“Vivo uma situação de estrangulamento.” É assim que um gerente do Banco
do Brasil resume suas condições de trabalho na instituição. Antes
responsável pela tesouraria, hoje o bancário, além de continuar com essa
função, tem ainda sob sua responsabilidade os setores de manutenção,
limpeza e segurança da agência e, frequentemente, tem de ir para o
caixa. O resultado de quatro meses dessa “sobrecarga brutal de trabalho”
foi o afastamento por estresse elevado e depressão.
Outro gerente, do Itaú, conta que nos 10 anos que está no banco sempre
teve de abrir caixas. “Entrei como caixa, mas não deixei de exercer essa
função nem mesmo quando fui promovido a supervisor operacional e depois
a gerente operacional, cargo que ocupo agora. E isso acontece com 99%
dos gerentes operacionais do Itaú.”
O bancário resume o quadro com tristeza: “A sensação que dá é que os
gerentes do banco perderam a alma. Parece que o espírito deles foi
sugado e só restou o corpo.” E se o espírito está mal – os
trabalhadores, segundo ele, estão adoecendo por estresse -, o corpo não
fica atrás. “Doenças como tendinite são comuns entre os colegas”, diz.
Para um gerente da Caixa, a situação não é muito diferente. “Bancário
exercendo duas, três, quatro funções é muito comum no banco. Sem dúvida
nenhuma falta pessoal e os que estão lá, sofrendo sobrecarga e pressão
dos superiores, estão adoecendo”, afirma.
As histórias desses trabalhadores ilustram a realidade nos bancos, tanto
nos públicos quanto nos privados. O setor financeiro, um dos mais
lucrativos do país, economiza em mão de obra, apostando na sobrecarga do
funcionário, em demissões – quando na verdade seria preciso contratar
-, na rotatividade como forma de diminuir os salários da categoria, e na
terceirização.
Redução de postos de trabalho – Esse é o quadro do emprego bancário no Brasil. Segundo dados dos
próprios balanços dos bancos, houve redução no número de postos de
trabalho nas principais instituições financeiras do país.
Em 12 meses (de junho de 2011 a junho de 2012), o Itaú reduziu mais de 9
mil vagas. De março a junho deste ano, a queda foi de 3.777. No mesmo
período (março a junho de 2012), o Bradesco cortou 571 postos e o
Santander, 135.
Isso mostra que o setor financeiro caminha na contramão da economia
brasileira, cuja taxa de desemprego está nos patamares mínimos da
história.
De janeiro a junho deste ano, a economia brasileira gerou 1,04 milhão de
empregos formais. Para esse total os bancos contribuíram apenas com
0,22%. E isso graças à Caixa Federal, pois se tirarmos a instituição
pública dessa conta, o saldo do setor seria negativo em 1.142 postos de
trabalho.
“É importante lembrar que somente os três maiores bancos privados (Itaú,
Bradesco e Santander) lucraram, juntos, R$ 16 bilhões no primeiro
semestre. Nos primeiros três meses do ano o lucro dos cinco maiores
chegou a R$ 12 bilhões e, em 2011, essa soma (incluindo o HSBC) alcançou
R$ 52 bilhões. Além do mais, o setor bancário é o de maior
rentabilidade no país. Portanto, os bancos podem e devem contratar
mais”, destaca a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Juvandia Moreira.
Rotatividade – Além da redução de postos de trabalho, a rotatividade é alta no setor e é
usada para conter a expansão da massa salarial da categoria. Segundo
pesquisa do Dieese, no primeiro trimestre do ano, o salário médio dos
trabalhadores contratados foi 38,2% inferior ao dos desligados. A
remuneração média foi de R$ 2.656,92 e a dos desligados de R$ 4.299,27.
Ou seja, os contratados recebem 38,2% menos que os desligados. Já na
economia brasileira como um todo, a média salarial dos admitidos é 7%
inferior a dos demitidos.
Presente à mesa que discutiu o tema emprego, na 14ª Conferência Nacional
dos Bancários, em julho, o ministro do Trabalho Brizola Neto criticou a
rotatividade nos bancos e prometeu combatê-la. Segundo ele, as maiores
taxas de rotatividade da economia brasileira são as do setor financeiro e
construção civil. Ele ressaltou, porém, que enquanto o problema na
construção civil tem explicações na sazonalidade própria do setor, no
sistema financeiro ele não se justifica.
Correspondentes – Com cada vez menos bancários nas agências, os bancos acabam empurrando
os clientes, principalmente os de menor renda, para o atendimento
precário dos correspondentes bancários.
No início da década de 2000 o número de correspondentes era
inexpressivo, mas em 2010 eles chegavam a158 mil e, este ano, já
ultrapassaram os 300 mil. “São trabalhadores que não possuem
representação formal e têm direitos limitados”, destaca o técnico do
Dieese, Nelson Karam.
A abertura de correspondentes é mais uma estratégia desse setor tão
lucrativo para cortar gastos com o atendimento aos correntistas e com os
trabalhadores que, terceirizados, não têm os mesmos salários nem os
mesmos direitos dos bancários.