Bancários, petroleiros e grevistas dos Correios se unem no Rio por aumento real

Bancários, petroleiros, trabalhadores dos
Correios em greve, portuários, químicos e representantes de
diversas outras categorias se reuniram na Candelária, no Rio de
Janeiro, na manhã desta quarta-feira (21) para lutar por aumento
real de salário, defesa da vida, fim do assédio moral, ratificação
das Convenções 158 e 192 da OIT, fim dos correspondentes bancários,
fim do fator previdenciário e redução da jornada de trabalho sem
redução de salários, entre outras reivindicações. Por volta das
10h, cerca de 2 mil pessoas seguiram pelas ruas do centro até a
Edise, edifício-sede da Petrobrás, onde realizaram um ato
público.

O evento reuniu duas das maiores categorias do país,
que negociam no segundo semestre: os bancários e petroleiros. Os
trabalhadores dos Correios, que já estão em greve e enfrentam a
intransigência da direção da empresa, também organizaram o ato e
participaram ativamente. Havia também trabalhadores de várias
categorias e até um representante dos petroleiros bolivianos.

Foi
um grande ato unificado para mostrar a disposição de luta de várias
categorias contra o aperto salarial que algumas empresas estão
tentando impor a seus funcionários. O ato também teve como mote a
luta por melhores condições de trabalho e respeito à vida, uma vez
que os acidentes de trabalho continuam vitimando trabalhadores de
várias categorias.

“É muito importante a unidade de
todas as categorias para mostrar e chamar a atenção da sociedade
que nós não vamos aceitar a visão de alguns economistas, inclusive
do BACEN, de que salário causa inflação. A melhor forma de
enfrentar a crise é aumentando os salários, a renda, fortalecendo o
mercado interno e é por isso que estamos nas ruas para defender
salário, emprego, saúde e condições de segurança”,
esclareceu Artur Henrique, presidente da CUT.

Já o secretário
de Administração e Finanças da CUT e ex-presidente da Contraf-CUT,
Vagner Freitas, citou que a realização do ato era um exemplo da
atuação da CUT ao lado dos trabalhadores. “Muitas pensaram que
com a eleição do companheiro Lula e da Dilma nós iríamos
arrefecer a luta do movimento sindical. Muito pelo contrário,
estamos cada vez mais mobilizados e com unidade entre as categorias.
O Brasil hoje registra uma boa taxa de crescimento econômico, mas
queremos o retorno disso com distribuição de renda para a classe
trabalhadora”, ressaltou.

Construir a mobilização –
Os bancários, que estão numa semana decisiva das negociações
da Campanha Nacional, levaram às ruas a proposta de índice
rebaixado apresentada pelos bancos, que supera a inflação do
período em menos de meio ponto percentual. Os sindicalistas também
deixaram claro que o assédio moral, as metas abusivas e a sobrecarga
de trabalho estão adoecendo os trabalhadores. Também foi denunciada
à população a alta rotatividade no setor, que demite trabalhadores
para contratar outros por um salário mais baixo.

A proposta
apresentada pelos banqueiros na última negociação, no dia 20, nem
se aproxima da reivindicação dos bancários. Ainda vai acontecer
uma nova rodada nesta sexta-feira, dia 23, mas os bancários já
estão se preparando para uma greve a partir do dia 27.

“Estamos
vendo claramente que é insuficiente a proposta apresentada porque
oferece apenas 0,37% de aumento real e isto está muito longe do
lucro e da rentabilidade dos bancos”, afirma Carlos Cordeiro,
presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos
Bancários.

“Não houve proposta de valorização do
piso e, como nossa campanha não é meramente econômica, estamos
preocupados porque a questão do emprego, da rotatividade, da falta
de funcionários foi um tema que debatemos muito na mesa. Queremos
que essa campanha, essa convenção coletiva possa apontar alguma
solução. O que os bancários hoje mais reclamam é das péssimas
condições de trabalho, do assédio moral, da pressão pelo
cumprimento de metas e nestes pontos também não avançou nada”,
sustenta.

Para Fabiano Júnior, presidente da Federação dos
Bancários do Rio e Espírito Santo, a sinalização foi positiva,
porque a proposta apresentada pelos banqueiros zerou a inflação e
deu 0,37% de aumento real. “Mas isso é insuficiente e, para
mudarmos esta realidade, só com mobilização e assembleias cheias.
É importante que todos os bancários e bancárias dos estados do Rio
e Espírito Santo, a base da nossa Federação, junto com seus
sindicatos, mobilizem toda a categoria para as assembleias do dia 22.
E no dia 26 vamos ter novas assembleias para avaliar o resultado da
reunião do dia 23”, anuncia.

A expectativa dos
sindicalistas é de que a Fenaban faça uma proposta mais próxima do
que foi reivindicado pelos bancários na rodada de sexta-feira, dia
23, mas eles sabem, pela experiência, que isso só acontece se
houver muita pressão. “Já sabemos que, só com uma greve
organizada da categoria, vamos conseguir que a Fenaban apresente uma
proposta melhor”, pondera Fabiano.

Problemas comuns –
Mobilizados estão também os ecetistas, que estão em greve
desde o último dia 13 e lidam com a ameaça de desconto dos dias
parados, já que a empresa já anunciou que só vai abrir negociação
se a paralisação for suspensa. Além de reajuste, os trabalhadores
dos Correios reivindicam aumento do piso.

“Estamos
pedindo a incorporação de R$ 400 e piso salarial de três salários
mínimos para retomarmos o rumo da recomposição salarial”,
informa Ronaldo Martins, presidente do SintECT-RJ. Também entrou na
pauta de reivindicações o aumento do número de trabalhadores da
empresa, já que nos últimos três anos não houve contratações.
Um PDV recente também ajudou a piorar a situação e os Correios têm
atualmente um déficit de 11 mil trabalhadores no país.

Em
comum com os trabalhadores do sistema financeiro, os ecetistas têm o
problema dos correspondentes bancários. Depois de terminado um
contrato de dez anos com o Bradesco para operar o Banco Postal, o
governo acaba de fechar contrato com o BB para explorar o serviço.
Mas o banco só entra no processamento de documentos, já que todo o
serviço de caixa é feito pelos atendentes dos correios.

“Hoje
o Banco Postal dos Correios é um serviço bancário, mas os
atendentes não recebem a quebra de caixa. Temos também a luta pela
jornada de seis horas para esses trabalhadores. Hoje pagam-se todas
as contas, paga-se aposentadoria, mas não há segurança nas
agências, não se paga a quebra de caixa aos atendentes. Nossa luta
também vai na direção dos Correios terem seu próprio banco nesse
novo modelo, para que tenha mais recursos para a empresa”,
defende Ronaldo Martins.

A segurança também é um problema
para os trabalhadores dos Correios. Carteiros, motoristas e
atendentes são vítimas de assaltos com muita frequência. “Nas
agências não há câmeras de monitoramento, falta o profissional de
segurança, falta a porta giratória. Os trabalhadores ficam expostos
e há muitos trabalhadores afastados por problemas psicológicos.
Isso acontece muito também com carteiros. A empresa, aqui no Rio, só
tem 12 carros de escolta. Dá para cobrir, muito mal, o município de
São Gonçalo. Temos áreas onde fazemos entrega de valores, em que
os trabalhadores são assaltados quase diariamente”, denuncia o
dirigente ecetista.

Defesa da vida – Para os
petroleiros, a manifestação também teve um mote específico: os
acidentes do trabalho, que já vitimaram 15 trabalhadores – sendo a
maioria terceirizados – em 2011, sendo 8 só no mês de agosto.

Os
manifestantes levaram cruzes simbolizando os 309 petroleiros e
prestadores de serviço mortos no exercício de suas atividades
profissionais desde 1995. Quando a passeata chegou à sede da
Petrobras, as cruzes foram fincadas no gramado ou colocadas na
calçada em frente ao edifício.

“Há dois pilares que
são as causas das mortes na Petrobras: primeiro, a terceirização.
Depois, a redução dos efetivos, tanto próprio, quanto de
terceirizados. E nós temos grandes propostas que já apresentamos à
empresa, e vamos continuar insistindo para que haja uma mudança”,
informa João Moraes, presidente da Federação Única dos
Petroleiros – FUP.

Além dos acidentes, os petroleiros lutam
para derrubar a determinação do governo de não conceder aumento
real aos empregados das estatais. “Vamos mostrar que o caminho é
o da recomposição salarial, de melhoria de condições de trabalho
para o povo. Se o Brasil entrar nessa lógica de que salário causa
inflação, vamos acabar como a Europa, como os EUA, sem mercado
consumidor e em derrocada total”, avalia Moraes.

O
sindicalista também lembra que a situação da Petrobras é
excelente, já que atua num mercado em expansão, e que a empresa tem
planos de investir US$ 170 bilhões nos próximos anos. “Os
resultados disso vão ser estrondosos; os lucros, imensos e
crescentes. Nada justifica que a Petrobras não apresente ganho real
para a categoria. E, se ela insistir em seguir esta orientação do
governo – e a gente espera que o governo a reveja – a nossa resposta
vai ser a mobilização e, se for necessário, a greve, a parada de
produção”, anuncia o dirigente.

Em comum com os
bancários, os petroleiros têm a luta contra as terceirizações,
sobretudo o combate ao PL 4.330/04, do deputado federal Sandro Mabel
(PR-GO), que amplia a legislação permitindo o trabalho terceirizado
até mesmo nas atividades-fim. “O projeto do deputado Mabel vai
na contramão da história, piora e precariza ainda mais as condições
de trabalho. É um desserviço o que esse deputado presta ao nosso
país”, avalia Moraes.

Representatividade –
Sindicalistas de várias bases estiveram presentes. Pelos
bancários, compareceram diretores da Federação e representantes
dos Sindicatos da Baixada Fluminense, Petrópolis, Rio de Janeiro e
Sul Fluminense, na base da Federação. A presidenta do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Juvandia Leite, e o presidente da
Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, também participaram, ressaltando o
caráter nacional do ato.

Pelos petroleiros, além de
dirigentes da FUP, compareceram representantes de vários sindicatos
do Dstado e do Sindipetro-BA, além do secretário-geral da Federação
Nacional dos Petroleiros da Bolívia, David Ruella.

Pelos
ecetistas, participaram o Sindicato do Rio de Janeiro e a federação
nacional da categoria, a FentECT. Representantes da Confederação
Nacional dos Químicos – CNQ e da Federação Nacional dos Portuários
(FNPortuarios) também compareceram.

O ato teve ainda a
presença de representantes dos metalúrgicos, eletricitários,
radialistas e trabalhadores das telecomunicações do estado, além
de integrantes da direção da União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas – UBES.

O vereador Reimont Otoni (PT) e o
deputado estadual Gilberto Palmares (PT) levaram seu apoio ao ato dos
trabalhadores.

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi