Medidas do BC transferem R$ 33,6 bi dos cofres públicos para 5 bancos

Os cinco maiores bancos do país ganharam R$ 33,6 bilhões do Banco
Central em 2011 como remuneração pelo depósito compulsório. Resultado
das mudanças no compulsório adotadas no fim de 2010, o valor é
equivalente a mais de 60% do lucro líquido destas instituições no
período, que foi de R$ 50,7 bilhões. Os números estão na Pesquisa de
Desempenho dos Cinco Maiores Bancos em 2011, feita pela subseção do
Dieese na Contraf-CUT com base nos balanços de Itaú, Bradesco,
Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.


O ganho dos bancos com a remuneração dos depósitos compulsórios
(instrumento de política monetária com o qual a autoridade monetária
controla o volume de crédito na economia) no ano passado foi 97,4% maior
do que em 2010, quando R$ 17 bilhões dos cofres públicos chegaram aos
bancos por essa via. Excluindo-se os resultados da Caixa, que tem grande
parte de seus recursos destinados para o Sistema Financeiro da
Habitação (SFH) e não ao compulsório, a variação superou 154%.


“Isso é dinheiro público sendo destinado diretamente para os bancos. É
um completo absurdo, mais uma enorme transferência de renda da sociedade
brasileira para o setor financeiro, um dos que mais lucra no país”,
afirma Marcel Barros, secretário-geral da Contraf-CUT.


O aumento é resultado das medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco
Central em dezembro de 2010 visando conter o crescimento do crédito
voltado ao consumo e combater a inflação sem a necessidade de elevar a
taxa Selic. O pacote previa o aumento do compulsório (de 15% para 20%) e
instituiu um compulsório adicional, de 8% e 12% sobre depósitos a vista
e a prazo. Diferentemente do compulsório regular, esse adicional é
integralmente remunerado de acordo com a taxa Selic, aumentando
substancialmente o gasto do BC – e os ganhos dos bancos.


“A iniciativa de buscar formas de intervir no aquecimento da economia
sem mexer na taxa básica de juros foi louvável, mas apresenta esse
efeito colateral dos mais nocivos, que é o incremento da bolsa-banqueiro”, sustenta Marcel.

Resultados das Aplicações Compulsórias dos 5 Maiores Bancos (em bilhões de R$)

Banco

Dez/2010

Dez/2011

Variação Absoluta

Var. %

Banco do Brasil

3,586

7,231

3,645

101,6%

Caixa

4,546

6,711

2,165

47,6%

Bradesco

2,905

6,141

3,236

111,4%

Itaú

4,105

9,359

5,253

128,0%

Santander

1,891

4,185

2,294

121,3%

Total

17,034

33,630

16,595

97,4%

Fonte: Demonstrações Financeiras – Dezembro de 2011.
Elaboração: Dieese – Rede Bancários

Muitas agências, poucos bancários


O estudo do Dieese mostra um sistema financeiro em excelente situação
mesmo em um ano marcado por uma conjuntura internacional difícil. “Os
resultados obtidos pelos cinco maiores bancos que atuam no Brasil
apontam para uma situação de baixa vulnerabilidade do setor financeiro
brasileiro ao cenário externo, receitas, ativos e patrimônio em alta,
além dos crescentes lucros”, diz a pesquisa, que reúne os principais
destaques das demonstrações financeiras quanto aos resultados e ao
quadro de pessoal.


Um dos destaques do estudo é a discrepância entre o aumento no número de
agências e a contratação de pessoal. As cinco empresas terminaram 2011
com 18.624 unidades, um aumento de 9% em relação ao ano anterior. No
entanto, o crescimento no número de funcionários foi de apenas 2,8%,
totalizando 456.987 bancários.

Estoque de Funcionários e Saldo e Emprego nos Cinco Maiores Bancos
Brasil – Dezembro de 2010 a Dezembro de 2011

Banco

Número de Empregados

Saldo

Variação %

Dez/2010

Dez/2011

Banco do Brasil

109.026

113.810

4.784

4,39%

Caixa

83.185

85.633

2.448

2,94%

Bradesco

95.248

104.684

9.436

9,91%

Itaú

102.316

98.258

– 4.058

– 3,97%

Santander

54.406

54.602

196

0,36%

Total

444.181

456.987

12.806

2,88%

Fonte: Demonstrações Financeiras – Dezembro de 2010 a Dezembro de 2011

Elaboração: Dieese – Rede Bancários


“A falta de funcionários piora a qualidade do atendimento aos clientes e
sobrecarrega os trabalhadores, gerando estresse, lesões por esforço
repetitivo (LER) e doenças psíquicas, como a depressão. Não é a toa que
os bancários estão entre as categorias com maior número de afastamento
por doenças psíquicas segundo dados do INSS”, afirma Marcel. “É uma
situação que prejudica clientes e trabalhadores. Os únicos beneficiados
são os bancos”, sustenta.

Correspondentes bancários


O líder em abertura de agências foi o Bradesco, em estratégia para
compensar a perda do Banco Postal para o Banco do Brasil. O número de
agências do banco cresceu 27,7%, passando de 3.628 em 2010 para 4.634 em
2011. O banco também foi líder em contratações, com 9.436 novos postos
de trabalho, 9,91% a mais que no ano passado – crescimento bastante
inferior em relação ao do número de agências.


Do outro lado, o Itaú fechou 4.058 postos de trabalho, diminuindo em
3,97% seu quadro de funcionários. O banco foi o único entre os
pesquisados que reduziu seu quadro. “Um banco com os resultados do Itaú
não pode ir na contramão da sociedade brasileira dessa forma”, lamenta
Marcel.


Para ele, a estratégia do Bradesco demonstra uma das falácias adotadas
nos últimos anos pelo sistema financeiro para defender a precarização do
trabalho resultante dos correspondentes bancários. Os bancos sempre
defenderam os correspondentes como fundamentais para promover o que
chamam de bancarização da população, levando serviços bancários a
locais sem a densidade necessária para abrigar uma agência.


“Agora, quando perde o contrato com o Banco Postal, o Bradesco resolve
que essas localidades magicamente passaram a ter clientes e viabilidade
financeira o bastante para receber agências. Ou estavam enganados ou se
tratava apenas de uma estratégia para reduzir custos, oferecendo aos
clientes de baixa renda um tratamento de segunda categoria”, afirma o
dirigente. “Defendemos a universalização dos serviços bancários, mas sem
discriminação. É preciso abrir novas agências e contratar bancários,
oferecendo serviços de qualidade, com garantia de sigilo, e pagando os
salários e direitos conquistados pela categoria”, defende.

Lucros continuam elevados


Os cinco maiores bancos apresentaram resultados bastante positivos
financeiramente. Os ativos totais somaram R$ 3,5 trilhões em 2011,
crescimento de 18,1% em relação ao ano anterior – valor equivalente ao
PIB do país em 2010, apurado em R$ 3,675 trilhões. Quanto ao lucro
líquido, o resultado total de R$ 50,7 bilhões foi 9,8% superior ao do
ano anterior. O destaque fica para a Caixa Econômica Federal, que
apresentou os melhores resultados no período, com crescimento de 27,4%
nos ativos totais e de 37,7% no lucro líquido.

Lucro Líquido dos Cinco Maiores Bancos – Dezembro de 2011 (em milhares de reais)

Banco

2010

2011

Variação %

Banco do Brasil

11.703.185,00

12.125.990,00

3,6%

Caixa

3.764.411,00

5.182.525,00

37,7%

Bradesco

10.021.673,00

11.028.266,00

10%

Itaú

13.322.936,00

14.620.621,00

9,7%

Santander

7.382.574,00

7.755.853,00

5,1%

Total

46.194.806,00

50.713.255,00

9,8%

Fonte: Demonstrações Financeiras – Dezembro de 2011
Elaboração: Dieese – Rede Bancários


“É interessante notar que o crescimento da Caixa acontece com base no
aumento da concessão de empréstimos, especialmente crédito imobiliário.
Isso prova que a intermediação financeira, que é a atividade por
excelência do setor financeiro e que tem sido deixada de lado pelos
bancos no Brasil, é um negócio bastante lucrativo. Não é preciso ganhar
dinheiro apenas com aplicações na dívida pública ou cobrando tarifas
elevadíssimas de seus clientes”, diz Marcel.

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi