Bancos apelam para a truculência na tentativa de enfraquecer a greve em Pernambuco

A
greve dos bancários nem bem completou uma semana, mas os bancos que
atuam em Pernambuco já lançaram mão de diversos expedientes
antidemocráticos e ilegais para tentar enfraquecer o movimento. Além
da pressão e das ameaças tão comuns no período de greve, os
bancos também têm montado centrais clandestinas de trabalho, já
apelaram para a Justiça e até estão promovendo “pesquisas”
para verificar o mínimo que os bancários aceitariam num acordo para
acabar com a greve.

Para a presidenta do Sindicato, Jaqueline
Mello, essas atitudes dos bancos só mostram a verdadeira face das
instituições financeiras que, em vez de retomar as negociações
com os bancários, paradas há 20 dias, preferem usar a truculência.
“Não vamos nos intimidar com nenhum tipo de ameaça. A greve está
muito forte em Pernambuco e só há um jeito dos bancos acabarem com
ela: retomando as
negociações e apresentando uma proposta decente que atenda nossas
reivindicações”, ressalta Jaqueline.

>> Supremo Tribunal Federal decide que demissão por ato de gestão é ilegal

Apelo
à Justiça –
Em vez
de tentar construir um acordo com os sindicatos, os bancos preferiram
ingressar na Justiça com os chamados interditos proibitórios para
ameaçar os grevistas e
tentar confundir os bancários. “Para começo de conversa, os
bancos estão usando este instrumento jurídico de forma
completamente deturpada”, afirma Jaqueline.

O interdito
proibitório é uminstrumento
jurídico previsto no Código Civil que serve para retomar a posse de
uma propriedade ocupada. “O interdito, geralmente, é utilizado em
disputas de terra. Setores da própria Justiça reconhecem que ele
não pode ser usado numa greve legítima dos trabalhadores. Mesmo que
haja uma manifestação em frente de uma agência, o objetivo dos
bancários nunca é tomar posse da propriedade, mas sim protestar. O
Sindicato, inclusive, está respeitado totalmente a Lei de Greve
(leia mais aqui)”,
explica Jaqueline.

A presidenta do Sindicato alerta aos
bancários para não se deixarem intimidar com possíveis
interditos.
“Não é
por causa deles
que os bancários não poderão fazer greve. Esses interditos não
alteram em nada a nossa
paralisação,
só servem como mais um instrumento de pressão e para confundir e
ameaçar os bancários, num verdadeiro desrespeito à Lei de Greve”,
diz.

O
parágrafo 2º do artigo 6º da Lei diz que “é vedado às empresas
adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao
trabalho”. “Se você foi ameaçado, direta ou indiretamente, pelo
seu gestor, entre em contato com o Sindicato que nós vamos tomar as
medidas cabíveis”, explica a presidenta do Sindicato.

DataCaixa
A Caixa
Econômica Federal descobriu outro instrumento de pressão para
tentar atrapalhar a greve. Trata-se de uma “pesquisa” que o banco
está fazendo para descobrir quem está em greve e, principalmente, o
que os bancários querem para aceitar um acordo e voltar ao trabalho.
Neste caso, o objetivo é descobrir o mínimo que o banco precisa
ceder para fechar um acordo.

Segundo Jaqueline, o banco já
estava fazendo essa pesquisa em diversos lugares
do Brasil mesmo antes da greve começar. “Agora, essa tal consulta
chegou a Pernambuco. Nesta quarta-feira (25) recebemos denúncia d
e
empregados
que trabalham em Salgueiro e que estão recebendo telefonemas para
responder a pesquisa. O Sindicato repudia esta atitude d
o
banco
”,
diz Jaqueline, lembrando que a Caixa sabe muito bem o que
seus
empregados

querem. “Nossa pauta de reivindicações está com o banco desde o
final de julho. Queremos o fim do descomissionamento arbitrário,
mais contratações, isonomia de direitos, respeito à jornada de
seis horas, fim do assédio moral e reajuste salarial que garanta 5%
de aumento real, além de vários outros pontos que foram negados em
quatro rodadas de negociação”.

Centrais
clandestinas –

Já o Banco do Brasil e os bancos privados têm usado um expediente
antigo para tentar enfraquecer a paralisação. Num desrespeito ao
direito de greve, as instituições financeiras montaram centrais
clandestinas para seus empregados trabalharem. Além disso, todos os
grandes bancos privados estão com esquemas de contingenciamento para
obrigar os funcionários a furarem a greve em Pernambuco (leia mais
aqui
).

Os
bancos estão obrigando os seus funcionários a entrarem às cinco
horas da manhã no trabalho para evitar a mobilização que
geralmente se instala na porta das agências e departamentos. Muitos
gerentes estão estabelecendo metas de visitas a clientes para que os
bancários trabalhem fora de suas unidades e, assim, evitem a
mobilização e, principalmente, a participação na greve. Os
gestores, inclusive, querem que os bancários voltem para a agência
às 16h com a relação dos clientes visitados”, conta a secretária
de Finanças do Sindicato, Suzineide Rodrigues.

O Banco do
Brasil chegou a alugar um cinema desativado no Recife, para onde
transferiu cerca de 120 bancários que trabalham no CSO (Centro de
Suporte Operacional). “Estamos acompanhando de perto todos esses
casos e não vamos permitir que os bancos pressionem os bancários ou
armem esses contingenciamentos para enfraquecer a greve”, afirma
Suzineide.

Greve é um direito legal
A
greve é um direito do trabalhador, previsto na Constituição e
regulamentado pela Lei Nº 7.783/89. É garantida pelo Estado porque
é a única forma de o trabalhador exercer pressão por seus direitos
diante de uma negociação fracassada com o empregador. Em outras
palavras, o direito de greve existe para equilibrar a correlação de
forças, já que o empregador detém o poder econômico. Outro
aspecto importante da Lei de Greve é que ela proíbe ao empregador a
dispensa de trabalhadores ou a contratação de funcionários
substitutos durante a paralisação.

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