A cidade do Recife foi surpreendida
nesta quarta, 21, à noite com o início das obras de demolição dos
armazéns no Cais José Estelita. Assim que o fato se espalhou na
internet, dezenas de pessoas se mobilizaram para ocupar o local. A
intenção da construtora é erguer no local doze arranha-céus, em
um projeto conhecido como Novo Recife. O projeto é questionado pela
sociedade civil e tem, contra ele, cinco ações tramitando na
Justiça. A construtora alega estar dentro da legalidade e ter
alvará. Mas os manifestantes não tem certeza quanto à
autenticidade dos documentos apresentados. No final da tarde desta quinta, 22, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) embargou a obra.
Segundo depoimentos, a demolição se
efetuou a partir das 22 horas. Integrantes do grupo Direitos Urbanos
– DU, ao tomar conhecimento do fato, passaram a espalhar a notícia
pelas redes sociais. Uma dessas pessoas foi Maurício Bandeira, 26
anos, desenvolvedor de software. Ele relata ter sido constrangido e
ameaçado pelos seguranças quando tentou tirar fotos, por volta das
23 horas. Mesmo distante, no calçadão à beira do rio Capibaribe,
dois homens armados teriam lhe obrigado a entregar o celular e tirar
a roupa. “Devolveram meu celular, mas sem o cartão de memória.
Tudo isso aconteceu em via pública, não cheguei nem a entrar no
terreno”, afirma. Na mesma noite, há relatos de outros dois casos
de agressão a manifestantes.
Várias pessoas acamparam no local
durante a noite para marcar oposição ao projeto. Pela manhã, o
protesto ganhou novo fôlego, ainda que os seguranças proibissem que
novas pessoas entrassem no interior dos galpões, onde um grupo
estava acampado. No meio da tarde, mais pessoas entraram no local,
inclusive pessoas das comunidades próximas. Estima-se em 100 pessoas
presentes.
Para a arquiteta Cristina Gouveia,
integrante do grupo Direitos Urbanos, a legalidade da ação é
questionável. “Mesmo que esse alvará seja real, existem
irregularidades anteriores que o tornam ilegítimo”, afirma
Cristina Gouveia. Segundo Eduardo Amorim, 35 anos, jornalista do
portal Terra, as relações entre a Moura Dubeux e a prefeitura estão
tão próximas que, às vezes, fica difícil saber quem é quem. “Pra
mim o Estelita precisa ser um exemplo de resistência, pra que se
comece outra etapa da discussão urbana”, afirma.
Embora
abandonada há muito
tempo,
os
armazéns do Cais José Estelitaocupam
área privilegiada entre o Centro e
a Zona Sul. A
sociedade civil questiona os
impactos ambientais, arquitetônicos e sociais da construção de
doze
torres de apartamentos no local, e
a forma como está sendo guiada a utilização daquele espaço, sem
qualquer perspectiva de inclusão social.
O
Instituto de Arquitetos do Brasil publicou uma nota na
tarde desta quinta, 22.
O IAB reafirma que a área é estratégica do ponto de vista da
mobilidade metropolitana e da identidade recifense, “Quando
o mundo acorda para os conceitos de sustentabilidade ambiental, não
se pode desperdiçar este território estratégico e deixar de
implantar um projeto de reabilitação Integrada de áreas
degradadas, capaz de reabilitar os bairros do Cabanga, São José e
Santo Antônio,
e não apenas destinar esta área para apenais mais um empreendimento
imobiliário excludente”, diz a nota.
No final da tarde desta quinta, 22, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) embargou a obra. Há patrimônio nacional histórico no terreno e, para haver demolição, precisa autorização do Instituto. A notificação dá prazo de cinco dias para que a construtora cumpra as pendências. Enquanto isso, a edificação fica paralisada.