Mesmo com inflação maior e perspectiva de desaceleração da economia, as
campanhas salariais do primeiro semestre mantiveram a tendência
positiva, com 84% dos reajustes superiores à inflação do período,
segundo levantamento divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Foi o segundo melhor resultado dos últimos quatro anos. Os 7% de acordos
com reajustes inferiores à variação do INPC, ante 4% no ano passado,
não são vistos como uma mudança de sinal. Sindicalistas e técnicos
interpretam que o discurso de que salário provoca inflação, repetido
insistentemente desde o início do ano, não vingou – mas certamente se
repetirá agora, quando várias categorias entram em campanha salarial.
“A tendência continua. Ainda que haja uma desaceleração da atividade
econômica, o mercado interno vai segurar o crescimento da economia”,
avalia o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre
Prado de Oliveira.
O presidente da CUT, Artur Henrique, espera resultados melhores neste
segundo semestre. “Uma parte desses ganhos, desse aumento de
produtividade, tem de ser dividida com os trabalhadores”, afirma.
De 353 acordos analisados pelo Dieese, 298 (84,4%) superaram a variação
do INPC, 31 (8,8%) igualaram o índice e 24 (6,8%) ficaram abaixo da
inflação. Um pouco abaixo dos resultados de 2010, quando 86,7% dos
reajustes salarial foram acima da inflação, 9,6% iguais e 3,7%, abaixo.
Nessa comparação, há um fator determinante, que foi o crescimento da
inflação nos primeiros meses de 2011. A inflação média no primeiro
semestre foi de 6,4%, ante 4,89% no ano passado, por exemplo. Assim, os
aumentos reais foram mais modestos neste ano, mas ainda assim com
resultados positivos: os acordos com aumentos reais acima de 3%, que
ficaram em 5% do total em 2008 e 2009, atingiram 15% em 2010 e 12% em
2011.
“Deve-se considerar, ainda, que, apesar do cenário econômico mundial
incerto, com fortes sinais de agravamento nos países capitalistas
centrais, o nível de atividade interna da economia pode possibilitar a
continuidade de conquistas para os trabalhadores. Esse é o desafio atual
do movimento sindical brasileiro”, analisa o Dieese.
O que se espera para o segundo semestre é um embate baseado em um
paradoxo: a inflação vem caindo no mês a mês, mas sobe quando se
considera a taxa acumulada. Assim, as próximas negociações terão por um
lado uma inflação passada perto dos 7% e uma futura que se projeta entre
4,5% e 5%.
“A inflação está caindo, e a expectativa é de que volte para o centro da
meta (4,5%) em 2012”, lembra Silveste. Além disso, ele lembra que as
negociações do segundo semestre envolvem categorias que são consideradas
referências, como bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos.
Para Artur Henrique, os números das campanhas salariais mostram que não
havia sentido em identificar nos salários os “culpados” pelo aumento das
taxas de inflação. “Nós dizíamos que não era verdade que o consumo
estava desenfreado. Houve até pequena redução do consumo das famílias. E
a inflação era provocada por fatores externos, como os preços de
commodities, além de aluguéis e tarifas públicas. E tem também a questão
da especulação. O empresário não deixou de botar a maquininha dele
para funcionar”, observa. “Ninguém neste país fala em diminuir margem de
lucro. O único da cadeia produtivida que não consegue acompanhar (o
aumento de custos) é o salário.”
O presidente da CUT diz ainda que não se pode falar em inflação futura.
“Quando a gente chega na mesa de negociação, o salário já está corroído
pelos 12 meses anteriores”, diz.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna,
acredita que a tendência é de recuperação no segundo semestre. “Com
certeza haverá mais enfrentamento. Mesmo com o discurso da crise, ou com
ela nos ameaçando de fato, há uma tendência de obter aumento real de
salário.”