Executivos de bancos terão menos bônus este ano, aponta Valor Econômico

O desempenho mais fraco do setor financeiro este ano, sobretudo do
segmento bancário, tende a afetar o bônus dos executivos que atuam nessa
área. Segundo consultorias de recursos humanos ouvidas pelo Valor, é
esperado uma queda na remuneração variável desses profissionais entre
10% e 30% em 2012.

“A pressão por spreads menores nos bancos, a dificuldade que as
instituições estão enfrentando para gerar rentabilidade em um cenário de
juros mais baixos e o impacto da crise financeira lá fora são fatores
que devem segurar os bônus dos executivos de finanças este ano”, explica
Bernardo Cavour, diretor da Flow para o segmento de bancos e private
equity. Contudo, esse mercado ainda é bastante atraente para os
profissionais, consolidando-se como um dos setores que pagam os bônus
mais altos do país.

Segundo Eduardo Prado, diretor de recompensas, talento e comunicação da
Towers Watson, o setor financeiro no Brasil tem apresentado um
desempenho superior ao de seus pares internacionais, tendo em vista a
dificuldade que muitas economias ainda estão enfrentando por conta da
crise. Mesmo assim, o bônus dos executivos de finanças do país dependerá
muito do ramo de atuação. Nos bancos de investimentos, por exemplo, o
impacto da recessão foi mais forte que o previsto, influenciando
negativamente a performance das carteiras e, consequentemente, as
remunerações variáveis do segmento.

Já nos bancos de atacado e varejo, o crescimento da inadimplência e a
queda forçada dos spreads afetaram diretamente os resultados das
instituições, o que pode pressionar os bônus este ano. Nos primeiros
nove meses do ano, os quatro maiores bancos de varejo do país
apresentaram resultados muito aquém dos obtidos em 2011. No geral, houve
queda no lucro líquido entre 7% e 20% – apenas um deles conseguiu ficar
estável, gerando lucro de 2%.

“O setor financeiro ainda é o que melhor remunera seus executivos no que
compete à meritocracia. Entretanto, a tendência é que, em volume, os
bônus sejam cada vez menos robustos, equiparando-se a outras indústrias
do país”, diz Prado.

Enquanto os bancos registraram lucros menores este ano, o desempenho da
indústria de fundos de investimento variou muito conforme o tipo de
carteira. Alguns fundos conseguiram diversificar e se destacar
conquistando rentabilidade de até 20% no acumulado entre janeiro e
outubro, frente ao mesmo período do ano passado. Quanto ao patrimônio
líquido, a média geral foi de queda, que chegou a 25% em alguns casos.
Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados
Financeiro e de Capitais (Anbima).

Nesse segmento, a estratégia de investimentos foi o grande diferencial
para balizar o bônus dos executivos. As gestoras de recursos, por
exemplo, estão projetando bônus um pouco maiores este ano, segundo
destaca Fábio Nunes, diretor executivo da Michael Page. No Rio de
Janeiro, onde o mercado é mais focado nas assets, a expectativa é alta
de 15% na remuneração variável.

“Algumas gestoras conseguiram diversificar as carteiras e apresentar uma
boa performance mesmo em meio às dificuldades”. Já o segmento de
private equity teve um desempenho mais fraco este ano, o que tende a
afetar negativamente os bônus. “O setor ainda está de olho em novas
aquisições. Como a fase de vendas ainda não chegou, os resultados podem
crescer pouco”, diz.

Para Marcelo de Lucca, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de
Finanças (Ibef), a “era dos bônus gordos minguou” de forma irreversível.
“O mercado doméstico não está mais tão forte e a crise lá fora tende a
se manter pelos próximos dois ou três anos”, diz. Nesse sentido, as
instituições precisarão ser mais criativas para impulsionar resultados e
pagar bônus maiores aos seus executivos.

O bônus de um executivo de banco de investimento chega a atingir 50
salários em instituições “mais agressivas”, segundo dados da Havik. Mas
remunerações variáveis dessa categoria são minoria no mercado. Já em
fundos de private equity, os bônus variam entre 10 e 20 salários para
posições executivas em áreas de negócios. Nos bancos múltiplos, ele pode
chegar a até 20 salários nas posições mais seniores, de nível
executivo.

De acordo com Gabriela Coló, sócia da Havik, cada vez mais os bancos
estão buscando eficiência, e a margem está caindo por conta da queda nos
juros. “Desta forma, é mais difícil alcançar metas agressivas, e
consequentemente, chegar ao topo dessas faixas de bônus”, diz. Além
disso, a pressão por redução de custos também afetará a remuneração
variável do setor.

“Os executivos devem esperar um bônus mais comedido este ano e em 2013,
quando o mercado tende a se estabilizar”, afirma. Na percepção da
consultoria, o cenário de bônus menos robustos está mudando a visão dos
executivos sobre o setor financeiro. “Essa indústria, tradicionalmente,
sempre foi mais atraente. Entretanto, se esses valores continuarem em
queda, os executivos podem passar a olhar para outras áreas com mais
interesse.”

O cenário de desaceleração também tende a afetar as perspectivas de
contratação do setor no ano que vem. Alguns bancos, inclusive,
anunciaram demissões em massa recentemente – principalmente aqueles com
operações globais.

O Citigroup, por exemplo, informou ao mercado o desligamento de 11 mil
funcionários no mundo todo, cerca de 4% da sua força de trabalho. No
Brasil, serão fechadas 14 agências, de acordo com comunicado emitido em
Nova York. Já o Santander pode demitir, no Brasil, mais de 5 mil
colaboradores, segundo informações de sindicatos da categoria no Rio de
Janeiro e em São Paulo. O banco, contudo, só confirma o desligamento de
415 funcionários este mês.

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