Desigualdade no acesso de negros ao ensino superior permanece

Apesar
das políticas afirmativas adotadas pelas universidades brasileiras
para ampliar o acesso da população negra ao ensino superior, 123
anos depois da Abolição da Escravatura permanece o hiato em relação
à população branca. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que entre 1997 e 2007 o
acesso dos negros ao ensino superior cresceu, mas continua sendo
metade do verificado entre os brancos.

Entre
os jovens brancos com mais de 16 anos, 5,6% frequentavam o ensino
superior em 2007, enquanto entre os negros esse percentual era 2,8%.
Em 1997, esses patamares estavam em 3% e 1%, respectivamente.

Para
o professor Nelson Inocêncio da Silva, coordenador do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), a
velocidade lenta do impacto das políticas públicas ocorre em função
dos anos de atraso do país para reconhecer as diferenças de
oportunidades dadas a negros e brancos.

O
Estado brasileiro se absteve por muito tempo e ficou ausente no que
diz respeito à questão das políticas públicas para essa
população. Falamos de 1888, final do século 19, e terminamos a
primeira década do século 21 com problemas seríssimos no que diz
respeito à população negra”, afirma.

A
UnB foi a primeira federal a implantar o sistema de cotas para negros
no vestibular e 4 mil alunos já ingressaram na universidade por esse
mecanismo. Silva acredita que esses números devem ter avançado
desde 2007, já que atualmente cerca de 100 instituições públicas
de ensino superior adotam algum tipo de política afirmativa. O
principal benefício que as cotas terão no futuro, na avaliação
dele, é aumentar a representação dos negros em cargos importantes.

Quando
falamos de universidades federais, não há dúvida de que elas
formam pessoas que cedo ou tarde vão participar da classe dirigente
deste país. Então sabemos que, pelo menos com essa formação, o
aluno terá no futuro uma situação diferenciada”, ressalta o
professor.

De
acordo com o último Censo da Educação Superior, 10% dos ingressos
de novos alunos nas universidades públicas ocorreram por meio de
sistemas de reserva de vagas. Os dados apontam que 69% usaram como
critério o fato de o candidato ter ou não estudado em escola
pública. Um quarto das reservas de vagas foi preenchido a partir de
critérios etnorraciais. Desde a sua implantação na UnB em 2004, o
sistema de cotas tem sido muito criticado por ser considerado injusto
com o restante dos estudantes não negros. Silva ressalta que ele
precisa ser analisado do ponto de vista histórico.

Não
é possível a gente querer entender a partir do aqui e agora, é
preciso voltar ao século 19, às políticas do Estado brasileiro de
favorecimento das populações europeias para entender porque afinal
de contas temos que desenvolver uma política de inclusão da
população negra. Essas políticas atuais não são fruto de nenhum
devaneio, elas são necessidades que foram esquecidas”, aponta.

Em
outras etapas do ensino também há desigualdade entre negros e
brancos. O último censo do IBGE aponta que, entre os 14 milhões de
brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos, 30% são
brancos e 70% são pretos ou pardos.

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