O desafio era transpor para o palco, na íntegra, um dos contos do romance Retratos imorais,
do autor cearense Ronaldo Correia de Brito, morador do Recife. Quem
topou vencê-lo foram as atrizes Paula de Renor e Sandra Possani, que
estreiam no Teatro Apolo temporada da peça Duas mulheres em preto e branco,
com direção do carioca Moacir Chaves. Na trama, duas mulheres, Sandra e
Letícia, travam uma relação de amizade em que se afastam e se
completam.
A história se passa no Recife, mas é uma história
que poderia ser contada em qualquer lugar da América Latina que tenha
enfrentado a experiência e os traumas da ditadura militar, enxergando a
realidade em preto e branco. Nos dias atuais, elas revisitam o passado
e não conseguem escapar dele, seja pelas lentes da história, pela
culpa ou pela crítica.
Duas mulheres em preto e branco
estreou oficialmente no 19º Porto Alegre em Cena – Festival
Internacional de Artes Cênicas, onde foram realizadas três
apresentações. Agora, a temporada é mais demorada, pois a peça fica em
cartaz até 12 de outubro, de sexta-feira a domingo, às 20h.
A
narrativa é tensa, repleta de mistérios, com a vida das personagens
sendo revelada tal e qual um romance policial. “As referências ao
passado são entremeadas de citações de filmes de Fellini e da música de
Nino Rota. Há imersões frequentes na recente história da contracultura
brasileira e no sonho frustrado das esquerdas das décadas de 1960 e
1970”, explica Ronaldo Correia de Brito.