Parece piada de mau gosto. Um banco, uma das instituições que melhor
representa o estilo de ser do capitalismo, utiliza-se de uma das músicas
mais famosas de John Lennon, um verdadeiro hino em defesa de um mundo
melhor, para fazer promoção institucional e tentar vender para a
sociedade que este é o espírito que nos move aqui dentro do Itaú.
Solicito
então um pequeno exercício: Pense que não há metas, é fácil, basta
somente pensar. Pois a corrida diária contra o tempo nos faz escravos do
lucro alheio, nos faz entrar num redemoinho que muitas vezes até a
nossa saúde já é pouco pro dono do banco levar; ele quer também nossas
mentes e almas.
Pense que, hoje, já não há nenhum inspetor pra
nos assediar e ninguém pra te pressionar. Pense o quanto seria bom se
todas as pessoas que contigo trabalham mirassem em seu horizonte a ética
como guia, pois, assim, ninguém precisaria pensar que o outro é
inferior e que o chicote que lhe dão para usar contra os outros, logo
ali adiante, será usado contra ela também.
Pense que o AGIR não
existe e eu sei que isso é difícil de fazer, mas vale a pena tentar e
você vai ter uma surpresa. Nada de Tempo de Fila e nenhum capataz para
nos humilhar e tentar retirar de nós a qualidade de pessoas para
reduzir-nos a coisas.
Imagine não existir posses e nem a ganância
do dono do banco que não pensa na vida e segurança dos que estão nas
agências do Itaú, sem câmeras, nem vigilantes suficientes.
“Você
pode dizer que eu sou um sonhador, nas não sou o único! Sonhe também e
junte-se a nós e o mundo, então, será como um só”. É isso que Lennon
propõe em 1971, nesse belíssimo tratado que tenho a audácia de adaptá-lo
para nossa realidade. A tradução da música mostra quão absurdo é para o
Itaú usá-la para divulgar o “novo” Itaú! Mas que novo é esse? O novo
campeão pernambucano em agências assaltadas? O novo recordista em
gerentes e inspetores assediadores? Mas isso não é novo, isso não é de
agora e é prática comum do capitalismo.
Então, senhor Setúbal, o
que há de novo no Itaú? O seu tamanho? Sua sede de lucro? Sua
preocupação com a venda de uma imagem que é virtual, pois na prática a
coisa não é bem assim?
Quem sabe se o banco ouvisse em bom
português o que Lennon cantou em inglês há quase 40 anos, talvez assim
tivéssemos um novo Itaú. E isso é possível. Imagine… se puder.