Paulo Santos: “O desafio é manter viva a memória de nossas lutas”

Apesar de esquecida
pelos jornais e televisões, a Data Magna de Pernambuco – marco da
história do estado e do país – não passou em branco. Nesta
quarta, 06 de março, 195 anos após a Revolução de 1817,
dirigentes sindicais, bancários e outros interessados fizeram um
passeio pela história, em debate conduzido pelo escritor Paulo
Santos. “A memória das lutas dos trabalhadores e dos oprimidos
continua sendo apagada e o desafio do movimento sindical é mantê-la
viva”, afirmou Paulo. Com esta finalidade, a conversa desta quarta
inaugurou um projeto que deve acontecer todo mês, com rodas de
conversa sobre a história política pernambucana.

As pinturas exibidas
pelo escritor ajudaram a reconstruir o cenário nos séculos XVIII e
XIX: a sociedade escravocrata e machista; a divisão social entre
brasileiros, portugueses, pobres e ricos; o controle do comércio por
Portugal; a economia do açúcar e algodão; a censura. Mostraram
também como o povo era excluído de qualquer tipo de conhecimento e
a religião era usada como forma de mantê-lo submisso.

Fora do país, o
contexto pedia mudanças. Era tempo de invasões Napoleônicas,
ideias iluministas, Revolução Francesa. Na América Latina, países
como Venezuela e Argentina viviam, com Bolívar e San Martín,
guerras de independência que durariam 15 anos. Tais informações
não chegavam para a gente comum. Mas chegavam a alguns intelectuais
por meio da maçonaria, de alguns padres mais progressistas e do
Seminário de Olinda – que era, naquele tempo, um dos maiores
centros de ideias e debates políticos do país.

Eram estas pessoas que
se reuniam e se articulava, nacional e até internacionalmente, para
planejar a Revolução. “A proposta era que ela eclodisse em abril,
no país inteiro. Mas alguém dedurou o movimento e os cabeças
começaram a ser presos em Pernambuco”, conta Paulo. No entanto,
quando foram prender os militares, um deles, conhecido como Leão
Coroado, sacou sua espada e matou o oficial. “Como a maioria dos
soldados era formada por brasileiros, a tropa apoiou o movimento. Os
soldados e oficiais portugueses fugiram e o governo se asilou no
Forte do Brum”, continua o escritor.

Com o governador
encurralado, o povo foi às ruas; as comarcas do interior se juntaram
ao movimento, assim como Paraiba e Rio Grande do Norte; um governo
provisório foi formado. “Em um mês, já se tinha um novo sistema
de impostos; prestação de contas do dinheiro público; um projeto
de Constituição; bandeira, exército e marinha. Foi instituída a
Declaração dos Direitos humanos como princípio. Maracatus e
batuques de negros foram liberados.

A alegria não duraria
muito. No dia 11 de abril, os portugueses bloquearam os portos. A
dependência comercial do estado, que importava tudo da Europa, pôs
fim à Revolução. Sem a entrada dos alimentos, o apoio popular foi
se perdendo. Paraiba e Rio Grande do Norte caíram e a derrota
pernambucana veio no dia 20 de maio, com repressão duríssima.
“Foram 1700 mortos e feridos, 1800 degradados, enforcamentos e
fuzilamentos em praça pública, perda de território. Mesmo assim,
alguns anos depois, alguns dos integrantes do movimento estariam à
frente de novas batalhas, como o movimento constitucionalista de 1821
e a Confederação do Equador”, conta Paulo.

HISTÓRIA APAGADA –
A história é bela e inspiradora. Mas, ano após ano, foi banida
das lembranças, dos jornais e dos livros didáticos. Ficou restrita
a alguns círculos acadêmicos: historiadores e poetas.

Em 2007, ano do
lançamento do livro de Paulo Santos, “A Noiva da Revolução”, o
dia 6 de março foi escolhido como Data Magna. No entanto, não foi
decretado feriado e o tema não aparece nos jornais. “A história
é apropriada e divulgada segundo os interesses políticos da classe
dominante. Cem anos após a Revolução, quando a República estava
instalada, era conveniente recuperar estes fatos. Então se fez um
selo comemorativo, se decretou feriado e se adotou a bandeira da
revolução”, argumenta o escritor.

É justamente para se
contrapôr a história oficial, e não permitir que as lutas dos
trabalhadores sejam esquecidas, que o Sindicato, em parceria com o
grupo Typhis Pernambucano, deu início ao projeto: “A história de
Pernambuco em debate pelos trabalhadores”. Confira a agenda:

3
de abril
– Urariano Mota, autor dos livros Os
Corações Futuristas
e Soledad
no Recife,
fala
sobre o regime militar

2
de maio

Vandeck Santiago fala sobre a presença norte-americana no estado na
década de 60. Ele é autor de l premiado caderno especial sobre o
tema,no Diário de Pernambuco. É também autor de livros sobre o
líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião

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