O jornal O Globo publicou nesta
quinta-feira, dia 12, artigo do presidente nacional da CUT, Artur
Henrique, sob o título “O salário não é vilão”. Para
ele, “querer apontar os salários como vilões da inflação é
uma falácia. A CUT e seus sindicatos não vão cair nessa.”
Segundo
Artur, “é tempo de ousadia, especialmente para mostrar nossa
contrariedade com a ideia de que aumentos reais de salário podem
representar uma ameaça ao controle da inflação no Brasil”.
O
presidente da CUT alerta para “o fato de os salários estarem há
muito tempo perdendo a corrida para o aumento da produtividade e para
o crescimento veloz dos lucros obtidos por todos os setores de
atividade”.
Leia a íntegra do artigo:
O
salário não é vilão
A Central Única dos
Trabalhadores, e eu pessoalmente, estamos orientando nossos
sindicatos filiados a organizarem as mais ousadas mobilizações e as
mais arrojadas e exigentes pautas de reivindicações dos últimos
tempos durante as campanhas salariais que vão ocorrer no segundo
semestre.
É tempo de ousadia, especialmente para mostrar
nossa contrariedade com a ideia de que aumentos reais de salário
podem representar uma ameaça ao controle da inflação no
Brasil.
Ora de maneira sutil, ora escancarada, análises
inspiradas a partir do mercado financeiro, repercutidas pela
imprensa, sugerem que a conjuntura desaconselha aumentos salariais
acima da inflação, pois poderiam pressionar as taxas.
Em
primeiro lugar, para nos contrapor a esse ataque concentrado aos
salários, queremos dizer que é um absurdo tentar esconder que há
outros fatores que pressionam de fato inflação, mas que jamais são
citados por essas análises conservadoras.
Lucro causa
inflação. Distribuição de dividendos também pressiona a
inflação. O fato de a estrutura tributária ser regressiva, punindo
quem ganha menos, também causa inflação, pois os impostos incidem
majoritariamente sobre o consumo e são repassados diretamente aos
preços.
A existência de setores oligopolizados,
especialmente na indústria, faz com que a ausência de concorrência
facilite o repasse para os preços de qualquer aumento nos custos. Os
oligopólios também têm mais facilidade para aumentar margem de
lucros. Devemos lembrar também das tarifas públicas, muitas regidas
por contratos indexados, que ajudam a ampliar os custos da produção
e a pressionar a inflação.
Querer tratar da questão
inflacionária, e principalmente combatê-la, sem considerar essas
variáveis é falso e mal-intencionado.
Outro detalhe
importante, ao qual é dado pouco destaque, refere-se ao fato de os
salários estarem há muito tempo perdendo a corrida para o aumento
da produtividade e para o crescimento veloz dos lucros obtidos por
todos os setores de atividade.
No período de quase 20 anos
entre 1989 e 2008, a produtividade da indústria aumentou 84%,
enquanto no mesmo espaço de tempo a renda média dos salários caiu
37 pontos. Se a teoria clássica associa inflação a aumentos
salariais acima da produtividade, podemos então descartar o
risco.
Por fim, quero repetir que não estamos diante de um
cenário de inflação de demanda, no qual as pessoas querem comprar
algo que está em falta no mercado. Segundo o Sistema de Contas
Nacionais do IBGE, o consumo das famílias, em relação ao PIB, caiu
entre 2009 e 2010, de 61,7% para 60,6%. Esse dado sinaliza que o
consumo das famílias tem permanecido estável em relação ao
crescimento da economia.
Há alguns fatores que pressionaram a
inflação nos últimos meses. Sazonais alguns, fruto das tarifas
públicas indexadas, outros. Sem esquecer da ação dos oligopólios.
Mas querer apontar os salários como vilões da inflação é uma
falácia. A CUT e seus sindicatos não vão cair nessa.