No Recife, Comissão Estadual da Verdade ouve ex-major Ferreira

A Comissão Estadual da
Memória e Verdade Dom Helder Câmara, que investiga as mortes,
torturas e desaparecimentos de pessoas durante o período da ditadura
militar, ouviu nesta quinta-feira (20) o depoimento do ex-major da
Polícia Militar, José Ferreira dos Anjos. Ele atuou na 2ª seção
da PM no período da repressão, e é considerado peça-chave para
esclarecer os crimes ocorridos em Pernambuco durante essa época. A
sessão, que foi aberta ao público, lotou o auditório do Banco
Central, na Rua da Aurora, centro do Recife.

A pedido da
Comissão da Verdade, a própria PM garantiu a segurança do
ex-major, que foi recrutado, em 1969, pelo então comandante do 4°
Exército, o General Ednardo D’Ávila Melo. O trabalho de Ferreira
seria atuar na repressão aos que eram contra o Golpe Militar de
1964.

Durante seu depoimento, o ex-major disse que uma de suas
primeiras missões foi exatamente localizar e prender 12 estudantes
que haviam participado de um congresso da União Nacional dos
Estudantes (UNE), em Ibiúna, São Paulo. Entre os jovens estavam o
jornalista Ricardo Noblat, ainda vivo, e Cândido Pinto, que tendo se
recusado a entrar no carro da polícia, recebeu vários tiros. Pinto
acabou paraplégico, por conta de um tiro que teria sido disparado
pelo ex-major Ferreira.

A fala de Ferreira foi acompanhada
pela família da vítima. Durante o depoimento, a Comissão da
Verdade pediu ainda detalhes sobre a morte do padre Antônio Henrique
Pereira Neto, torturado e morto aos 29 anos, na Cidade Universitária.

“O padre Henrique
estava fazendo um trabalho junto aos drogados, quando alguns
elementos da Polícia Civil trouxeram ele até a Rural (carro) verde
e branca. Estariam nesse carro o X9 e o Rocha. Eles então jogaram o
padre dentro da Rural e sumiram com ele, que só apareceu morto, no
dia seguinte”, explicou o ex-major.

Apenas um dos nove
integrantes da Comissão não esteve presente na sessão pública: o
advogado Gilberto Marques, que não se sentiu à vontade para
participar porque, em 1983, foi assistente na acusação do
julgamento que condenou o então major José Ferreira dos Anjos. Na
época, Ferreira recebeu a sentença de 32 anos de cadeia por ser o
mandante do assassinato do procurador da República Pedro Jorge de
Melo e Silva.

Quando foi assassinado, Pedro Jorge investigava
um desvio milionário de dinheiro do Banco do Brasil na cidade de
Floresta, município no Sertão pernambucano, caso que ficou
conhecido como o Escândalo da Mandioca.

A Comissão Estadual
da Memória e Verdade foi criada em junho deste ano. As investigações
têm dois anos para ser concluídas, mas o prazo pode ser renovado
por mais dois. Em Pernambuco, vão ser analisados dez
desaparecimentos, 39 mortes e mais de cem casos de tortura. Outros 16
estados contam com esse tipo de comissão – todas foram criadas
após o início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade.


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