O HSBC Brasil teve
prejuízo líquido de R$ 549,1 milhões em 2014, segundo o balanço
divulgado pelo banco inglês na última sexta-feira 20. Foi uma forte
queda em relação ao resultado de 2013, quando teve lucro líquido
de R$ 411,4 milhões.
Mesmo com esse resultado já projetado
no primeiro semestre, os bancários foram à luta na Campanha
Nacional 2014 e, com a força da greve, arrancaram uma participação
nos resultados de R$ 3 mil para cada funcionário. No entanto, existe
mais de R$ 150 milhões de diferença entre o valor registrado no
balanço – R$ 214 milhões – e o correspondente ao pagamento da
conquista dos bancários, que totaliza apenas R$ 60 milhões.
Segundo
Alan Patrício, o diretor do Sindicato e funcionário do HSBC, o
balanço do banco não explica onde foi parar esse dinheiro. “Cadê
esses R$ 150 milhões? Quem recebeu esse valor? A diretoria do banco?
O HSBC não informa aos sindicatos os valores distribuídos e quem
foi contemplado. A falta de transparência do banco é tão grande
que seu balanço é uma verdadeira caixa preta”, diz Alan, que
também é secretário de Assuntos Jurídicos da
Contraf-CUT.
Bancarização da Losango gerou empregos – O
HSBC aumentou o quadro de funcionários em 578 postos de trabalho em
relação a dezembro de 2013. Esse aumento deve-se à inclusão dos
funcionários da empresa Losango, que se tornaram bancários (leia
mais).
As despesas de pessoal cresceram 21,3%. A incorporação
da Losango foi apenas um fator para o crescimento da folha de
pagamento. O banco também não explicou quais foram as movimentações
internas que impactaram tanto a elevação dessas despesas.
O
número total de empregados do banco no país em dezembro de 2014 foi
de 20.165 trabalhadores. Já o número de agências do HSBC no Brasil
foi reduzido em 11 unidades no ano passado, totalizando 853 em
dezembro.
Estratégia questionável e mais escândalos –
“Nesses quase 20 anos que o HSBC está no Brasil, o banco
sempre apresentou muitas dificuldades em ajustar e definir sua
política de mercado, com problemas de atuação no varejo pela
concorrência com os bancos nacionais. Com mudanças constantes, os
seus resultados nunca foram expressivos e sempre questionados pelo
movimento sindical, ora por conta das regras contábeis utilizadas
(ora brasileiras, ora inglesas), ora por conta dos altíssimos
provisionamentos. Mas eram até então positivos”, avalia Miguel
Pereira, secretário de Organização da Contraf-CUT.
Nos
últimos três anos, coincidentemente com uma série de denúncias
internacionais que o ligavam a operações irregulares em diversos
países do mundo, principalmente nos EUA, Inglaterra, México e
Argentina, com a imposição de multas bilionárias por esses países,
o banco iniciou um processo de reestruturação mundial, com a
demissão de milhares de trabalhadores e saída de diversos países
onde atuava. “E a partir dessas iniciativas os resultados no
Brasil só vêm piorando. Não sabemos oficialmente se parte desses
prejuízos globais estão sendo repassados a todas as filiais
mundiais e por isso os resultados vêm caindo no Brasil”,
acrescenta Miguel.
Para o dirigente sindical, é difícil
entender porque no Brasil, “paraíso dos banqueiros e com a
maior taxa de juros do planeta”, um dos maiores bancos do mundo
apresentou em 2014 prejuízos de quase R$ 1,5 bilhão e, caso não
fosse a reversão dos créditos tributários IR, seria na ordem de R$
1 bilhão.
Miguel teme que a situação do banco possa se
agravar com seu envolvimento em mais um escândalo de grandes
proporções, como as denúncias do Swissleaks, como ficou conhecido
o caso de lavagem de dinheiro por sua filial na Suíça, com mais de
8 mil clientes brasileiros na lista. As denúncias estão sendo
investigadas pela Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério da
Justiça e serão apuradas também por uma CPI já aberta no
Senado.
“Isso só atinge negativamente a marca do HSBC.
Juntando-se as dificuldades estruturais que o banco já apresentava
no Brasil, como a falta de funcionários nas agências, assédio
moral para cumprimento de metas abusivas, às dificuldades
concorrenciais e de mercado, os trabalhadores agora ainda têm que
enfrentar a desconfiança da maioria de clientes em operar com o
banco no Brasil, dado o tamanho das denúncias”, aponta o
diretor da Contraf-CUT.
“Esperamos que as autoridades
monetárias no Brasil, particularmente o BC, dessa vez ajudem nos
processos de apuração das irregularidades, e que a mídia nacional,
tão zelosa em manter a moral e os bons costumes, não boicote mais
uma vez essas apurações por estarem envolvidos grandes nomes da
política, do mundo empresarial e financeiro, donos de veículos de
comunicação etc. Lavagem de dinheiro, evasão fiscal e caixa 2 são
crimes igualmente para todos”, enfatiza Miguel.
“Para
o movimento sindical bancário, o desafio é defender e garantir o
emprego dos mais de 21 mil funcionários do HSBC e, ao mesmo tempo
atuar e apoiar para que toda a verdade sobre as irregularidades sejam
apuradas e os verdadeiros responsáveis sejam punidos e que de novo
os funcionários brasileiros não paguem a conta ou sirvam de bode
expiatório para atos reprováveis praticados pela alta cúpula do
banco”, conclui o dirigente da Contraf-CUT.