Os sonhos dos jovens e do Brasil pelo trabalho

Segundo os dados mais recentes do IPEA, 46%
dos  jovens entre 15 e 29 anos estão desempregados. 50% dos ocupados
entre 18 e 24 anos são assalariados informais, porcentagem que se
mantém em 30% entre os que têm de 25 anos a 29 anos de idade.  Apenas
48% das pessoas entre 15 anos e 17 anos cursam o ensino médio e somente
13% daquelas entre 18 anos e 24 anos estão no ensino superior. De
acordo com o Datafolha (1), 64% vivem  com os pais e 13% com
parentes.

Paralelamente
a isso, o Datafolha registrou o sonho do jovem médio brasileiro
assentado em  terminar os estudos,  ter uma casa,  fazer família e
obter sucesso profissional. O retrato foi taxativo: “Os sonhos variam
pouco entre as classes de renda, educação ou região onde moram os
entrevistados”.

Não chega a surpreender, então outro registro do
ano passado, dessa vez do Instituto Gallup Internacional: a juventude
brasileira é  a mais otimista do mundo em relação ao futuro. Por quê?
Nossa fase de prosperidade (2), que se traduz, principalmente
no crescimento da geração de empregos – um milhão em plena crise.
Todavia, para fazer dos sonhos realidade é necessário buscar a
realização do principal dele, ainda de acordo com o mesmo instituto:
ter um bom emprego fixo, com carteira, numa boa empresa, com bom
salário. Por outro lado, já é um consenso nacional que os jovens entram
na criminalidade não pela pobreza pura e simplesmente, mas pela soma
dela com a massificação de um certo um padrão de consumo.

Todos
os anos, entram 2 milhões de jovens na PEA, nos termos identificados
pelo IPEA e Datafolha. O desafio é responder a essas questões hoje,
aqui e já, pois não se trata de personagens de histórias em quadrinhos
e sim de seres humanos e, embora permeada pela busca da autonomia ou
pela pressão/necessidade familiar, o certo é que a juventude brasileira
quer trabalhar para realizar seus sonhos e o ponto de partida não é
nada idílico.

Podemos imprimir uma nova lógica?

Os
filhos
dos mais ricos se preparam para ser profissionais liberais, com
algum impulso da influência e/ou tradição familiar. Enquanto os das
camadas populares  querem sua cooptação o mais breve possível pelo
proletariado brasileiro. São processos distintos. Para os primeiros,
está posto a reprodução do status quo. Para os segundos, a
possibilidade de mobilidade e ascensão social, que não pode esperar.

O
dilema não é a idade de ingresso no mundo do trabalho, mas a qualidade
da preparação para este. Aos 15 ou aos 25, o lado de maior renda sempre
tem vantagem sobre o mais pobre pelo tipo (e não exatamente a
quantidade) de educação formal a que um pode ter acesso e o outro não,
seja um paralelo do ensino fundamental, médio ou superior. E a
quantidade de estudo como apresentada hoje – zona de corte – é uma
distorção mercadológica.

Portanto, enquanto os ricos ganham
postergando a entrada no mundo do trabalho para “se prepararem”, os
pobres só perdem em experiência, ganhos materiais acumulados e
progressão funcional.

No mesmo sentido, a afirmação de que
chegaremos rapidamente numa expectativa de vida de 100 anos é um
exagero. Hoje, no Brasil, apenas 3 milhões de pessoas tem mais de 80
anos. Nos morros cariocas, se for negro e homem , segundo dados
apresentados pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB/CE) no seminário
Juventude e Projeto Nacional, a expectativa de vida é de 21 anos.

Para
imprimir
a transição do jovem da categoria de necessidade rumo a da
possibilidade, o importante é garantir a mobilidade social. Só que isso
deve estar associado ao papel vislumbrado à juventude num projeto de
desenvolvimento nacional. Para tal, há duas vias que se retroalimentam.
O Ministério do Planejamento projeta que o Brasil vá crescer
sustentadamente 5% ao ano numa década. O país, então, precisa de uma
juventude para dar base para essa expansão. Ao mesmo tempo, essa fase
da economia é o momento histórico mais oportuno para incluir a
juventude no mundo do trabalho de forma decente e alterar, pela
investimento geracional, o padrão societário nacional.

Os jovens
das classes A, ainda pelo mesmo levantamento do Datafolha somam 4%. Da
B, 27%. Os jovens mais pobres, das classes C (53%), D (14%) e E (2%),
então, são o foco principal de uma política pública de trabalho
específica. Esse período de desenvolvimento nacional não pode
prescindir dessa força produtiva. Uma pesquisa, por exemplo, da
consultoria americana John Snow Brasil, feita esse ano no DF, baseado
num projeto de empresas chamado Jovem de Expressão, demonstra que a
cada R$ 1 aplicado em programas sociais para tirar pessoas  entre 18 e
24 anos da inatividade por desemprego ou criminalidade, a sociedade
ganha num prazo de 45 anos, que equivale a idade produtiva entre 20 e
65 anos, R$ 318 como retorno. Ademais, é uma solução estruturante para
o dilema da Previdência Social.

Para chegarmos ao patamar
razoável de criar 2,5 milhões de emprego anuais,  investir 23% do PIB e
crescer  de 6% a 7%, é mais que imprescindível formar um potente e
coeso proletariado juvenil. Do ponto de vista empresarial, ou seja, do
empreendedorismo juvenil vamos bem. Pesquisa da Global Entrepreneurship
Monitor (GEM) 2008 mostrou que, do total de jovens entre 18 e 24 anos
no Brasil, 15% empreendem, o equivalente a 3,82 milhões de pessoas. De
acordo com o Sebrae, a taxa média de empreendedorismo jovem entre 2001
e 2008 ficou em 11,9%. Do total de empreendedores brasileiros, 25% são
jovens, o que coloca o País em terceiro lugar no ranking mundial. De
acordo com o relatório, 68% dos jovens empreendem por oportunidade e
32% por necessidade.

Os que empreendem (3) , por
qualquer dos motivos têm em comum a busca do “lugar ao sol”.
Realizam-se na atividade que desempenham, ajudam outros jovens a sair
do desemprego e o país a crescer. O tempo livre não deve significar,
tanto por essas questões subjetivas do jovem brasileiro, quanto pela
objetividade das demandas nacionais, inatividade. Embora precisemos
avançar na construção de equipamentos públicos de esporte e lazer,
mecanismos atuais como a meia-entrada e o meio-passe estudantil já, de
certa forma, são “mecenas” desse tempo livre para a formação e
experimentação.

Politicamente, há quem acredite que adotar um
programa que assuma como norte estratégico o financiamento da
inatividade, a postergação da entrada no mercado para os 25 anos e
implementar uma “previdência juvenil” é polarizar com um projeto de
direita, capaz de “ganhar” a juventude, tanto eleitoralmente, quanto
para uma visão de longo prazo, de projeto sociedade. Pelos números e
dados, a única coisa que o campo nacional, democrático e popular
conseguiria seria a mais brutal rejeição, caracterizada na
subjetividade de pais e mães como “não querem que meu filho seja alguém
na vida” e, na do jovem, como “não querem me dar chance de realizar
meus sonhos”.

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi