
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DO SINDICATO DOS BANCÁRIOS DE PERNAMBUCO, FABIANO MOURA
1. Como foi o processo de negociação da Campanha Nacional dos Bancários 2022, considerando o cenário de instabilidade política e econômica do período?
O maior desafio do Comando Nacional e da categoria bancária era concluir a campanha salarial sem perdas para os bancários e as bancárias, dado o cenário de retrocesso estabelecido no País. Felizmente, mais uma vez mostramos força e unidade nacional e conseguimos, não apenas manter os nossos direitos e conquistas, como também ampliar as cláusulas da nossa Convenção Coletiva de Trabalho, além de conquistarmos avanços nas questões econômicas. Foi preciso muita habilidade, paciência e estratégia para conduzir a campanha nacional unificada, uma vez que a conjuntura não favorecia a classe trabalhadora, e os banqueiros e o governo sinalizavam o tempo todo para a retirada de direitos da nossa categoria.
2. Qual é a avaliação que você faz, hoje, sobre os resultados deste Acordo Bianual (2022-2024)?
O acordo bianual, na minha avaliação, foi acertadíssimo, principalmente porque durante o governo Bolsonaro a classe trabalhadora não teve um minuto de trégua, a pressão era enorme. Ataques às organizações sindicais, retirada de direitos e ameaças de privatizações no setor público. O acordo bianual, único no país, deu importante fôlego à nossa organização de classe. Temos, além da luta por melhores salários, questões que estão na agenda anual do Ramo Financeiro, como a pauta da saúde, da batalha contra as metas abusivas, da segurança, da igualdade de oportunidade, das condições de trabalho, os novos desafios impostos pelas mudanças no mundo do trabalho, entre outros. Todos esses temas fazem parte das questões gerais e estão sendo discutidos nas mesas específicas de cada banco. Na difícil queda de braço entre banqueiros e bancários, totalmente desfavorável à categoria, nas últimas campanhas, o acordo de dois anos foi, sem dúvida, um importante instrumento para nossa organização de classe.
3. Com as questões econômicas definidas, quais são os desafios e as prioridades atuais da categoria?
Posso dizer, sem medo de errar, diante do que temos dialogado com a nossa base através das caravanas, reuniões com os delegados sindicais e visitas frequentes que fazemos nos locais de trabalho, que o problema da saúde é o que mais aflige hoje nossa categoria. A pauta da saúde, principalmente no que se refere às questões emocionais, é uma demanda geral do conjunto da classe trabalhadora. Infelizmente, dados dão conta de que os bancários e as bancárias lideram o ranking do adoecimento mental no país. As mudanças nas relações de trabalho, o processo tecnológico e a falta de compromisso dos bancos em atuar como setor de serviço estão direcionando a atividade bancária com foco nas áreas comerciais. Isso, além de descaracterizar o setor bancário como setor de serviço, impõe aos trabalhadores um ritmo alucinante, com práticas de metas inatingíveis, pressões e assédios cada vez mais inaceitáveis. Alia-se a isso tudo a redução de postos de trabalho no setor privado e a descaracterização dos bancos públicos como instrumentos de desenvolvimento social, colocando-os para atuar na lógica do mercado financeiro privado. Mudar esta realidade, sem dúvida, é o nosso maior desafio.
4. Além das pautas específicas da categoria, que outras lutas o Sindicato tem travado na macro política?
O movimento sindical bancário é exemplo de luta e organização para os demais trabalhadores do país. Nossa luta é diária e permanente, pois vivemos regidos pelo capitalismo improdutivo e concentrador de riquezas, que produz miséria, fome e morte pelo mundo afora. Precisamos ficar atentos e organizados para que nossas conquistas não sejam atacadas.Nossa pauta corporativa só terá solidez se nós, trabalhadores e trabalhadoras, compreendermos a importância de nos juntarmos aos demais trabalhadores e movimentos sociais no sentido de mudar a realidade existente. Por isso, é necessário engajamento nas pautas sociais de igualdade de gênero, de combate ao racismo e de combate à homofobia. Lutar por uma economia sustentável que não agrida o meio ambiente, por uma educação libertadora para que não sejamos massa de manobra dos oportunistas de plantão. E, principalmente, lutar sem tréguas por justiça social. Para que todos tenham direitos iguais, reduzindo dessa forma as injustiças sociais no Brasil, na América Latina e no mundo.
5. Como os bancários e as bancárias podem contribuir para fortalecer essas lutas?
Por sermos uma categoria organizada e bem estruturada nacionalmente, nossa responsabilidade aumenta. Em primeiro lugar, devemos ser exemplos não apenas de conquistas, mas de organização e participação. É preciso fazer o dever de casa, fortalecer nossas entidades sindicais, aumentando o índice de sindicalização e de participação dos espaços de decisão. É necessário compreender que a luta é travada em várias frentes e que cada um tem importante papel nesse cenário. É necessário fortalecer a democracia; a participação social em todos os espaços, sindicais e sociais. É preciso o engajamento efetivo nos processos eleitorais para mudar a correlação de forças no cenário nacional, hoje esta balança pende, de forma absurda, para o lado das elites.
6. Quais são as perspectivas para a próxima Campanha Nacional?
Estamos sob uma nova orientação política no país, no entanto as dificuldades continuam enormes. Ano que vem teremos uma campanha salarial sob uma realidade bastante diferente da que tivemos em 2022. As mudanças no ramo financeiro estão a galope, até lá, na próxima campanha salarial, os desafios serão maiores e precisaremos estar atentos, organizados e preparados para este novo momento. Não podemos ceder às pressões dos banqueiros, que sempre querem tirar nossos direitos, nem baixar a guarda diante aqueles que não desistem em desmontar os bancos públicos. Por isso, sigamos firmes, unidos e fortes pelo papel social dos bancos públicos, contra as demissões no setor privado, contra as metas abusivas e o adoecimento da nossa categoria. Como dizia o slogan da campanha de 2016, “só a luta nos garante”.