Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) descartou a
possibilidade de que o Brasil sofra uma bolha imobiliária nos moldes da
ocorrida nos Estados Unidos, berço da atual crise econômica
internacional, que já se arrasta há quatro anos. O boletim Conjuntura em
Foco, de agosto, enumerou uma série de fatores que permitem afastar
este risco, como a solidez financeira do país e o crescimento da renda
dos brasileiros, somados ao fato de o crédito no Brasil ser baixo e
ainda fixado no curto prazo.
“O endividamento das famílias com o sistema financeiro (medido em
relação à renda acumulada dos últimos 12 meses) ainda é baixo
comparativamente ao nível alcançado nas regiões atualmente em crise”,
constata a pesquisa. Enquanto o nível de endividamento das famílias no
Brasil atinge 42% da renda acumulada nos últimos 12 meses, o mesmo
indicador chega a 118% nos Estados Unidos e a 108% nos países da zona do
euro.
O Ipea recorda que o país teve durante muito tempo um cenário de baixo
crédito e muita demanda contida, o que ajuda a explicar o crescimento no
número de operações nos últimos anos quando somado a uma série de
medidas adotadas pelo governo federal. Além disso, ocorreu uma alteração
no perfil dos empréstimos tomados pelas famílias, passando a apostar
cada vez mais na compra de casas, que agora representam 23,2% das
operações de crédito das pessoas físicas, contra 18% dos veículos.
O boletim indica que esta pode ser, de fato, uma das explicações para a
dificuldade recente do governo federal de alavancar o crescimento com
base no consumo do mercado interno: à medida que as pessoas contraem
dívidas de longo prazo, tendem a deixar de lado a compra de bens vistos
como supérfluos ou secundários. Mas a aposta é de que em poucos meses
essa tendência perca força por conta da estabilização dos gastos,
facilitada pela redução da taxa básica de juros, atrelada ao aumento da
renda e do nível de emprego, dois fenômenos relativamente recentes no
cenário nacional.
Além dos fatores individuais, o Ipea vê nos bancos brasileiros um
cuidado maior na concessão do crédito do que o encontrado nos Estados
Unidos, principalmente, onde empréstimos de alto risco acabaram levando a
uma crise de inadimplência que resultou em um alto índice de despejos e
na perda do poder de compra das famílias, ingressando em um ciclo no
qual a queda do consumo empurrou a economia como um todo para a
recessão.