O oligopólio da comunicação no Brasil ganhou definitivamente um crítico engajado – e de peso não negligenciável.
O ex-presidente Lula nunca havia sido tão explícito na defesa da regulamentação do setor quanto no discurso com que abriu o 4º Encontro de Blogueir@s Progressistas e Ativistas Digitais, em São Paulo, iniciado nesta sexta (16).
No encontro, que se estende até o domingo, ele fez uma autocrítica dos tempos da presidência. Lula admitiu que hoje sua consciência sobre a regulação é muito superior “a que eu tinha ontem”.
O compromisso de recuperar o tempo perdido, porém, é contundente.
Senhores donos das corporações, a defesa da regulação fundiu-se à agenda da maior liderança política do Brasil, de uma vez por todas.
Foi o que Lula disse aos blogueiros em compassada promessa: “Daqui para frente, com quem eu falar e para quem eu falar, quando eu puder falar, essa será uma das primeiras prioridades, a regulação da Comunicação no país”.
Os dias que correm, de maciça barragem de fogo contra o governo e o PT, apenas fizeram reforçar no ex-presidente a pertinência dessa mudança.
A ausência de pluralidade no sistema brasileiro de comunicação é encarada por ele como uma das mais perigosas ameaças à vida política e à democracia. E, portanto, um dos obstáculos mais sérios ao debate necessário sobre os desafios da sociedade e de seu desenvolvimento.
“Nunca vi tanta violência” (como contra a Dilma), desabafou para provocar em seguida: “Qual é a preocupação? Que depois da Dilma esse Lula volta?”
À vontade e irônico – “cadê o choque de gestão na Cantareira?” – Lula não perde o fio da meada . E o que é central e está em jogo mais uma vez, na disputa de outubro, é o risco de se interromper os avanços “destes 11 anos que eu não temo em comparar em nenhuma área”, desafia. Ato contínuo, sapeca o bordão que promete figurar como outra estaca de suas intervenções nesta campanha:
“Gente, choque de gestão significa desemprego e cortar salários”.
Não é apenas uma provocação, mas a indicação de um divisor de águas que promete mais uma vez separar o joio do trigo nesta eleição.
Não por acaso, na mesma hora em que Lula falava aos blogueiros sujos –“deve ser por culpa da falta de água do Alckimin”– o presidenciável tucano, Aécio Neves, discursava para mil associados na Câmara Americana de Comércio (Amcham), também em São Paulo.
Aos executivos presentes, o candidato do PSDB reiterava a disposição de, se eleito, declarar “guerra total ao custo Brasil e a todas as sua variáveis”. Aquelas sabidas e advertidas por Lula.
Aécio foi aplaudido pelo seu público. Com o mesmo entusiasmo registrado há duas semanas, ao prometer o mesmo –com detalhes não divulgados– aos endinheirados clientes mais ricos do Itaú, com os quais teve uma conversa de portas fechadas, na sede do banco, na capital.
Lula não tem ilusões. Dá a entender aos blogueiros que, mesmo com a vitória em outubro, a ameaça representada pela agenda dos aécios & armínios não estará afastada. Explicita então a outra estaca ordenadora de suas prioridades na luta pelo passo seguinte do desenvolvimento brasileiro: “Sem a reforma política não conseguiremos fazer nada neste país”, adverte e convoca: “Esse Congresso não a fará; a reforma política terá que ser feita por nós, pelos partidos em uma Constituinte Exclusiva para isso!”, arremeta sob aplausos tão intensos quanto os dirigidos ao candidato conservador, em outro auditório, e por motivos opostos.
O ex-presidente está convicto de que a Copa do Mundo será um sucesso. “Quando o Brasil fez o Maracanã, para a Copa de 50”, rememora, “eles falavam a mesma coisa (que o país não estava preparado) . Naquele tempo o Brasil era um exportador agrícola de um produto só, o café”.
“Nós botamos, em Educação e Saúde (desde 2010, quando começaram as obras da Copa) R$ 825 bilhões!”, exalta-se. O valor mencionado por Lula é dez vezes superior ao aplicado nos estádios, como explica a propaganda institucional veiculada pelo governo sobre o assunto. “E o BNDES não emprestou para clubes construírem (as arenas), mas para as empresas (que vão pagar)”, emenda o ex-presidente.
Torcedor fanático, Lula diz que só tem medo de uma coisa na Copa: “De repetir o Uruguai (a derrota para a seleção adversária)”, sussurra. “Tínhamos passado pela semifinal com uma vitória de sete a um, sobre a Espanha. Estava tudo pronto para a festa da vitória, aí entramos de salto alto (contra o Uruguai) e perdemos. E sabe em quem botaram a culpa? Em um negro, o Barbosa, que tomou o gol, quando a responsabilidade era de todo o time”, resume.
“Por que não marcaram mais dois?”, cobra, incansável na convocação à luta e avisa: “Agora, só vou a Santa Cruz de la Sierra para um encontro com movimentos sociais e depois não saio mais do Brasil, até outubro”.
Como se dissesse, “me aguardem”.