Para grandes bancos brasileiros, o ano que acaba foi aquecido não só
para emissões de bônus em moeda estrangeira mas também para colocações
privadas de dívida no exterior. Tais operações, que consistem na venda
de títulos de prazos mais curtos que aqueles das grandes emissões
públicas e são combinadas diretamente com investidores lá fora,
totalizaram cifras bilionárias para instituições como Bradesco e Banco
do Brasil. Só esses dois bancos captaram cerca de US$ 14,5 bilhões em
2012 junto a grandes investidores institucionais, como fundos de pensão e
soberanos, seguradoras, fundos de investimento, tesourarias e famílias
muito ricas.
Conhecidas como “private placements” no mercado, as colocações figuram
como uma estratégia complementar às ofertas públicas de bônus, que já
são comuns para bancos como BB, Bradesco, BTG Pactual, Itaú Unibanco e
Santander Brasil. Juntos, esses bancos levantaram pouco mais de US$ 14
bilhões nas ofertas de bônus neste ano. Embora não se tenha um número
consolidado das colocações privadas das mesmas instituições, apenas a
amostra de Bradesco e BB sinaliza que esse universo foi bem mais
volumoso.
Santander e BTG Pactual não revelam valores de suas colocações privadas,
mas também reconhecem que houve forte apetite por papéis desse tipo. O
Itaú não forneceu informações sobre suas operações com o instrumento.
As colocações são feitas, em grande parte, por meio de títulos
conhecidos no mercado como CDs (“certificates of deposit”), que
geralmente têm prazo de vencimento entre seis meses e um ano; ou com a
venda de MTNs (“medium term notes”), cuja maturação é, majoritariamente,
de até cinco anos. O dinheiro é usado principalmente para conceder
financiamento em moeda estrangeira a clientes.
“Essa era uma forma de funding que antes praticamente não era
considerada por bancos brasileiros”, disse Rodrigo Cabernite, diretor de
mercado de capitais do banco de capital inglês Standard Chartered, que
acompanha esse mercado de perto. Segundo ele, com a crise econômica na
Europa e o fechamento desse segmento para bancos daquela região,
formou-se um bolsão de liquidez que passou a ser conquistado pelas
instituições brasileiras.
No Bradesco, as colocações somaram perto de US$ 10 bilhões em 2012,
valor que pode passar de US$ 11 bilhões até o fim do mês. “Para nós, a
grande vantagem é ter uma alternativa adicional de funding em moeda
estrangeira”, explica Marlene Millan, diretora do departamento de câmbio
e responsável pelo financiamento em moeda estrangeira do banco.
Segundo a executiva, o banco começou a fazer emissões desse tipo em
meados de 2011, e agora as realiza com frequência praticamente diária,
sempre que considera interessante o volume, o prazo e o preço acordados
com o investidor. “No ano passado, reconhecemos demandas específicas e
concentradas. Mas em 2012 [o número de operações] foi muito maior,
fizemos centenas”, disse João Carlos Zani, diretor da unidade de
corretagem do Bradesco em Londres e responsável pela distribuição de
renda fixa do banco no exterior. “Procuraremos manter esse ‘funding’ no
futuro.”
O Banco do Brasil tinha, no fim de setembro, cerca de US$ 4,5 bilhões em
títulos emitidos com vencimento em menos de 360 dias e decorrentes de
colocações privadas. Tais emissões passaram a ser mais comuns para o
banco a partir de 2009, por meio de um programa de notas de curto prazo
aberto nos Estados Unidos, chamado de “Yankee CD”. No ano seguinte, o
banco abriu outro programa também de títulos curtos, só que em Londres –
ao registrá-los em diferentes localidades, o banco atinge mais
investidores.
“Com emissões mais curtas, você tem uma diversidade de funding. Hoje, a
maior parte das nossas alocações é feita com unidades de private banking
e tesouraria de bancos, mas também há alguns fundos interessados”,
disse Daniel Alves Maria, gerente-executivo de finanças do BB. Segundo
ele, fundos americanos de “money market”, que investem em renda fixa de
curto prazo, geralmente buscam alternativas com prazos menores em suas
estratégias. Tais fundos consideram, na maioria das vezes, apenas
emissores com classificação de risco de pelo menos “A”, mas têm aberto
exceções a entidades em degrau um pouco abaixo disso, como é o caso do
BB, e com bom perfil de dívida.
O mercado secundário de títulos curtos é consideravelmente menos líquido
que o de bônus emitidos em dólar por meio de ofertas públicas e com
prazos mais longos, afirmou Alves Maria. Por isso, o banco considera
importante se manter ativo tanto no mercado de bônus quanto no de
títulos mais curtos, ideia que também é sustentada pelo Bradesco.
Fernando Pierri, superintendente-executivo de investidores
institucionais do Santander, disse que o banco recorre há alguns anos a
colocações privada de títulos curtos como estratégia de funding, mas
afirmou que 2012 foi de fato mais forte para essas emissões. “As
colocações foram mais fortes especialmente a partir do segundo semestre
deste ano”, disse o executivo, sem informar valores.
A ideia do Santander é também recorrer mais a esse instrumento no ano
que vem. “Temos considerado possíveis colocações entre investidores
institucionais na América Latina, região onde o banco já é conhecido,
inclusive nas moedas locais de Chile, México, Colômbia e Peru”, disse
Pierri. Em abril, o banco realizou sua primeira colocação privada no
Chile, com títulos vinculados à inflação.
Segundo Axel Blikstad, sócio responsável pela gestão de liquidez do
banco BTG Pactual, as colocações privadas também figuraram como
importante mecanismo de funding para o banco no ano. Mas ele não revela
quantas operações foram feitas nem o valor.