Na Austrália, concentração bancária não impediu ganhos do consumidor

A experiência australiana indica que a forte concentração bancária não
é, necessariamente, sinônimo de falta de concorrência. Os quatro maiores
bancos da Austrália são donos de praticamente 80% do mercado local, mas
as autoridades do país entendem que a competitividade existe e está
aumentando.


Para chegar a essa conclusão, que aparece em relatório da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentam-se dados
relativos à rentabilidade do setor.


O retorno de dez anos das ações dos bancos do país (considerando ganho
de capital e dividendos) ficou em linha com o apresentado por empresas
de outras indústrias, que contam com mais competidores, ao redor de 15%
ao ano.


Fora isso, o estudo da OCDE mostra que a margem financeira dos
principais bancos da Austrália é inferior à praticada em outros países
desenvolvidos e mostra trajetória de baixa.


Por fim, verificou-se que as receitas de prestação de serviços e de
tarifas recuaram como proporção de ativos, empréstimos e depósitos nos
últimos anos.


O estudo da OCDE destaca ainda que sistemas financeiros com maior
concentração, como o da Austrália e o do Canadá – este com seis grandes
bancos – se mostraram mais fortes no pico da crise que estourou em 2008.


Mas os técnicos da organização ressaltam que isso se soma ao fato de os
bancos desses países terem depósitos de varejo como principal fonte de
captação, o que garantiu a eles uma maior estabilidade. A evidência
disso seria que países como Reino Unido e Suíça, que também possuem
poucos grandes bancos, mas com estrutura de “funding” mais dependente de
grandes investidores, teriam sido duramente afetados na última grande
crise.


Em outro relatório sobre concentração bancária, “Bank Competition and
Financial Stability”, a OCDE faz uma compilação de diversos estudos
sobre o tema e conclui que, em serviços financeiros, a concentração não é
uma boa medida de competição. A concorrência pode existir se os poucos
bancos competirem entre si e houver a perspectiva de novos entrantes no
mercado.


“Se você tem seis bancos, já é suficiente para existir concorrência. Se
spreads não caem, não é por isso”, afirma Álvaro Taiar, lider de
serviços financeiros da PwC.


No Brasil, há quem acredite que mais adiante, a concorrência pode se
acirrar apesar da crescente concentração. “As opções de aquisição estão
mais raras. Sem essa alternativa, daqui para a frente, os bancos terão
de brigar pelo cliente do concorrente”, diz Clécio Dias, diretor da área
de serviços financeiros da Ernst & Young.


A recente batalha do governo pela redução dos spreads também pode
colaborar para a maior disputa. “O próprio governo vem incentivando a
concorrência. Quando Banco do Brasil e Caixa anunciaram corte de juros,
outros bancos perceberam que precisam se mexer”, diz o vice-presidente
de uma instituição pública.

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