Juro básico maior faz taxa do cartão e empréstimos baterem 200% no ano

O aumento da taxa básica de juros, a Selic, nesta
semana, de 11,75% ao ano para 12% colaborou mais uma vez para o
efeito cascata em todas as taxas praticadas pelos bancos.

Com
a mudança, a taxa do cartão de crédito subiu de 238,30% para
239,03%, enquanto a do empréstimo pessoal (financeiras) passou de
197,80% para 198,45%, segundo cálculo feito pela Anefac (Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade).

Como todas as instituições financeiras se
baseiam na taxa para estabelecer os valores praticados nas operações
(financiamentos, empréstimos e cartões), toda a vez que o Copom
(Comitê de Política Monetária) do Banco Central aperta na ponta o
bolso do brasileiro também sofre.

Apesar do reajuste nas
taxas gerais ser aparentemente pequeno, com variações que não
chegam a 1%, na soma, toda a leve mudança do BC ajuda com que a bola
de neve das taxas fique cada vez maior. Basta olhar para os juros do
cartão de crédito e dos financiamentos, historicamente os mais
afetados com as mudanças da Selic.

Para ter uma ideia do
rombo no bolso, quem escolhe financiar um carro de R$ 25 mil em 60
meses, por exemplo, pagava antigamente uma taxa de 2,39%, o que
representava 60 parcelas fixas de R$ 788,68. Agora, com a Selic mais
alta, o consumidor terá que pagar R$ 792,33 para ter o mesmo veículo
em 60 meses.

O aumento de R$ 3,65 na prestação pode
aparentar ser pequeno, mas no momento que o consumidor soma todas as
mensalidades do financiamento pagas a diferença sobe para R$ 219. Ou
seja: aquele mesmo carro que vale R$ 25 mil na loja, financiado com a
taxa velha custava R$ 47.320,80. Agora, com o reajuste, o valor sobe
para R$ 47.539.80 – valor equivalente a quase dois carros.

Pareceu
muito caro? Pois é. É exatamente essa a ideia que o BC pretende
passar com a mudança na Selic. Com o consumo desenfreado dos
brasileiros pedindo empréstimo para trocar de carro e
concessionárias fazendo promoções, a inflação já se encontra no
limite máximo aceito para a saúde da nossa economia.

Segundo
o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação
do mês de abril deve fechar em 6,44%, de acordo com a prévia do
IPCA, o IPCA 15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15), que
mede a variação dos preços na primeira quinzena do mês.

A
tendência, no entanto, é que o aperto nas taxas diminua à medida
que os brasileiros comprem menos. A notícia pode parecer triste para
quem pretende pedir um financiamento neste semestre, mas certamente
pode ser a mais prudente para manter o poder de compra da nova classe
média, segundo o governo.

De acordo com Gilberto Carvalho,
ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, a
“puxada” nas rédeas é necessária para não ocorrer um
desequilíbrio na ponta, ou seja, do brasileiro ter que pagar a
“gastança” com o seu próprio emprego – o primeiro setor
afetado quando um país entra em recessão (quando o crescimento do
país passa a ser negativo).

Carvalho destacou que uma das
preocupações da área econômica é evitar que o avanço recente da
inflação comprometa as conquistas da chamada “nova classe
média brasileira”, que ainda não estaria consolidada.


Por isso, as medidas prudenciais que estamos tomando, para não haver
esse desequilíbrio que leve a uma recessão nesse momento, o que
levaria de novo ao desemprego.

Abacaxi nas mãos – O
vendedor José Wilson de Jesus, de uma banca de frutas ao lado do BC,
em Brasília, tem que descascar todo o mês a inflação para
continuar vendendo abacaxi. Só no último mês foram dois aumentos
em cima da fruta.

A primeira alta foi causada pelo aumento
dos fornecedores na Ceasa. Se antes comprava o quilo da melancia por
R$ 0,40, hoje não encontra por menos de R$ 2. O segundo reajuste
veio com os combustíveis. O frete, que custava R$ 35, saltou para R$
60.

– Só fiz tantos reajustes em tão pouco tempo na época
da URV. De lá pra cá, demorava mais tempo para eu aumentar o preço
de alguma coisa. Mas estamos num ponto em que não dá para segurar
essa inflação. Somos obrigados a repassar ao cliente.

O
repasse é visível. Nesta quarta-feira (20), o Procon-SP e o Dieese
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos) divulgaram que o valor da cesta básica já começa
a se aproximar do recorde desde a criação do Plano Real. Em 1º de
dezembro do ano passado, os 31 produtos que compõem a cesta custavam
R$ 324,24. Hoje, ninguém compra por menos de R$ 314,18, uma
diferença de pouco mais de R$ 10.

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