A
paralisação parcial dos vigilantes de Pernambuco, que estão em
campanha salarial, foi o principal tema debatido na terceira reunião
do Grupo de Acompanhamento do Projeto-piloto de Segurança Bancária,
realizada nesta segunda-feira, dia 20, no Recife. Algumas agências
funcionaram com expediente interno, mesmo sem a presença dos
vigilantes que aderiram à paralisação. O fato foi bastante
criticado pela Contraf-CUT e pelo Sindicato.
Os representantes
dos bancos se defenderam, alegando que as agências funcionaram em
esquema de contingenciamento, tentando convencer os bancários de que
não houve movimentação de numerário. “Mas a gente sabe que
agência com expediente interno não significa que não há
numerário. Os bancos sempre dão um jeito de atender seus clientes
especiais, as empresas movimentam seus malotes e até os caixas
eletrônicos funcionam para receber depósitos. Além de descumprir a
Lei 7.102/83, que obriga as agências bancárias a funcionarem com a
presença de vigilantes armados e com coletes a prova de balas, a
abertura dessas unidades nesta segunda-feira também descumpriu o
acordo do projeto-piloto”, explica a presidenta do Sindicato,
Jaqueline Mello.
Segundo o secretário de Comunicação da
Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança
Bancária, Ademir Wiederkehr, os representantes dos bancários
exigiram da Febraban que os funcionários das agências que estavam
sem vigilantes fossem liberados do trabalho, já que a segurança
estava comprometida. “Mas a Febraban negou a reivindicação e
chegou a sugerir que a presença dos vigilantes só se justifica
quando há movimentação de numerário. Isso mostra que os bancos
estão mais preocupados com a segurança do dinheiro do que com a
vida dos bancários”, afirma Ademir.
Diante da negativa da
Febraban, a Contraf-CUT e o Sindicato se dirigiram até a Polícia
Federal, após a reunião do projeto-piloto, para denunciar o
desrespeito dos bancos com a legislação. A Polícia Federal é
responsável por aprovar o plano de segurança das agências e
fiscalizar se ele está sendo cumprido ou não. “Os bancos estão
brincando com a vida dos bancários e isso nós não vamos permitir”,
diz Jaqueline.
>> Veja o ofício protocolado na Polícia Federal pelo Sindicato e pela Contraf
Efeitos dos projeto-piloto – Pela
primeira vez, os comandos das Polícias Civil e Militar participaram
da reunião do Grupo de Acompanhamento do Projeto-piloto, uma
reivindicação da Contraf-CUT e do Sindicato. Durante o encontro, as
polícias apresentaram dados que mostram que a instalação dos itens
de segurança já começa a fazer efeito.
Segundo os dados
apresentados, o crime conhecido como “saidinha de banco” retraiu
nas três cidades onde o projeto-piloto foi implantado. No Recife, a
redução deste tipo de crime foi de 52,9% (de 314 ocorrências em
2012 para 148 em 2013). Em Olinda houve uma redução de 29,2% (de 65
para 46) e em Jaboatão a queda foi ainda maior: 64,4% (de 73 para
26).
“Isso é reflexo do projeto-piloto. A instalação dos
biombos em frente aos caixas tem garantido a privacidade dos clientes
nas transações, assim como a colocação das câmeras nas áreas
internas e externas das agências tem inibido a ação dos bandidos”,
explica Ademir.
O número de roubos a banco também caiu de
2012 para 2013 (de 29 para 24 ocorrências, uma redução de 17,2%).
“Mas esses números se referem a Pernambuco. Nos próximos
encontros, a polícia vai nos trazer dados mais detalhados para
verificarmos a situação de Recife, Olinda e Jaboatão, após a
instalação do projeto-piloto”, explica Jaqueline.
Boletins
de Ocorrências – Durante a reunião, os comandos das Polícias
Civil e Militar relataram que os bancos têm deixado de registrar
Boletins de Ocorrências. Também há casos em que as instituições
registram os BOs com mais de vinte dias de atraso, o que dificulta o
trabalho policial.
Ademir destaca que, em 2010, os bancários
conseguiram incluir na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) a
obrigatoriedade de os bancos registrarem Boletim de Ocorrência.
“Isso mostra que os bancos estão desrespeitando a nossa
Convenção,o que é inaceitável. Reiteramos a nossa reivindicação
de acesso às cópias dos BOs como forma de fiscalizar o cumprimento
da CCT. Mas os bancos alegaram que os dados são confidenciais, por
questões de segurança. A polícia, porém, permitiu que a gente
tenha acesso a algumas informações dos BOs, o que já é um
avanço”, explica.
Outra reclamação da polícia aos bancos
foi sobre a péssima qualidade das imagens e do posicionamento
inadequado de parte das câmeras de segurança, o que têm
dificultado o reconhecimento dos criminosos. A polícia citou um caso
em que o próprio vigilante não se reconheceu nas imagens. Segundo o
diretor do Sindicato, João Rufino, o projeto-piloto garante a
instalação de câmeras nas áreas externas e internas das agências.
“Embora o acordo não fale sobre a qualidade das imagens, é óbvio
que elas precisam ser boas para que os bandidos possam ser
identificados. A polícia também destacou a importância do
monitoramento dessas câmeras ser feito em tempo real, o que é uma
antiga reivindicação dos sindicatos”, explica Rufino, que
representa o Nordeste no Coletivo Nacional de Segurança
Bancária.
Além de Jaqueline, Ademir e Rufino, representaram
os bancários na reunião desta segunda-feira o secretário-geral do
Sindicato, Fabiano Félix, e a secretária de Finanças, Suzineide
Rodrigues. Nova reunião do Grupo de Acompanhamento do Projeto-piloto
será realizada na segunda quinzena de fevereiro, em São Paulo. O
encontro será ampliado com a participação da coordenação do
Comando Nacional dos Bancários e do Coletivo Nacional de Segurança
Bancária.
Reunião com as agências – Nesta terça e
quarta-feira, dias 21 e 22, o Grupo de Acompanhamento do
Projeto-piloto realiza reuniões com representantes das 209 agências
de Recife, Olinda e Jaboatão. O objetivo do encontro, proposto pelo
Sindicato e Contraf-CUT, é informar aos gestores sobre o andamento
do projeto-piloto e envolvê-los na luta por mais segurança nos
bancos. Serão quatro reuniões, uma para cada grupo de cerca de 50
gerentes, com duas horas de duração.