Estudantes apresentam proposta de segurança para USP

Uma coisa uniu a esquerda do movimento estudantil
paulista: a repressão policial. Os grupos de esquerda se dividiram em
relação à decisão de ocupar a reitoria da Universidade de São Paulo
(USP) em protesto contra uma ação policial ocorrida na semana anterior.
Mas, as dissensões foram superadas quando a polícia de Geraldo Alckmin,
na última terça-feira, montou um cenário de guerra com uma tropa de 400
policiais, quatro helicópteros, esquadrão antibombas, cavalaria, Grupo
de Ação Tática Especial (GATE) e Grupo de Ações Especiais (GAE), que
desalojaram à força, no último dia 8, os estudantes que ocuparam a
reitoria.


A PM fez 73 presos e conseguiu a proeza de juntar
contra ela, na assembleia que decretou greve na universidade no mesmo
dia, 2500 estudantes – número que não era atingido desde 2007. Mais do
que isso, deu uma boa mão para que os estudantes conseguissem formular
uma proposta de segurança para a universidade (que, de fato, tem
sofrido com muitas ocorrências, inclusive de estupro): iluminação
adequada e guardas da própria universidade, escolhidos por concurso
público, controlados pela comunidade e treinados para lidar com o
público universitário, especialmente as mulheres, maiores vítimas de
violência no Campus.


O repórter Fábio Nassif e os estagiários
Caio Mello e Felipe Blumen acompanham o episódio desde o seu início e
fazem um relato de como os estudantes da USP se articularam a partir da
prisão de seus colegas.

Greve deflagrada –
Por Caio Mello

No
dia 8 de novembro, no saguão da História e Geografia da FFLCH,
reuniram-se cerca de 2500 pessoas, que discutiram e deliberaram sobre
as estratégias de mobilização estudantil. A assembleia geral foi
organizada em resposta à presença massiva da polícia para retomar a
Reitoria, que havia sido ocupada uma semana antes, e à prisão de 73
estudantes. Os policiais também cercaram o Conjunto Residencial da USP
(Crusp) para que os estudantes que lá moram não pudessem sair de suas
casas e não se juntassem aos demais manifestantes. Ao seu final, a
assembleia deu uma resposta propositiva dos estudantes quanto ao
problema da Segurança Pública.

A terça-feira amanheceu ainda
com a presença da polícia no campus. A partir daí, organizou-se um
cronograma para o dia, com aula pública do professor Paulo Arantes em
frente à reitoria e depois plenárias dirigidas nos cursos.

A
assembleia se polarizou entre as propostas de indicativo de greve e
pela greve imediata. Somente com a separação física das pessoas no
plenário foi possível concluir que a decisão da maioria foi pela greve
imediata, logo incorporada pelos setores que perderam a votação. Outras
questões também foram tratadas, como a criação de um Comando de Greve
formada pelos delegados dos cursos e também um calendário pautado para
estabelecer um diálogo com a opinião pública e estudantes de outras
faculdades.

Grande ponto de polêmica na USP, aprovou-se um
programa alternativo de segurança que inclui um plano de iluminação no
campus, políticas preventivas de segurança, abertura do campus à
população, abertura de concurso público para a constituição de uma
guarda universitária, com treinamento para prevenção dos problemas de
segurança e com efetivo feminino para a segurança da mulher, aumento do
número de ônibus circulares e até a estação de metrô Butantã.

O primeiro dia de greve
Por Felipe Blumen

Desde
antes de a proposta de greve ser aprovada na assembleia, algumas
barricadas com cavaletes, cadeiras, cones e bancos já haviam sido
montadas em frente aos prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FLCH) e do Crusp. O Centro Acadêmico do curso de
Letras organizou um piquete em frente ao seu prédio. Em vista dos
acontecimentos do começo do dia, e sabendo que os estudantes ainda
deliberariam sobre o assunto, os professores responsáveis pelos
departamentos da Faculdade suspenderam as aulas.

Como foi
decidido na assembleia que não seriam feitos ‘cadeiraços’, ou seja,
que alunos não seriam impedidos de entrar nas salas, a maioria dos
professores deu aula normalmente na quarta-feira. Eles foram
orientados, no entanto, a liberar os alunos, a fim de que todos
pudessem participar das plenárias, nas quais cada curso debateu sua
posição sobre a greve.

Várias reuniões foram marcadas para esta
semana em diversas unidades da USP. Ocorreram plenárias no Instituto
Oceanográfico, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, no Centro
Acadêmico de Relações Internacionais, na Escola de Comunicações e
Artes, no Instituto de Matemática e Estatística e nos três prédios da
FFLCH. A Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, a Adusp
também se reuniu.

Estudantes liberados – Depois de
passarem toda a terça-feira na 91a Delegacia de Polícia, na Zona Oeste
de São Paulo, os alunos que foram presos na reintegração de posse da
reitoria da USP conseguiram ser liberados na madrugada. Foram detidos
73 alunos, sendo 24 mulheres e 49 homens.

Todos foram autuados
em flagrante e responderão por desobediência a ordem judicial – por não
desocuparem o prédio após decisão da justiça – e por dano ao patrimônio
– por, segundo a perícia da polícia, danificarem o patrimônio da
universidade.

Os estudantes alegam que só ocuparam o andar
térreo do prédio e, com exceção do portão de entrada e das câmeras de
segurança, mantiveram tudo como estava. Em entrevista ao Jornal do
Campus, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp,
afirmou que nenhum membro da comissão de negociação formada pelos
estudantes foi chamado para acompanhar a vistoria feita pela polícia no
prédio da reitoria.

Os alunos foram liberados após pagarem uma
fiança no valor de um salário mínimo por pessoa. Passaram por um
interrogatório padrão de 12 questões e realizaram exames de corpo de
delito no Instituto Médico Legal, ao lado da delegacia.

Do lado
de fora da delegacia, alunos, pais e funcionários protestavam contra a
prisão e a atuação da polícia. Uma nota oficial foi feita por um grupo
de pais e entregue a uma repórter da Folha de São Paulo. Embora não
tenha sido publicada, os autores disseram no ato da entrega que
repudiavam a incapacidade da reitoria em negociar com os alunos,
recorrendo ao uso de força policial.

Ato, assembleia e mais greve
Por Fábio Nassif

Na
quinta-feira, aproximadamente 5 mil pessoas ocuparam as ruas do centro
da cidade para protestar e explicar à opinião pública as razões da
greve. Enfrentando um forte calor, os estudantes guiaram o ato de cima
de um caminhão de som, onde seus representantes fizeram discursos,
puxaram palavras de ordem e receberam apoio de outros movimentos
sociais.

Com muitos cartazes e faixas nas mãos, o ato prosseguiu
até a noite, quando voltou para a frente da Faculdade de Direito no
largo São Francisco. A polícia acompanhou a manifestação com câmeras
filmadoras na mão.

O ato contou também com a presença de
professores da USP como Luiz Renato Martins e Jorge Luiz Souto Maior,
além de Plínio de Arruda Sampaio, que discursou a favor da autonomia
universitária dizendo que “nem governo, nem polícia, nem Igreja, nem
poder econômico, ninguém pode entrar na universidade”, para que ela
tenha qualidade intelectual.

Em seguida, os estudantes
realizaram mais uma assembleia, com cerca de dois mil presentes.
Votaram a manutenção da greve e a convocação de uma audiência pública
na quarta-feira (16), às 18h, em frente ao prédio da reitoria, onde
convidarão o reitor João Grandino Rodas. Além disso, incorporaram a
bandeira de “10% do PIB para educação pública já”.

Nesta
sexta-feira, estudantes da Faculdade de Economia e Administração (FEA),
Escola Politécnica, Instituto de Matemática e Estatística, e dos cursos
de Física, Biologia, Audiovisual e Geografia marcaram reuniões.

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