No dia 20 de novembro
de 1695 morria Zumbi dos Palmares, principal líder da resistência
negra à escravidão no Brasil. A data é lembrada todos os anos como
o Dia da Consciência Negra.
Para quem pensa que o racismo não
existe no Brasil basta pesquisar na internet para constatar que até
hoje os negros ganham salários bem menores que os brancos, morrem
mais cedo, não têm acesso descente à saúde e à educação e
fazem parte da população mais carente do país.
“E,
infelizmente, a situação não é diferente entre os bancários”,
comenta o diretor do Sindicato, Geraldo Times. Para mudar a situação,
os bancários conquistaram na Campanha Nacional deste ano a
realização do 2º Censo da Diversidade, com planejamento em 2013 e
execução em 2014. A conquista é fruto das negociações entre o
Comando Nacional e a Fenaban e da mobilização da categoria por
igualdade de oportunidades.
Bancos excluem pessoas negras –
Há mais de uma década, os trabalhadores têm denunciado a
existência de discriminação contra a população negra nos bancos.
Por isso, neste mês da consciência negra, O Sindicato e a
Contraf-CUT não tem muito a comemorar, uma vez que o quadro segue
inalterado e as pessoas negras continuam sendo minoria no sistema
financeiro e no mercado formal de trabalho do país.
Os
números mostram que, apesar do Brasil ser a segunda maior população
afrodescendente do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria, não é
verificado um mesmo patamar de respeito à diversidade e à herança
cultural que devem fazer parte de uma sociedade democrática. E
quando tomamos como referência a América Latina e o Caribe
constatamos a presença estimada de 150 a 200 milhões de pessoas
afrodescendentes. Ou seja, é a maior população do mundo.
Porém,
em pleno século XXI, o mercado de trabalho ainda pratica ao menos
três tipos de discriminações contra os negros e as negras: a
ocupacional, a salarial e a pela imagem.
Portanto, o modelo
predominante de exclusão e marginalização institucionalizadas nas
instituições financeiras demonstra na prática a falta de
responsabilidade social dos bancos e evidencia também a não
valorização de um capital humano multicultural e multirracial
riquíssimo presente numa sociedade plural e diversa como a
brasileira.
Mulheres negras são duplamente discriminadas –
Pesquisas confirmam que a inserção da mulher negra no mercado de
trabalho é caracterizada por ingresso precoce e tem como porta de
entrada o trabalho doméstico, onde 75% não têm carteira assinada.
“É uma condição de extrema desvantagem em relação às
demais mulheres brancas e aos homens, brancos e negros”,
salienta Deise Recoaro, secretária de Mulheres da Contraf-CUT.
As
mulheres negras trabalham em situações mais precárias, têm menos
anos de estudo, menos possibilidades de carreira, têm os rendimentos
mais baixos e as mais altas taxas de desemprego. São as últimas a
serem contratadas e as primeiras a serem demitidas. Situação que
comprova a dura realidade da mulher negra no Brasil.
Pesquisa
elaborada pelo Instituto Ethos, em 2010, mostra que a presença de
mulheres negras nos cargos de comando das empresas é quase nula:
apenas 0,5% está no executivo, 2% na gerência, 5% na supervisão e
9% no quadro funcional.
Irresponsabilidade dos bancos –
Em 2011, os cinco maiores bancos do país – Itaú Unibanco, Banco do
Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal – alcançaram
juntos a cifra de R$ 51 bilhões de lucro líquido.
Apesar
desse valor astronômico, os lucros não se refletem em mais
empregos, mais inclusão e mais responsabilidade social. Ao
contrário, os bancos demitem, praticam a rotatividade – despedem
pessoas com mais tempo de casa com salários maiores e contratam (não
na mesma proporção) com salários menores.
Programas de
inclusão – Conforme demonstram pesquisas, os programas de
valorização da diversidade influenciam fortemente o bom desempenho
financeiro das empresas. Isso porque reforça vínculos e cria um
clima positivo no ambiente de trabalho.
Porém, o que é
verificado na maioria dos bancos, principalmente nos privados, é que
não há implantação de políticas de diversidade. Pelo contrário,
as empresas segregam e excluem de seus quadros pessoas negras. Para
piorar ainda mais, as instituições financeiras não divulgam planos
de ascensão na carreira, o que caracteriza o não reconhecimento do
potencial, da criatividade, do talento e do empenho dos trabalhadores
e das trabalhadoras. Enfim, comete preconceito e discriminação
velada e indireta.