A greve nacional dos bancários, que completou 19 dias nesta segunda-feira, começa a afetar a atividade econômica. Apesar de os caixas automáticos darem conta de boa parte das operações bancárias, o efeito da paralisação já apareceu no crédito ao consumidor e, no caso das empresas, nas linhas de capital de giro e na renegociação de títulos. Normalmente, essas operações são feitas dentro das agências bancárias.
Em setembro, a procura por crédito pelo consumidor caiu 9,8% em relação a agosto, segundo o Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito. Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, diz que não há uma série longa desse indicador para saber se a queda do mês passado superou o comportamento normal da procura por crédito de agosto para setembro. De toda forma, ele observa que, quando se leva em conta a procura por crédito pela média diária, que é uma saída para atenuar o efeito da sazonalidade, houve uma queda da procura por crédito de 5,5% em setembro na comparação com agosto. “Foi a terceira retração consecutiva”, diz Rabi. Em julho, a média diária de demanda por crédito tinha caído 5,5% em relação a junho e em agosto o recuo havia sido de 1,2% ante julho.
“Parte da queda na demanda por crédito ocorreu por causa da greve”, diz Rabi. Mas ele pondera que esse não foi o único fator que afetou o resultado. A perda de confiança do consumidor e a menor intenção de comprar bens duráveis, geralmente adquiridos a prazo, também contribuíram para isso.
Rabi diz que as operações mais afetadas foram as ligadas à compra de veículos, imóveis e crédito consignado, linhas que não são automáticas e que envolvem análise de crédito. Para o economista, se a greve continuar nos próximos dias, poderá ter reflexos nas vendas do Dia da Criança.
Varejo – Nas contas da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a manutenção da greve até o quinto dia útil do mês, que foi ontem, pode reduzir as vendas do varejo em até 30%. Já para o economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Fábio Pina, o efeito da greve nas vendas é pequeno.
“O impacto maior é a chateação. É que as pessoas sacam dinheiro no caixa eletrônico e usam cartão de crédito e de débito”, diz Pina. O risco de desabastecimento dos caixas eletrônicos por causa da greve dos bancários está descartado por ora, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Carro-Forte, Guarda, Transporte de Valores, Escolta Armada e seus Anexos e Afins do Estado de São Paulo. “Na região de São Paulo e Campinas, não estamos tendo dificuldade de abastecimento”, diz o presidente do sindicato, João Passos. Mas, segundo a Contraf-CUT, a greve pode trazer uma precarização nos serviços. Empresas – Na opinião do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Rogério Amato, não é possível avaliar se a greve teve reflexos nas vendas do varejo. Ele lembra que boa parte das compras são quitadas com cartão, dinheiro e cheque. “A complicação ocorre dentro do balcão”, observa o executivo, fazendo referência aos problemas enfrentados pelas empresas para obter ou renegociar financiamentos. Essa também é a avaliação de Fábio Pina, da Fecomércio-SP. Para ele, o segmento mais afetado é o empresarial.