, sobre uma formiguinha surfista, ela lembrou a
história de como a criança tocada pela poesia acaba se
alfabetizando mais facilmente: “Em uma das creches onde fizemos
recitais, eu declamei este poema da formiguinha, que se chamava Duda.
Uma das professoras já tinha falado sobre uma das crianças que
estava lá. O nome dele era Eduardo e tinha dificuldades pra ler.
Depois do recital, eu o presenteei com um cordel da formiguinha,
autografado. Algum tempo depois, a professora contou que ele tinha
aprendido a ler por causa do cordel”.
Suzana
contou muitas outras histórias. Falou, por exemplo, de um recital do
qual participou na Cooperifa – cooperativa de poetas, escritores e
artistas da periferia de São Paulo. “É emocionante você ver, no
meio da favela, quase cinquenta poetas recitando para uma plateia
atenta”, conta.
Bastante
atenta estava também a plateia que acompanhou o bate-papo regado a
versos. Estavam lá sindicalistas, trabalhadoras, integrantes do
movimento feminista, bancárias, mulheres e homens. Estava lá,
inclusive, o cônsul da Venezuela. E estavam lá, também, as
“Fuxiqueiras do Coque”, que sabem muito bem o quanto a leitura
pode mudar a vida das pessoas.
Valdimarta
Ferreira é uma delas. Ela conta: “As Fuxiqueiras me resgataram de
uma vida sem livro, sem poesia, sem leituras. Hoje, eu posso ler, já
escrevo meus próprios poemas e posso sonhar. O grupo me fez,
inclusive, descobrir possibilidades em mim mesma que eu sequer
conhecia”.
Entre
a saída do auditório, onde ocorreu o bate-papo com Suzana, e a
chegada no pátio interno do Sindicato, onde as Conxitas se
apresentavam, algumas pessoas foram presenteadas com poemas ao
pé-do-ouvido, recitadas pelas leitoras artesãs do Coque.
Depois,
foi a hora de balançar o esqueleto, confraternizar, girar na roda de
ciranda e se deleitar com a percussão e a música do grupo Conxitas.