Os bancários
participaram nesta segunda-feira, dia 30, da audiência pública na
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do
Senado sobre a diversidade no mercado de trabalho do sistema
financeiro. Os participantes afirmaram que a discriminação contra o
bancário negro ainda é grande.
A audiência foi requerida
pelo senador Paulo Paim (PT-RS) por solicitação do
diretor-executivo da ONG Educação e Cidadania para Afrodescendentes
e Carentes (Educafro), frei David Raimundo Santos.
A
Contraf-CUT foi representada pelo presidente do Sindicato dos
Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar. Também compareceram o
diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília e coordenador da
Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, Eduardo
Araújo, e o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Júlio
Cesar Silva Santos.
Além do frei David e dos bancários,
também participou do encontro a secretária de Políticas de Ações
Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (SEPPIR) da Presidência da República, Anhamona da Silva
Brito.
O encontro focou o Mapa da Diversidade, pesquisa feita
em 2008 pela Febraban. Os bancários denunciaram a existência de
discriminação nos bancos, sobretudo envolvendo mulheres, negros,
negras e pessoas com deficiência, e defenderam igualdade de
oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão
profissional.
Almir disse que os negros bancários recebem
salários menores do que os colegas brancos, e que “a cor da
pele é um impeditivo de ascensão na empresa”. A partir de
1996, os bancários iniciaram uma série de negociações com a
Febraban, com o objetivo de acabar com todo tipo de discriminação
nos bancos – não só contra negros, mas também contra mulheres e
pessoas com deficiência – e criar mais oportunidades para os negros
no setor financeiro”, afirmou o dirigente carioca. “Desde
então, temos avançado, mas é necessário avançar muito mais”,
completou Almir.
O frei David denunciou que os negros são
apenas 19% dos contratados em instituições financeiras. Ele também
comentou os resultados do Mapa da Diversidade, segundo o qual os
funcionários negros recebem em torno de 64,2% do salário dos
brancos e apenas 20,6% dos contratados conseguem ser promovidos. “Os
demais entram como contínuos e morrem como contínuos. A maneira
como o negro vem sendo discriminado descaradamente é uma violência
contra a Nação”, afirmou frei David, que reclamou ainda da
ausência da Febraban nos debates desta segunda-feira.
Anhamona
destacou a importância do Poder Legislativo no combate à
discriminação em todos os níveis, por meio de audiências
públicas. “O Mapa da Diversidade serviu como ponto de partida
para que no dia 28 de julho de 2010, a Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial assinasse com a Febraban um protocolo
de intenções para estabelecer políticas de igualdade dentro dos
bancos. Mas pouco foi feito desde então”, disse.
“A
Febraban ficou de elaborar um plano sobre o protocolo em até 90 dias
após a assinatura documento. Esse prazo venceu em 28 de outubro e
ainda nada foi feito”, disse Anhamona.
Para o diretor da
Associação dos Advogados do Banco do Brasil (Asabb) e também
ouvidor da Igualdade Racial, Humberto Adami, essa fase das intenções
e dos protocolos já passou e com pouco resultado. Segundo ele, é
preciso, neste momento, usar outras ferramentas no combate à
discriminação. “É necessário aumentar os órgãos de
ouvidorias para que o cidadão possa fazer denúncias”, sugeriu
Adamo.
Ao final da audiência, Paim leu ofício enviado pela
Febraban, colocando-se à disposição para fortalecer “o
processo de negociação”.
Almir aproveitou para
denunciar que a retomada da Mesa Temática de Igualdade de
Oportunidades com a Fenaban, prevista para março, ainda não
ocorreu. Para ele, é fundamental a continuidade do processo
negocial, a fim de mudar essa realidade de discriminação e buscar
novos avanços.