Latifundiários atacam acampamento indígena pela quarta vez em um mês

Indígenas Guarani Kaiowá sofreram mais um ataque de pistoleiros em
Paranhos, no Mato Grosso do Sul, divisa do Brasil com o Paraguai.
Segundo lideranças que estão no local, na segunda-feira, 10, cerca de 30
homens armados sitiaram o acampamento, destruíram barracos e roubaram
os pertences das famílias desabrigadas.

A Terra Indígena –
chamada Tekoha, ou território sagrado, pelos guarani kaiowá – em questão
já foi homologada pelo governo federal, apesar da desintrusão de
não-indígenas da área ainda não ter sido realizada. Este é segundo
ataque em menos de duas semanas no mesmo local, e o quarto desde a
retomada, realizada no dia 16 de agosto.  Em um dos conflitos, um
acidente provocado pelos pistoleiros levou um bebê de menos de um ano à
morte. Outro guarani kaiowá permanece desaparecido.

Pela manhã,
ao menos 30 homens armados fizeram um cerco ao acampamento dos
indígenas. “Desde a semana passada, os pistoleiros estão armando um
acampamento com telhado de ethernite ao redor da gente”, explica
Dionísio Guarani. “Eles tem tudo calibre 12, 38, pistola, bala na
cintura. Hoje de manhã, eles se aproximaram e atiraram pra cima”,
relatou.

A situação se acirrou durante a tarde, quando a
comunidade foi invadida por dezenas de homens armados. “Chegaram
atirando pra cima. Vindo pra cima. Destruíram dois barracos e levaram
tudo. Pra queimar em algum lugar. Nós gritamos muito”. Duas famílias
estão desabrigadas, mas, segundo Dionísio, novas moradias já estão sendo
construídas para acolhê-las.

Denúncia – Os
indígenas já denunciaram a situação para o Ministério Público Federal
(MPF) – que já havia pedido instauração de inquérito policial para
apurar a morte e o desaparecimento – e a Funai. “Eles estão todos
armados, e nós não. O cara da fazenda tá juntando gente [pistoleiro] aqui. Paraguaio, brasileiro. Estamos esperando alguma notícia [dos
órgãos públicos]”. Segundo Dionísio, Funai, Força Nacional e Polícia
Federal ainda não estiveram no local hoje.

“Os ataques
sistemáticos dos pistoleiros revelam a audácia dos latifundiários e 
demonstram o seu evidente menosprezo às normas legais e ao próprio
Estado brasileiro. Naquela região, eles criam, julgam e executam as
próprias leis”, aponta o secretário executivo do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), Cléber Buzatto.  “Mais ainda, todo o conflito
demonstra a inoperância do governo federal para reverter essas crises – e
também uma aparente falta de vontade política em solucionar o
problema”.  Para o indigenista, há ali uma situação de trincheira, “uma
guerra de um lado só, dos fazendeiros armados, com um poder público
ausente”, conclui.

Potrero guaçu – A área
em processo de demarcação, retomada pelos guarani em agosto, sofreu mais
um ataque. Dois pistoleiros paraguaios à cavalo abordaram indígenas,
disparando pistolas e ameaçando de morte quem atravessasse a porteira da
fazenda.

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