A quinta rodada de negociação da Campanha Nacional 2024, entre o Comando
Nacional dos Bancários e a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos
Bancos (CN Fenaban), para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), debateu
o tema saúde e condições de trabalho, nesta quinta-feira (25). O foco da pauta foi
a política de metas praticadas pelas empresas, que adoece os trabalhadores. Mesmo
com dados que registram a correlação entre o adoecimento e a pressão exercida sobre a
categoria, para que cumpram os resultados das empresas, os bancos negaram a
realidade.
Apesar de representar 0,8% do emprego formal no Brasil, em 2022, a
categoria bancária respondeu por 3,7% dos afastamentos acidentários e 1,5% dos
afastamentos previdenciários naquele ano, considerando todas as categorias do
país.
Durante a negociação, trabalhadores bancários cobram à Fenaban ambiente
de trabalho saudável. “Nossa Consulta Nacional, com mais de 47 mil, mostra
que os bancários e bancárias estão fazendo relação direta entre metas
exageradas e problemas de saúde. Estamos falando de preocupação com o trabalho,
cansaço e fadiga constantes, dificuldade de dormir, medo de perder a cabeça.
Queremos ações concretas dos bancos contra isso”, pontua a coordenadora do
Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira.
Considerando apenas a categoria bancária, em 2022, as doenças mentais e
comportamentais foram responsáveis por 40% dos afastamentos previdenciários e
por 57,1% dos afastamentos acidentários. Com isso, a taxa de afastamento
acidentário na categoria ficou em 9,1 mil para cada mil vínculos empregatícios,
em 2022, enquanto a média geral, considerando todas as categorias, foi de 2,0
para cada mil vínculos. Já a taxa de afastamento por auxílio previdenciário
ficou em 31,1 para cada mil vínculos, contra 17,6 para cada mil vínculos,
considerando todas as categorias do país.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fabiano Moura,
destaca que os bancos não admitem que o ambiente de trabalho é insalubre e responsável
pelo adoecimento da categoria bancária.
“Segundo os bancos, as metas não causam nenhum tipo de doença, as
cobranças excessivas não afetam a vida dos trabalhadores e o ambiente no local
do trabalho bancário é saudável. Não tem como resolver os efeitos que levam ao
adoecimento da categoria sem tratar as causas. Os bancos negam a realidade da
categoria, não por falta de conhecimento, mas pra não assumir a
responsabilidade pela forma gananciosa e irresponsável de conseguir lucrar cada
vez mais”, comenta Fabiano.
Dentro da “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: modelos de gestão e
patologias do trabalho bancário”, feita em parceria com o Instituto de Pesquisa
e Estudos sobre Trabalho, da Universidade de Brasília (UnB), e divulgada em
maio deste ano, entre os resultados do levantamento feito com mais de 5.800
bancários estão: 76,5% relataram terem tido pelo menos um problema de saúde
relacionado ao trabalho, no último ano; 40,2% dos respondentes estavam em
acompanhamento psiquiátrico no momento da pesquisa; e 54,5% indicaram o
trabalho como principal motivo para buscar tratamento médico.
Os dados da Consulta Nacional dos Bancários também apontam que, quando o
entrevistado poderia escolher mais de uma opção durante as perguntas, as
principais respostas foram preocupação constante com o trabalho, respondido por
67% dos bancários; cansaço e fadiga constante, apontado por 60% dos
entrevistados; 53% frisaram desmotivação e sem vontade para ir trabalhar; 47%
crises de ansiedade e pânico; e
39% dos bancários responderam dificuldade de dormir, mesmo nos finais de
semana.
Sobre o assédio moral, o Comando Nacional afirmou que ficou
insustentável esta prática nociva e cobrou dos bancos mudanças para resolver
esta grave situação. No entanto, o problema do assédio moral não é apenas um
problema de gestão nas agências é, sobretudo, o modelo de gestão adotada pelos
bancos que reproduz e intensifica o assédio no local de trabalho. “Modelo de
gestão, através da lógica do lucro a qualquer custo, este tipo de prática gera
as metas abusivas, inatingíveis e desumanas. Essas, por sua vez, geram todo
tipo de assédio, contribuem para o aumento da competitividade entre os
trabalhadores, tornando o ambiente de trabalho doentio e insuportavelmente
desagradável”, destaca Fabiano.
A Consulta ainda revela que 69,8% doa bancários indicaram, no trabalho,
a presença intensa de discursos e práticas com foco em metas, controle
exacerbado e uso de ameaças como ferramentas de gestão; 58,8% pontuaram a
presença intensa de relações competitivas, com exclusão de funcionários na
tomada de decisões, distribuição injusta e disputas estimuladas pela chefia; e
88,7% a presença intensa de relações produtivistas que geram pressão sobre a
vigilância de resultados e causam, no trabalhador, sentimento de insuficiência
para a realização de tarefas.
Além dessas importantes questões para os bancários, o Comando ainda
colocou em mesa, que a cláusula da Convenção que trata sobre o direito à
desconexão seja respeitada, pontuando que o trabalhador não pode estar 24h à
disposição dos bancos. Sobre esses temas, os bancos se comprometeram trazer
estudos e propostas para dialogar e solucionar as questões.
As reivindicações dos trabalhadores sobre o tema se concentraram em quatro
eixos, e que envolvem os artigos que vão de 75 até o 104 da minuta de
reivindicações, que a categoria entregou aos bancos no começo da campanha
nacional:
– Definição de metas e a política de gestão na aplicação das metas, para que
não sejam conduzidas de forma abusiva e que a elaboração dos programas conte
com a participação dos trabalhadores.
– Combate ao assédio moral. Os trabalhadores registraram que os
acontecimentos desse tipo de violência estão atrelados ao primeiro ponto, por
conta da pressão de gestores para que as equipes alcancem as metas. O comando
registrou também a importância de os bancos cumprirem a cláusula 61, conquista
dos trabalhadores na CCT e que prevê o combate ao assédio moral.
– Fluxo humanizado para o atendimento de trabalhadores e
trabalhadoras que, em decorrência de doenças, precisam acionar o INSS para
afastamento.
– Direito à desconexão. Os trabalhadores também reivindicaram o
cumprimento de cláusula que assegura o direito de não terem que participar de
reuniões e de não receberem qualquer tipo de mensagem de trabalho após o
horário laboral.