Artigo: Pela verdadeira universalização dos serviços bancários

*Por Carlos Cordeiro

Nos últimos oito anos, 48,7 milhões
de brasileiros ascenderam socialmente para as classes A, B e C,
ampliando o mercado de consumo em quase uma Espanha, segundo estudo
da Fundação Getúlio Vargas.

Esse crescimento econômico
extraordinário já coloca o Brasil como a 7ª economia mundial, a
caminho de conquistar o 5º lugar talvez ainda nesta década. No
entanto, a despeito dessa inédita inclusão social na nossa
história, o país ainda pontua no vergonhoso ranking das dez
economias mais desiguais do planeta.

O Brasil caminha na
direção certa, mas precisa acelerar o processo de desenvolvimento,
o que inclui manter o ritmo de crescimento econômico alto e
sustentável, desconcentração da riqueza, geração de mais e
melhores empregos, fim da miséria, crescente inclusão e
universalização de direitos e de cidadania.

Um desses
direitos é o de ter acesso ao crédito e a dispor de conta em banco,
sem discriminação de qualquer espécie – o que não está sendo
assegurado aos brasileiros. Dados do Banco Central revelam que, dos
5.587 municípios brasileiros, 1.973 (35,3%) não possuem sequer uma
agência ou posto de atendimento bancário, e que 49% da população
brasileira não possui nenhum tipo de atendimento em instituições
financeiras. No Nordeste, apenas 36% têm conta em banco.

Embora
sejam concessões públicas, os bancos não estão cumprindo seu
papel. Em vez de ampliar o número de agências, para melhorar o
atendimento à população em boas condições de segurança, estão
empurrando sua responsabilidade para terceiros, com a abertura
indiscriminada de correspondentes bancários (supermercados, lojas,
lotéricas, drogarias etc.). Em dezembro de 2010, já havia 165.228
correspondentes no país, contra 19.813 agências bancárias.

Ao
contrário da propaganda do sistema financeiro de que está
aumentando a bancarização com a abertura indiscriminada de
correspondentes, o que de fato está acontecendo é a elitização
dos serviços e a expulsão das agências das camadas mais pobres da
população – além de ser uma estratégia para reduzir custos.

Para justificar a edição das resoluções 3.954 e 3.959 de
fevereiro e março deste ano, respectivamente, que ampliam a
liberdade de os bancos abrirem correspondentes bancários, o Banco
Central argumentou que elas visam a inclusão social. Não é
verdade. A metade dos correspondentes está concentrada no Sudeste,
sendo que 25% somente no Estado de São Paulo, a região mais
bancarizada do país. O BC está atendendo os interesses dos bancos e
não os da sociedade.

Mais: esses correspondentes
frequentemente funcionam ao lado ou em frente às agências. É para
lá que os bancos estão empurrando a clientela de baixa renda,
reservando as agências tradicionais para os correntistas mais
abastados e criando os pontos de atendimento mais exclusivos para a
elite da elite. E se nas agências bancárias a violência já é
grande, com três mortes em média por mês, nos correspondentes
bancários a falta de segurança é ainda maior.

Estudo
realizado pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos
(Dieese) mostra que os correspondentes representam para as
instituições financeiras 25% da folha salarial dos bancários. É
mais uma forma de os bancos aumentarem os lucros reduzindo custos e
precarizando as relações de trabalho.

Isso não é
inclusão. É uma segmentação que aumenta a exclusão social.
Bancarizar é incluir quem está à margem do sistema, garantindo que
tenham conta em banco e, assim, levar crédito à sociedade,
promovendo desenvolvimento econômico e social, que deveria ser o
verdadeiro papel dos bancos.

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