Mais uma liderança é assassinada no Pará

Mais
um líder de trabalhadores rurais foi assassinado no Pará. Valdemar
Oliveira Barbosa, de 54 anos, foi morto na quinta-feira (25), por
volta das 10h, com tiros na altura do rosto e pescoço no bairro de
São Felix, na Avenida Belém-Brasília, periferia de Marabá.
Pessoas que testemunharam o assassinato disseram que os tiros foram
disparados por um pistoleiro que fugiu, auxiliado por outro homem, na
garupa de uma moto. Como usavam capacetes, eles não puderam ser
reconhecidos.

Conhecido como Piauí, Valdemar é a sexta
liderança de trabalhadores rurais da região sul e sudeste no estado
executada por pistoleiros nesse ano. Em maio ele procurou a Delegacia
de Conflitos Agrários em Marabá (DECA) e registrou uma ocorrência
alegando que estava sendo ameaçado de morte por Vicente Correa,
proprietário da fazenda Califórnia, localizada na zona rural do
município de Jacundá, onde Valdemar foi líder de uma ocupação em
2010.

O crime está sendo investigado pela Delegacia de
Conflitos Agrários de Marabá. O inquérito é presidido pelo
delegado José Humberto de Melo Junior. Segunda a Polícia, a
principal suspeita é de que o crime tenha sido motivado pela
ocupação da área.

Valdemar era liderança do acampamento Califórnia,
quando ele e cerca de 80 famílias foram expulsos pela Polícia
Militar do Pará em setembro do ano passado. O líder planejava,
entretanto, reocupar a fazenda ligada a atividades de carvoaria e
pecuária. Valdemar também era vinculado ao Sindicato dos
Trabalhadores Rurais em Marabá e participava de ocupações de
sem-terra na condição de coordenador. Desde a desocupação, ele
morava na ocupação urbana Folha 06, no bairro Nova Marabá.

O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em
Marabá, José Batista, destaca que a morte de Valdemar e de outros
trabalhadores rurais na região não são casos isolados. Segundo
ele, a alta tensão na região motivada pelos conflitos de interesses
entre latifundiários e empresas ligadas à mineração e famílias
sem alternativas de moradia tem motivado crimes como esses.

“Essa é uma região de expansão do agronegócio
e dos interesses da mineração principalmente. Isso provoca uma
migração muito forte para cá, principalmente de famílias do
Nordeste, e em contrapartida não há políticas públicas de reforma
agrária e de inserção dessas famílias em algum trabalho. As
alternativas acabam sendo a ocupação urbana ou rural”, explica.

As ocupações rurais, principalmente, têm sido
alvos de intensas repressões dos latifundiários. As mortes acabam
ocorrendo e não são investigadas. “A gente tem dito que para
diminuir a violência, além de enfrentar esse modelo, é preciso que
a polícia investigue os crimes. A maioria absoluta dos casos de
assassinato no campo no Pará não são investigadas e os
responsáveis pelos crimes não são responsabilizados. Se um
pistoleiro é pago com R$ 5 mil para matar alguém e não é punido,
ele vai ser estimulado a receber outros valores para assassinar
outras pessoas”.

Até o momento, segundo José Batista, dos cinco
homicídios de trabalhadores rurais ocorridos antes da morte de
Valdemar, a polícia investigou apenas a morte do casal de
ambientalistas de Ipixuna, José Claudio e Maria do Espírito Santo.
Nesse caso, a Polícia Civil não conseguiu descobrir os envolvidos
no crime, mas a investigação segue com a coordenação da Polícia
Federal.

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