Crescimento e emprego foram as bandeiras da CSI e da CUT no G20 Sindical


A escolha de Los Cabos, no México, para a realização da Cúpula do G20
deu uma mostra da indisposição dos governos dos países capitalistas
centrais de debater a crise que atravessam, em virtude das prioridades
que vêm dando ao sistema financeiro. O território, árido e inóspito, foi
uma tentativa de manter as conversações o mais longe possível dos
movimentos sociais, dificultando a participação de todas as formas. O
acesso ao local é mais do que difícil, praticamente impossível a quem
não vai de avião ou de navio. Superando estes obstáculos, a Confederação
Sindical Internacional (CSI) se fez presente com uma expressiva
delegação de dirigentes, integrada pela Central Única dos Trabalhadores
(CUT-Brasil).

“Crescimento econômico e emprego” foram as principais bandeiras
defendidas pela secretária-geral da CSI, Sharow Burrow, no G20 Sindical,
que alertou para o crescimento do desemprego, que “não é só uma bomba
relógio e política, mas representa neste momento o maior obstáculo à
redução do déficit que joga a zona do Euro na recessão”. Sharow defendeu
os serviços públicos, “que desempenharam um papel chave na
estabilização da crise e que agora estão sendo atacados”.

PRESSÃO SOBRE OS GOVERNOS – “Mesmo com todas as limitações do evento, consideramos que o G20 é um
espaço que precisa ser cada vez mais utilizado para exercer pressão
sobre os governos”, declarou o secretário de Relações Internacionais da
CUT, João Antonio Felício. De acordo com o dirigente, foram várias as
reuniões da delegação da CSI com representações governamentais, sempre
sublinhando o papel dos Estados no combate aos abusos do sistema
financeiro.

“A companheira Sharow Burrow foi enfática na defesa de que a proteção
social é essencial para o crescimento econômico, que os trabalhadores
precisam ter resguardos os seus direitos, salários e empregos, sem o que
não haverá recuperação alguma”, destacou João Felício.

A necessidade de mudanças é urgente, aponta a CSI, lembrando que
“atualmentea, 1 bilhão e 400 milhões de pessoas sobrevivem com menos de
US$ 1,25 ao dia, quase 84 milhões a mais que o período anterior à
crise”. 

Entre outras autoridades, participaram do Seminário organizado pelo
movimento sindical, Chiristine Lugarde, diretora gerente do FMI; Pascal
Lamy, diretor geral da OMC; Ángel Gurria, secretário geral da OCDE; e
Juan Somavía, diretor geral da OIT, todos devidamente sabatinados e
bastante questionados pelas representações dos trabalhadores da
Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, China, Confederação Europeia de
Sindicatos, Espanha, Índia, Indonésia, Inglaterra, Itália, Japão,
México, Rússia e Senegal.

O RETROCESSO DA “FLEXIBILIZAÇÃO” – “Com exceção de Somavía, os demais cumpriram o papel para o qual foram
mandados, com um discurso conformado com a situação e pessimista em
relação ao futuro”, ressaltou João Felício. A defesa feita pelo
secretário geral da OCDE sobre a necessidade de “flexibilizar direitos”
para tornar possível a incorporação do grande contingente de jovens
desempregados nos países europeus, identificando os direitos sociais e
trabalhistas como “amarras” ao desenvolvimento, foi prontamente
questionada e rechaçada pelo dirigente cutista.

“O que está ocorrendo em países como o Brasil, a Argentina e o Uruguai
demonstram que a flexibilização não é o caminho. Ao contrário da Europa,
não está ocorrendo em nossos países flexibilização de direitos, nem
aumento do desemprego, nem diminuição de salários ou enfraquecimento de
sindicatos. Ao contrário, os sindicatos estão tendo liberdade de
organização para dirigir as lutas e greves, demonstrando que para
crescer é preciso valorizar o trabalho”, declarou João Felício.

PAPEL DO ESTADO – “Os governos europeus governam para o sistema financeiro, só falam em
ajuste fiscal, em flexibilização de direitos e buscam enfrentar os
sindicatos, atitude que não fará com que haja recuperação da economia,
muito menos consolidação da democracia. Nossa intervenção em Los Cabos
foi para alertar que os Estados nacionais não devem se adaptar ao
mercado e ao sistema financeiro, mas enfrentar os abusos cometidos por
meio da regulação”, acrescentou. O líder cutista lembrou que,
comprometido com o desenvolvimento, o governo brasileiro vem
implementando alternativas opostas ao receituário neoliberal europeu,
com aumento do crédito, mais investimentos em obras de infraestrutura,
diminuição da taxa de juros, proteção à indústria nacional e maior
controle do sistema financeiro.

PROPOSTAS DA CSI – Defendendo que os líderes do G20 abandonem as “medidas de austeridade”
fiscal e centrem-se num “crescimento inclusivo e na criação de emprego”,
a CSI propôs a implementação de um “Plano de Los Cabos”, contemplando
os seguintes pontos: investimento em infraestrutura, dando prioridade a
projetos com o máximo crescimento e criação de empregos, em particular
os que contribuam com o desenvolvimento sustentável, com respeito ao
meio ambiente; incentivos à população de renda inferior para estimular a
demanda e reduzir a desigualdade; investimento em serviços públicos de
qualidade e a criação de Um Pacto para o Emprego Juvenil do G20, em
estreita colaboração com os movimentos sociais, para investir em
educação, formação, inovação e programas trabalhistas, com foco especial
nos jovens desempregados.

Para a implementação deste plano, entre outras propostas, os
sindicalistas defendem que o emprego seja convertido em um indicador
formal no Processo de Avaliação Mútua para um “crescimento forte,
sustentável e equilibrado”, junto com indicadores de desigualdade
relativa de riqueza e renda; sejam institucionalizadas as consultas em
todos os níveis – incluindo o G20 – aos representantes das organizações
dos trabalhadores e adotadas as recomendações da reunião de Ministros do
Trabalho e Emprego em Guadalajara.

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