Senado debate adoecimento relacionado ao trabalho nos bancos

A pressão por resultados, muitas vezes por meio da prática de assédio nos bancos, é uma das razões que levam os bancários a desenvolverem problemas relacionados à saúde mental. A gravidade da situação, considerando que a categoria representa apenas 1% dos trabalhadores com emprego formal e 24% dos afastamentos por doenças mentais, foi tema da audiência pública “As condições insalubres dos trabalhadores do setor bancário”, na Comissão de Direitos Humanos (CDH), nesta quinta-feira (26). 
O debate contou com as contribuições de profissionais da área de saúde, representantes do Ministério da Saúde, Ministério Público do Trabalho, Contraf-CUT, Fenae, Fetrafi-NE e sindicatos de todo o país. As dirigentes de Pernambuco, Sandra Trajano e Bethânia Montarroyos, participaram da agenda em Brasília (DF).
“Está comprovada a relação entre o ambiente de trabalho insalubre nos bancos e o adoecimento da categoria. Temos consultas nacionais que evidenciam o aumento do uso de medicações nos bancos, a piora do clima organizacional no sistema financeiro, a cobrança de metas e o assédio. Mas, a Fenaban, representada por Adauto Duarte, assumiu uma postura negacionista, desqualificando todos os estudos sobre o tema. Isso reforça que temos um desafio grande para avançarmos na discussão sobre metas de forma geral, para todos os bancos”, avalia a secretária de comunicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco e dirigente da Fetrafi-NE, Sandra Trajano.
Adauto Duarte também pôs em dúvida os “instrumentos usados” para determinar uma doença como ocupacional e disse que, nas ações de afastamento de bancários, o chamado “nexo causal”, previsto pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), não é um instrumento seguro.
A presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, destacou as mudanças no perfil do adoecimento bancário, que deixou de ser exclusivamente físico e passou a ser mental, em razão das transformações na forma de gestão por resultados com metas inatingíveis. “Os afastamentos acidentários e os previdenciários são em grande número por doença mental e é impossível que seja mera coincidência que a categoria se afaste por esta razão. Não dá para culpar o mundo moderno, como ouvimos reiteradamente na mesa de negociação, porque a incidência na categoria é muito maior”, afirmou Juvandia.
De acordo com os dados apresentados, nos últimos 5 anos, o número de afastamentos nos bancos aumentou 26,2%, enquanto no geral a variação foi de 15,4%. Ou seja, entre os bancários, a variação foi 1,7 vezes maior do que a média dos outros setores. 
A procuradora do trabalho, Cirlene Luiza Zimmermann disse haver discriminação em relação aos profissionais que pedem afastamento do trabalho em virtude de doenças emocionais. Segundo a debatedora, os bancos estão no topo da subnotificação de casos, tanto de lesões musculares por movimentos repetidos pelos trabalhadores quanto de problemas psicológicos dos funcionários. 
Essa situação foi confirmada pela Coordenadora-geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Luciene de Aguiar Dias, que apontou o alto índice de subnotificações de casos de doenças mentais entre os bancários no Brasil. Ela informou que, mesmo com a subnotificação, o número de trabalhadores afetados com doenças no setor bancário é alto: há 70,3 doentes a cada 100 mil empregados. 
Entre os anos 2007 a 2022, foram registrados 5.102.245 de vínculos ativos de trabalhadores de serviços bancários na Relação Anual de Informações Sociais (Rais). E completou que, no mesmo período, foram notificados 4.120 novos casos de doenças e agravos relacionados ao trabalho entre esses profissionais ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Desse total, 45,1% correspondem a acidentes de trabalho, seguidos de casos de Lesão por Esforço Repetitivo (33,9%) e transtorno mental relacionado ao trabalho (17,4%). 
A proposta apresentada pelo Diretor de Relações Institucionais, Trabalhistas e Sindicais da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), Adauto Duarte, foi criação de um grupo de trabalho a partir da próxima semana, com duração de 100 dias, que negociará soluções para os questões elencadas na audiência pública.

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