Onda de violência em SP reflete práticas higienistas do Estado

Cerca de 100 pessoas se reuniram quarta-feira, 11 de junho, no vão do
MASP (Museu de Arte de São Paulo) em um ato pelo fim da violência contra
a população pobre e negra. Organizado por 39 entidades, organizações
políticas e movimentos de direitos humanos, dentre as quais o Levante
Popular da Juventude, o Movimento Mães de Maio, Tortura Nunca Mais,
Tribunal Popular e Saraus – do Binho, Fundão e Ocupa, os manifestantes
acenderam velas em homenagem às recentes mortes nas periferias de São
Paulo.

Os manifestantes denunciaram a onda de assassinatos que
vem ocorrendo nos bairros da zona sul e leste da cidade de São Paulo,
ignorada pela grande mídia e que se agrava a cada dia. No mês de junho,
as mortes resultantes de ações da Policia Militar aumentaram 53% em
relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Mapa da Violência de
2012. Apenas na segunda quinzena, 127 pessoas foram assassinadas na
capital.

O estopim teria sido a morte de seis pessoas em uma
ação da ROTA (Rotas Ostensivas Tobias de Aguiar), no dia 29 de maio, sob
suspeita de serem integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Testemunhas alegaram que um dos homens foi levado ao Parque Ecológico do
Tietê e torturado antes de sua morte. Os policias foram presos em
flagrante pela Corregedoria da PM e pelo Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP).

Danilo Dario, do Movimento Mães de
Maio, esclarece e aponta outro fator que levaria a explosão de violência
na capital. “Aquele equilíbrio precário que se tinha das diversas
forças foi quebrado por uma violência brutal da ROTA, que executou seis
pessoas. E também pela transferência de alguns presos para um regime
diferenciado”, disse o militante. O RDD (Regime Disciplinar
Diferenciado) consiste no encarceramento do preso em uma cela individual
por 22 horas/dia, não é permitido mais de duas visitações por semana,
nem jornais ou televisão.

Após as mortes envolvendo a ROTA no
final de maio, o número de policiais assassinados aumentou
exponencialmente: 40 policiais foram mortos, todos fora do horário de
trabalho. Roberval Ferreira França, comandante geral da PM, não descarta
a relação entre organizações criminosas e estas mortes “Mas nós não
temos informações que nos levem a essa conclusão. Temos várias linhas de
investigações”, disse à Folha de S. Paulo.

O governador Geraldo
Alckmin (PSDB), no dia 27 de junho, declarou à imprensa que “a polícia
não vai retroceder um milímetro. Já tem gente presa e todos serão
presos. E se enfrentar a polícia, vai levar a pior”. Fez referencia
também à queima de 15 ônibus e aos atentados a cinco bases da PM em São
Paulo.

Para Wilson Honólio da Silva, integrante do Quilombo Raça
e Cor, o combate à criminalidade não é o foco da ação policial nas
periferias, e sim a imposição do projeto de higienização de São Paulo.
“Usa-se como justificativa uma situação de criminalidade para legitimar
atos de repressão e higienização. A juventude negra vive na
marginalidade e tem sua vida colocada em risco”, disse.

O número
de homicídios da população branca, entre 2001 e 2010, diminuiu 27,5%
(de 18.852 para 13.668), enquanto a morte de negros teve um aumento de
23,4% (de 26.952 para 33.264) no mesmo período. Segundo o Relatório da
Violência de 2012, em 2010 morreram 139% mais negros do que brancos na
faixa de 15 a 24 anos. Relatório da violência de 2012,

José Arbex
júnior, escritor e jornalista, aponta para a total omissão da grande
mídia frente a espiral de violência locada na periferia, restringindo-se
às mortes policiais, queimas de ônibus e ataques às bases da PM.
Segundo ele, a mídia cumpre seu papel de forma efetiva atrelada ao
Estado e aos interesses de poucos.

“O problema não é a
vitimização de policiais, e sim a apresentação da violência como algo
natural e específico de um setor da população. Ao naturalizar a
violência, a solução é simples: ou prende ou mata”. Continua dizendo que
esse discurso das grandes plataformas de comunicação é atrelado a
questões raciais. Para Arbex, “é um legado da escravidão”. As noticias
são esvaziadas na medida em que se omite as origens da violência, que
calca-se na desigualdade social, cuja disseminação não interessa à
grande mídia.

“O sistema é corrupto, o que estimula a
marginalidade, há uma conivência de vários poderes públicos com isso. O
estado paralelo criminoso existe em estreita ligação com o estado
oficial, a paz que nós precisamos não pode existir nesse contexto”,
declara Wilson.

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