Os dados do Censo 2010, que começaram
a ser divulgados no final do ano passado, revelam que houve uma
mudança significativa na configuração da população brasileira ao
longo do século. As transformações foram registradas em todas as
regiões do país e em todos os grupos sociais e raciais, embora com
diferentes velocidades.
Uma delas, no entanto, chamou atenção
no último levantamento apresentado: pela primeira vez na história
do Censo, as pessoas que se declaram brancas são menos da metade da
população.
O Brasil em números – Pela classificação
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 97
milhões de pessoas se dizem negras (pretas ou pardas) contra 91
milhões de pessoas brancas. Outras cerca de 2,5 milhões se
consideram amarelos ou indígenas.
Os brancos ainda são a
maioria (47%) da população, mas a quantidade de pessoas que se
declaram assim caiu em relação a 2000. Em números absolutos, foi
também a única categoria que diminuiu de tamanho. Como resultado, a
taxa de crescimento da população negra na última década foi de
2,5% ao ano e a da branca aproximou-se de zero.
Segundo o
estudo “Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira”,
divulgado nesta quinta-feira (12) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), dois fatores devem ter contribuído para essa
reviravolta. Primeiro, nota-se um aumento do número de pessoas que
agora se declaram pardas e que antes preferiam dizer que eram
brancas. Segundo, apesar de uma queda geral na taxa de fecundidade
das brasileiras, as mulheres negras ainda são as que mais têm
filhos.
“A cada Censo, observamos um número maior de
pessoas se declarando pardas. Há um enegrecimento da população
brasileira por causa de uma maior valorização das suas condições
raciais e étnicas”, ressaltou Ana Amélia Camarano, autora do
estudo. “A valorização dos negros se deve não apenas a
políticas do governo, mas também a ações do movimento negro que
datam de décadas e que ganharam corpo nos últimos anos”,
completou.
“O grande aumento da população brasileira
nos últimos dez anos foi devido ao aumento da população negra”,
disse Mário Theodoro, secretário-executivo da Secretaria de
Promoção de Políticas de Igualdade Racial. “Isso mostra em
uma parte crescimento democráfico maior e por outro o maior
reconhecimento dos negros como tais, como cidadãos pretos ou pardos.
A população está se sentindo mais pertencente a esse grupo.”
O
número médio de filhos tidos por uma mulher negra ao final da vida
reprodutiva passou de 2,7 filhos para 2,1. Entre as brancas, essa
taxa caiu de 2,2 para 1,6. Nos dois casos, a taxa de fecundidade
ficou abaixo do nível de reposição, o que ressalta um
envelhecimento da população.
Também fica muito clara uma
diferença na mortalidade entre os grupos. As mortes entre os brancos
estão mais concentradas nas idades avançadas e são resultado de
neoplasias (câncer). Já entre os negros morre-se mais entre os
jovens de 15 a 29 anos, principalmente entre os homens, por conta de
causas externas, como acidentes e mortes violentas (agressões).
As
mortes por causas externas são muito mais comuns entre a população
masculina. Entre os negros, as principais causas de óbito são os
homicídios e, entre os brancos, os acidentes de trânsito.
“A
violência entre os jovens negros explodiu nos últimos anos”,
afirmou disse Mário Theodoro. “De 98 para 2008, uma diferença
que era de 30% entre as mortes de jovens brancos e de jovens negros
passou para 140%. Todo o aumento nessa faixa se deu com a população
negra. Pode ser que a população negra esteja sendo mais afeta à
violência até por questões de preconceito e de discriminação não
só da polícia como de toda a criminalidade.”
Os
aspectos da mortalidade no Brasil foram mudando ao longo dos anos.
Houve uma queda importante nos óbitos por doenças
infecto-parasitárias, o que demonstra uma melhora na qualidade de
vida da população, enquanto as mortes por doenças cardiovasculares
e causas externas aumentaram, o que ressalta uma mudança importante
na rotina do brasileiro.
E, independentemente do sexo ou da
raça, as doenças do aparelho circulatório foram as que mais
mataram brasileiros. Elas representaram 28,5% dos óbitos dos homens
brancos e 25% dos homens negros. Entre as mulheres, a proporção
ficou em torno de 33% nos dois grupos.
Também vale ressaltar
o aumento considerável das mortes por acidentes de transporte, que
hoje representam 35,3% das mortes por causas externas entre os
brancos e aproximadamente um quarto entre os negros.