Crianças, grávidas, idosos, jovens. De cara pintada, fantasiados, com bebês no colo e cartazes na mão. A marcha da maconha já ocorreu em diversas cidades este ano e acontecerá no próximo sábado (26) em Diadema, Brasília, João Pessoa, Juiz de Fora, Joinville, Nova Iguaçu, Santa Maria e Porto Alegre. Ao todo, são 37 cidades participantes.
No último sábado, dia 19 de maio, foi a vez de São Paulo receber o ato, autorizado em todo país pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde o ano passado. Estiveram lá no centro da cidade aproximadamente 5 mil pessoas, que reivindicavam a implantação de uma nova política de drogas.
As marchas que pregam a descriminalização da maconha são realizadas desde 2007, mas apenas depois da decisão do STF ficaram livres da repressão policial. Segundo Julio Delmanto, do Coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR), a medida possibilitou um planejamento mais organizado da marcha e uma ampliação do discurso.
“O que teve de diferente este ano é que pela primeira vez a gente não chegou na defensiva. Conseguimos nos organizar melhor porque não tem mais esse trabalho jurídico que tinhamos no passado”, disse Delmanto.
Em São Paulo, a concentração começou no vão do Masp e contou com intervenções artísticas, confecção de cartazes, música e debates. Os manifestantes sentaram-se ao redor do professor de história da USP Henrique Carneiro, que discutiu com os presentes as razões da criminalização da maconha, calcadas em questões econômicas (englobando a indústria têxtil e farmacêutica, entre outras), morais e raciais.
Carneiro também enfatizou a importância de expandir o debate para todas as instâncias da sociedade, sem restringi-las apenas ao usuário da droga. “Toda a população que preza a democracia tem que se somar a luta pela legalização da maconha, porque sua proibição é um atentado ao direito de autonomia sobre o próprio corpo e é um prêmio aos traficantes, que são os que mais lucram com o preço elevado pela proibição”.
A grande quantidade de pessoas reflete a transição da questão da política de drogas do individual para o coletivo. Delmanto, do DAR, aponta para o processo de mudança do perfil do manifestante.”Ainda é um movimento sobretudo de jovens, mas o nosso trabalho este ano tem sido de dialogar com outros grupos, fizemos contatos com movimentos sociais e grupos da periferia, por exemplo. Há uma ampliação na nossa gama de parcerias”, explicou.
O mote da marcha era “Basta de Guerra: por outra política de drogas” e reflete essa necesidade de trazer a questão das drogas para o centro do debate da sociedade. Na cartilha informativa distribuída no dia da marcha e disponível para download na internet (http://coletivodar.org/2012/05/faca-download-da-cartilha-informativa-distribuida-na-marcha-da-maconha/) são apresentados resultados numéricos da guerra às drogas implantada pelo Estado e propagandeada por ele como eficaz.
Números e porcentagens escancaram que a população carcerária aumentou exponencialmente, e que a maioria dos detentos são acusados por tráfico de drogas. Também são apresentadas estatísticas que revelam que as condenações têm relação direta com a condição social, cor do acusado e idade: a maioria dos presos são negros moradores da periferia e jovens.