Por Frederico Katz*
Alguns anos atrás apareceram os primeiros caixas
eletrônicas. Pouco a pouco passaram a ser recebidos com muita
alegria pelos consumidores. Empresas e classe média alta, que têm
contas em bancos, passaram a fazer os mais variados usos desta
inovação, de saques a remessas e outros. Tudo isto com muito mais
conforto e segurança. Mesmo parte da população de outras classes,
e de rendas mais baixas, passou a se beneficiar de sua utilização,
por exemplo, para receber salários e para fazer pagamentos.
A
novidade agradou tanto, e não só aos consumidores, que logo se
expandiu para grande número de municípios, e se localizou em
espaços os mais diversos, até em fiteiros. Não utilizo esta
expressão com intenção de desrespeito ao pequeno empreendedor,
mas, para indicar que os caixas se situaram, também, em áreas
expostas e de menor presença policial. Assim se deu porque esta
expansão estava sendo enormemente lucrativa para os bancos.
A
partir de certo momento, alguns bandidos com alto espírito
empreendedor se deram conta que havia se aberto um novo nicho de
mercado, com excelente relação custo benefício, riscos versus
possibilidades de ganho. A ideia de assaltar os caixas eletrônicos
expandiu-se como fogo em um rastro de pólvora. Em todo país
registram-se agora grande número de ações deste tipo.
Passaram-se
então a exigir do setor público mais policiamento, proteção,
investigações e prisões. No mesmo sentido, crescem os custos deste
mesmo setor público, com substituição de cédulas pintadas e
outras medidas. O interesse pelas inovações tecnológicas migra
também para os laboratórios dos bandidos, que já procuram formas
de apagar a tinta denunciadora. Veremos até que ponto esta guerra
tecnológica prosseguirá.
Até este ponto não disse nada de
novo. O que desejo fazer agora é lembrar que as narrativas podem ter
outras leituras, além daquelas mais divulgadas. Neste caso, como em
muitos outros, o que vem acontecendo é que alguns do setor
empresarial, neste caso até em conjunto com parcelas de usuários,
abiscoitaram os ganhos sozinhos, mas, passam para o setor público,
para a sociedade, os possíveis contratempos e custos dos processos
de inovação.
Quero deixar claro que nada tenho de Luddista,
com o ódio que nutriam pelas inovações, e que como Modernista
Jurássico sou extremamente defensor do progresso técnico.
Perdoem-me os companheiros bancários, mas acho que foi uma atitude
natural do capital ter procurado incorporar os avanços das
tecnologias de informação e comunicação ao processo de trabalho,
para assim lucrar mais.
Mantinham uma quantidade
insatisfatória de funcionários nos caixas para atender ao público,
gerando reações, até de leis que obrigavam que o atendimento se
desse em determinado número de minutos. Com a entrada dos caixas
eletrônicos puderam demitir a larga, melhorar o serviço, diminuir
área de atendimento nas agências etc., o que ajudou a aumentar em
muito os lucros, e até a satisfação da clientela. Apesar das
demissões, não se é contra a introdução dos caixas eletrônicos.
Esta é só mais uma das inúmeras histórias típicas do
capitalismo, que só terão fim quando os interesses sociais
suplantarem os individuais.
Dado ao largo espectro de
beneficiados neste caso, parece que um aspecto da narrativa não
chamou atenção. Mas, é importante dizer, no entanto, que se
condena o uso de privatizar lucros e socializar custos. Em países
mais equilibrados socialmente, mesmo nos capitalistas, este tipo de
desenvolvimento recebe críticas podendo surgir os que propõem que
se imponha a partilha dos custos com os interesses privados. Ou seja,
é tempo que o setor privado compareça com colaboração e divida os
custos das soluções dos problemas que surgem a partir do avanço
dos seus interesses, inclusive no caso dos caixas eletrônicos.
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Frederico Katz é economista