Como reflexão em
torno do Dia Mundial de Luta contra a Aids, 1º de dezembro, a organização
feminista Flora Tristán organizou dados de várias pesquisas no Peru que
demonstram a vulnerabilidade das mulheres diante do HIV/Aids. Questões
relacionadas à anatomia, mas fundamentalmente aos valores machistas, contribuem
para a feminização da Aids no país.
De acordo com o
material, em 1986, três anos após o registro do primeiro caso de Aids no Peru,
para cada mulher infectada pelo HIV havia nove homens na mesma situação. Hoje,
para cada mulher, há três homens com o vírus.
Para a organização,
a desigualdade de gênero e o machismo contribuem para a aceleração da disseminação
do HIV/Aids entre a população feminina. “Ambos os fatores limitam a capacidade
das mulheres, por exemplo, para negociar práticas sexuais seguras, como o uso
contínuo de preservativos, principalmente quando as relações sexuais se dão no
marco de uma relação de casal considerada estável”, pontuam, acrescentando que
isso se evidencia mesmo quando se suspeita que o parceiro tenha posturas
sexuais de risco ou para lhe exigir um exame que detecta HIV ou outras DSTs.
Há situações ainda
mais complicadas, como as de violência sexual. Neste contexto, é quase
impossível negociar as relações sexuais e o uso do preservativo, assinalam as
feministas. De
acordo com pesquisa sobre saúde familiar do Instituto Nacional de Estatística e
Informática, 22,4% das mulheres entre 40 e 49 anos foram obrigadas, alguma vez,
a ter relações sexuais com o esposo ou companheiro. 14% foram obrigadas a
manter relações sexuais que não desejavam.
Somada a essa
conjuntura de violência sexual, inclusive dentro do matrimônio, vem o fato de a
anatomia feminina representar maior facilidade de infecção. Como informa o
texto de Flora Tristán, o risco para as mulheres, em uma relação vaginal
desprotegida, é de 2 a 4 vezes mais grave do que para o homem – a zona de
exposição ao vírus durante a relação sexual é maior para as mulheres, além de
que a carga viral é maior no sêmen do que nas secreções vaginais.
Para as adolescentes a situação é ainda mais perigosa, uma vez
que o colo do útero tende a ser imaturo e as paredes da vagina são menos
grossas. As mulheres na menopausa também se tornam mais expostas, pois a
superfície da vagina tende a se tornar mais fina.
Consideradas um
grupo de baixo risco, as mulheres acabam sendo deixadas em segundo plano quando
o assunto são políticas de prevenção ao HIV/Aids. Contudo, a feminização da
doença e estimativas de novos casos mostram que já é preciso modificar essa
visão, principalmente com relação a mulheres heterossexuais e monogâmicas.
O Estudo de
Estimativa da incidência do HIV aplicando o modelo de Modos de Transmissão para
epidemias concentradas prevê que do total de novos casos de infecções, 43%
serão entre heterossexuais. Desta porcentagem, 15% são heterossexuais
pertencentes ao grupo de baixo risco e 18% são as mulheres cujos parceiros são
clientes de profissionais do sexo, dos homens que fazem sexo com homens (HSH)
ou são usuários de drogas injetáveis.
Uma das maneiras de resguardar as mulheres seria investir em
informação e na disponibilização ampla, por parte do Estado, de preservativos
femininos, que atualmente não são encontrados nem em postos de saúde nem no
mercado. “As estatísticas demonstram que as mulheres de todas as idades usam o
preservativo em uma baixa porcentagem quando têm relações sexuais com o esposo
ou companheiro. As adolescentes e as mulheres entre 40 e 49 anos são as que
menos usam este método de proteção”, adverte.
Dados gerais – Desde 1983 até outubro deste ano, de acordo com o Ministério da
Saúde, foram registrados 28 mil casos de Aids e 47 mil casos de pessoas com
HIV, totalizando 73 mil peruanos/as convivendo com HIV/Aids. A maioria das
pessoas com HIV/Aids tem entre 25 e 35 anos. 97% adquiriram o vírus por meio de
relações sexuais, enquanto 2% por transmissão vertical (da mãe para o filho) e
1% por compartilhamento de agulhas.
Ainda segundo o
órgão, 0,6% da população peruana tem HIV, mas a infecção é considerada
concentrada, pois entre os grupos dos HSH, 10% convivem com o vírus e entre os
travestis a porcentagem chega a 40%. A maioria dos casos está nas cidades e
departamentos mais urbanizados, na costa e na selva peruana – Lima e Callao
concentram 73% das ocorrências.