Contaminação da placenta por agrotóxicos causa problemas neurológicos em bebês

Níveis
elevados de poluentes orgânicos persistentes (POPs) na placenta
estão associados ao nascimento de crianças com problemas
neurológicos graves, especialmente defeitos no tubo neural. É o que
mostra um estudo divulgado ontem pela revista científica Proceedings
of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os POPs incluem certos pesticidas, além de gases
eliminados por incineradores industriais e de resíduos. Já existiam
evidências anteriores que mostravam a associação dos POPs com
defeitos no desenvolvimento fetal de animais. Mas faltava comprovar
que seres humanos também são susceptíveis a danos neurológicos
graves.

Para afastar qualquer dúvida, pesquisadores
chineses analisaram os níveis de POPs nas placentas de 80 fetos e
bebês que nasceram com problemas no tubo neural. Compararam com
amostras das placentas de 50 crianças saudáveis.
Demonstraram,
por exemplo, que a presença na placenta de hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos – um tipo de POP – aumenta em até 4,5
vezes o risco de danos no tubo neural.

Os cientistas chineses ficaram espantados com a
presença do inseticida DDT na placenta de algumas mulheres grávidas.
O produto, altamente tóxico, foi banido da China em 1983. Para os
autores do estudo, a presença da substância demonstra como é
difícil eliminar do ambiente os POPs, após sua liberação.

Acordo internacional. A diretora da organização
não governamental Toxisphera, Zuleica Nycz, recorda que o Brasil,
com outros 151 países, é signatário da Convenção de Estocolmo,
tratado internacional elaborado para eliminar a produção e o uso de
12 POPs. Em 2010, outras 9 substâncias foram adicionadas à lista da
convenção, mas o País ainda está longe de transformar a letra em
realidade.

“Normalmente, o governo proíbe alguns
produtos, como o agrotóxico endosulfan, mas não realiza uma
vigilância ativa, muito mais difícil, para verificar a emissão de
POPs em incineradores de lixo, por exemplo”, afirma Zuleica.

A diretora da ONG recorda que há um projeto,
ainda em andamento, da Escola Nacional de Saúde Pública
(ENSP/Fiocruz) para analisar a presença dos POPs no leite
materno.

Países querem banir pops – O
s
poluentes orgânicos persistentes (POPs) reúnem sempre três
características principais. Em primeiro lugar, após décadas de
interrupção da sua produção, eles permanecem no ambiente.

Além disso, são bioacumulativos – concentram-se
rápido e são excretados devagar. Por fim, podem ser levados por
ventos ou correntes marítimas para regiões muito distantes de onde
foram produzidos. Tais características fazem com que vários países
adotem políticas cada vez mais agressivas para bani-los.

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