O assédio moral no trabalho tem ocupado, com muita ênfase, as pautas
sindicais e é uma preocupação constante dos trabalhadores de todas as
categorias profissionais, inclusive a dos bancários.
Jornais de
circulação nacional, revistas, estudos acadêmicos, decisões judiciais,
congressos, simpósios, reuniões em sindicatos de trabalhadores, matérias
em telejornais, matérias na internet, campanhas sindicais, negociações
entre empregados e empregadores, são apenas alguns dos inúmeros espaços
que tem aparecido a temática do assédio moral no trabalho e os seus
reflexos negativos na vida laboral do trabalhador, sobretudo, as
ocorrências de adoecimento e afastamento do trabalho.
A questão
do assédio moral na categoria bancária entrelaça-se com outro grande
problema existente no cotidiano dos ambientes de trabalho: a imposição e
a cobrança de metas abusivas.
As metas abusivas impostas pelos
bancos, característica marcante do trabalho bancário nos dias atuais,
transformou-se em um fator de risco inerente da profissão de bancário.
Além dos riscos já estudados e conhecidos do trabalho bancário, como os
riscos ergonômicos, os movimentos repetitivos, o ritmo de trabalho
acelerado, o risco iminente de assaltos e sequestros, a imposição e a
cobrança de metas revela outro grave fator de risco à saúde de bancários
e bancárias, situando os profissionais entre os que mais se afastam do
trabalho por problemas psíquicos.
Bem sabemos que o assédio moral
não é uma doença e que ninguém fica doente por “contrair” assédio
moral. Entretanto, o assédio moral nos bancos é um sério sinal de
degradação das relações de trabalho, bem como do próprio ambiente de
trabalho. É um sinal de alerta que, além de detectar problemas entre uma
vítima e um agressor, remete a atenção para a organização do trabalho,
para o modo de execução das tarefas diárias e como essa organização
define as relações entre as pessoas.
Logo, o que leva os
bancários ao adoecimento são as conseqüências nefastas das práticas de
assédio moral, principalmente aquelas relacionadas ao controle e
cobrança pelo atingimento das metas de produtividade, que são cada vez
mais abusivas, estabelecidas “de cima para baixo”, são sempre crescentes
e mais: o bancário que não “bate suas metas” pode perder o seu emprego,
sendo demitido sumariamente.
Praticamente, não há espaços de
diálogo nos ambientes de trabalho para se discutir os meios para se
atingir as metas impostas pelos bancos, bem como não há espaços para
diagnósticos dos reais motivos do não atingimento das metas em um dado
período fixado pelo banco, por exemplo.
Estrategicamente, os
bancos individualizam as metas e submetem os trabalhadores às chamadas
“avaliação de desempenho individual”, caminho propício para as práticas
de assédio moral, expondo a situações constrangedoras e até humilhantes
aqueles trabalhadores que não atingiram as “suas metas”. Ou seja, o
bancário é cobrado individualmente pelas metas que, primeiramente, não
foram definidas por ele.
Segundo, a realização plena das metas
depende de variadas questões, como o perfil socioeconômico da região em
que a agência bancária está sediada, o perfil da clientela da região, a
aceitação e a adequação do produto bancário oferecido aos clientes, a
saturação do mercado bancário e o número de empregados suficientes para a
boa execução das tarefas. São questões primordiais que influenciam nos
resultados das metas e que não são levados em consideração na hora de se
avaliar o trabalho desempenhado.
Busca-se apenas o resultado
individualizado do trabalho que se materializa na concretização da meta,
desconsiderando todo um trabalho prévio em equipe, importante e
necessário, que colabora decisivamente para viabilizar as metas.
Antes
de tudo, defendemos que as metas devem ser estabelecidas coletivamente,
bem como todo o processo de trabalho que venha a levar para a sua
realização ou não. E que os mecanismos de cobrança e acompanhamento
tenham a interferência e a participação direta e ativa de todos os
bancários envolvidos.
Diante de toda problemática que envolve o
assédio moral e a imposição de metas abusivas no mundo do trabalho
bancário, que gera desgaste mental, alto índice de absenteísmo e
adoecimento, acarretando inúmeros prejuízos aos trabalhadores e para
toda a sociedade, o Sindicato dos Bancários de São Paulo vem, a cada
ano, fortalecendo o debate nos locais de trabalho, conscientizando e
mobilizando a categoria diante do tema e desenvolvendo amplo e forte
processo negocial com o setor patronal.
As campanhas do Sindicato
dos Bancários de São Paulo, “Assédio Moral – Saia do Isolamento” (2009)
e a “Menos Metas, Mais Saúde” (2010), traduzem bem as questões
envolvidas na organização do trabalho bancário e as suas repercussões na
saúde dos trabalhadores.
Nas campanhas temos procurado situar
os temas do assédio moral e das metas abusivas para os trabalhadores,
conscientizando-os que o trabalho bancário tem sido fonte de
adoecimento, tanto físico quanto mental, que o elevado grau de
adoecimento da categoria relaciona-se diretamente com a organização do
trabalho bancário e apontando formas de enfrentamento diante de tantos
problemas vivenciados no dia a dia, seja nas agências bancárias, nos
departamentos, nos postos de atendimento e também nas unidades de
terceirização de mão-de-obra bancária.
As reivindicações da
categoria bancária são bem definidas e busca soluções para os problemas
de ocorrências de assédio moral, com regras e prazos definidos em acordo
coletivo de trabalho.
A nossa atuação e persistência na luta por
um ambiente de trabalho saudável no ramo financeiro ganha novo respaldo
com os resultados da pesquisa realizada no mês de junho de 20105, na
base do Sindicato dos Bancários deSão Pauloe respondida por mais de nove
mil empregados de bancos públicos e privados. A pesquisa revelou que
68% consideram prioridade discutir metas abusivas e combate ao assédio
moral na Campanha Nacional de 2010, momento ímpar de movimentação e
mobilização da categoria bancária e de renovação da convenção coletiva
de trabalho.
O debate que temos feito junto a categoria busca
evidenciar a relação das metas abusivas e das práticas de assédio moral
com o elevado grau de adoecimento dos trabalhadores bancários,
destacando o desgaste e o sofrimento mental que tem atingido gerentes,
chefias, caixas, escriturários, pessoal de teleatendimento, em todos os
bancos.
É necessário que os bancos modernizem a sua visão
referente à “saúde e segurança no trabalho” e que, de fato, tenham
interesse em firmar compromissos com perspectivas para a criação de
novas condições de trabalho, com bases na prevenção de doenças, de
combate aos riscos à saúde do trabalhador e de promoção da saúde.
E
que, de fato, o trabalho bancário seja sinônimo de satisfação, de vida
digna, de reconhecimento social, de crescimento pessoal, e não de
humilhação, de opressão e adoecimento dos trabalhadores.